Publicado em 20 de novembro de 2023 às 09:57
Javier Milei foi eleito neste domingo (19) presidente da Argentina, país que está passando por uma de suas maiores crises econômicas em décadas. >
O político vai governar o país vizinho sob uma inflação acumulada em 12 meses que passou de 140% em outubro e precisará lidar uma sociedade profundamente polarizada - questões que parecem crônicas na Argentina.>
Desde 1983, quando o país se redemocratizou e passou a eleger novamente seus representantes, todos os líderes que passaram pelo poder precisaram lidar com tais problemas, em diferentes intensidades. >
Relembre abaixo quem governou o país desde então:>
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RAÚL ALFONSÍN (1983 - 1989)>
Símbolo da redemocratização na Argentina, o político da União Cívica Radical foi o primeiro presidente eleito após a ditadura militar (1976-1983). Embora tenha promovido avanços sociais, Alfonsín enfrentou dificuldades no âmbito econômico que levaram à sua renúncia seis meses antes do fim do mandato.>
Foi durante o seu governo que aconteceu o Julgamento das Juntas Militares, como ficou conhecido o processo que responsabilizou os líderes do período ditatorial que permitiram massivas violações aos direitos humanos na Argentina.>
Nas relações exteriores, Alfonsín assinou, ao lado de seu homólogo brasileiro, José Sarney, o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento - embrião do Mercosul. O político morreu em 31 de março de 2009, vítima de um câncer de pulmão.>
CARLOS MENEM (1989 - 1999)>
Herdeiro de um processo hiperinflacionário, Menem aprofundou a crise argentina que desembocaria no Corralito, em 2001, e deixaria marcas até os dias atuais. Durante seu primeiro mandato, o peronista cativou certa popularidade por causa de sua política de câmbio que fixou US$ 1 para 1 peso argentino.>
O segundo mandato, porém, foi marcado pelas consequências dessa política econômica, que minou o setor industrial da Argentina e não resolveu o problema da inflação a longo prazo. Presidente no cargo pelo período mais longínquo na Argentina, Menem ficou dez anos e cinco meses no poder, durante os quais desobedeceu a cartilha do movimento peronista "nacionalista e estatizante" e adotou políticas ultraliberais, como a privatização de várias empresas.>
Denúncias de corrupção no seu governo lhe renderam pelo menos três condenações, mas ele não chegou a cumpri-las por estar no cargo de senador, que ocupou até sua morte, em 2021.>
FERNANDO DE LA RÚA (1999 - 2001)>
Correligionário de Alfonsín, de la Rúa governou o país por apenas por dois anos após receber um país com imensa dívida externa, hiperinflação e uma crise social batendo à porta. À medida que o peso derretia, a população via na compra de dólares a saída para preservar seu dinheiro - a Argentina, porém, dependia justamente da entrada da moeda no país.>
Na tentativa de conter a bomba, o então presidente chegou a chamar Domingo Cavallo, ministro da Economia de seu antecessor, para assumir a pasta novamente. A escolha, porém, levou ao que ficaria conhecido como Corralito - a tentativa de conter a retirada em massa de dinheiro dos bancos por parte dos cidadãos.>
Protestos tomaram as ruas do país, e a frase "que se vayan todos" (que todos vão embora), repaginada por Milei neste ano, marcou as manifestações. Após 39 mortes e mais de 400 feridos, de la Rúa renunciou e saiu de helicóptero da Casa Rosada. Depois do episódio, ele respondeu na Justiça por acusações de corrupção, foi absolvido, e se afastou da vida pública. O político morreu em 2019, aos 81 anos.>
RAMÓN PUERTA (21 - 23 DEZ. 2001)>
A crise deu início aos 12 dias em que a Argentina teve cinco presidentes. Após a renúncia de Fernando de la Rúa, o então presidente do Senado, Ramón Puertas, era o político seguinte na linha de sucessão, já que o vice, Carlos "Chacho" Álvarez, renunciara em outubro de 2000. Ele foi empossado no dia 21 de dezembro de 2001 e ficou no poder por dois dias, durante os quais convocou a Assembleia a nomear um novo presidente.>
ADOLFO RODRÍGUEZ SAÁ (23 - 30 DEZ. 2001)>
Então governador da província de San Luis, Rodríguez Saá é eleito presidente provisório da Argentina pela Assembleia Legislativa e assume o cargo no dia 23 de dezembro de 2001. Nos sete dias em que ficou no poder, o político declarou moratória e anunciou a criação de uma nova moeda, o "argentino". O plano, porém, nunca se concretizou. Rodríguez Saá, que deveria ficar no cargo até março do ano posterior, renunciou no dia 30 de dezembro de 2001 por falta de apoio político dos peronistas.>
EDUARDO OSCAR CAMAÑO (30 DEZ. 2001 - 1 JAN. 2002)>
Após a renúncia de Rodríguez Saá, Ramón Puerta volta a assumir a Presidência brevemente, mas também abre mão do cargo. Assume, então, como presidente interino da Argentina, o presidente da Câmara, Camaño, como designa a Constituição para os casos de renúncia do presidente do Senado.>
EDUARDO ALBERTO DUHALDE (2 JAN. 2002 - 25 MAI. 2003)>
Após uma semana caótica, a Assembleia Legislativa escolhe o senador peronista Eduardo Duhalde, 60, como novo presidente do país. Ele assume o cargo no dia 2 de janeiro e fica até maio do ano seguinte.>
O advogado, que já havia ocupado o cargo de vice-presidente de Menem, abandonou o câmbio fixo que sufocava a economia argentina, "pesificou" as contas bancárias e instituiu medidas sociais para apaziguar a crise social do país. A desvalorização da moeda minou a capacidade de consumo da população, mas incentivou a exportação do combalido setor industrial argentino e deu fôlego à economia.>
Em 2002, a Argentina viu seu PIB cair 10,9% - a maior queda em cem anos. No ano seguinte, porém, a economia argentina cresceu 8,8%, porcentagem que não fui suficiente para recuperar as sucessivas quedas dos anos anteriores, mas que representava um sinal de melhora.>
NÉSTOR KIRCHNER (2003 - 2007)>
Correligionário de Duhalde, o peronista foi apoiado pelo então presidente nas eleições de 2003 e ganhou com a ajuda da relativa estabilidade que seu antecessor conseguiu alcançar na Argentina.>
No cargo, Kirchner aumentou o controle do Estado sobre a economia, manteve um discurso nacionalista, com críticas abertas a rivais políticos, e um estilo centralizador que conseguiu renegociar a dívida pública e dar continuidade ao ciclo de recuperação iniciado por Duhalde.>
O crescimento do PIB visto em 2003, por exemplo, manteve-se ao longo do seu mandato, variando entre 8% e 9% - taxas impulsionadas pela estabilidade e pelo boom de commodities da época, que também beneficiou o Brasil. Kirchner morreu após uma parada cardíaca em 2010, época em que havia anunciado a intenção de concorrer novamente nas eleições de 2011.>
CRISTINA KIRCHNER (2007 - 2015)>
Após o governo de Néstor, a eleição de Cristina, em 2007, e sua reeleição, em 2011, consolidou o que ficou conhecido como a "era Kirchner" na Argentina. Na área econômica, seu governo é lembrado pela estatização de empresas e por iniciativas como a "Asignación Universal por Hijo" (ajuda universal por filho), programa de redistribuição de renda semelhante ao Bolsa Família brasileiro.>
Seu governo também ficou conhecido por entrar em confronto com a imprensa do país. Em 2010, por exemplo, Cristina acusou os dois principais jornais argentinos de "conspirar ilegalmente com ditadores" para assumir o controle da principal fabricante de papel jornal do país na década de 1980 - o que foi visto pelas empresas como uma tentativa de controlar um material essencial para garantir a liberdade de expressão na Argentina.>
Ao fim do seu segundo mandato, em 2015, uma inflação em torno de 30% e a estagnação das vagas de empregos formais abriram as portas para a oposição triunfar.>
MAURICIO MACRI (2015 - 2019)>
Bilionário chefe de uma poderosa holding familiar e ex-presidente do popular clube de futebol Boca Juniors, Macri derrotou o peronismo e chegou ao poder em 2015, colocando fim ao ciclo de 12 anos da família Kirchner na Casa Rosada. Sua posse não teve a presença da antecessora.>
A promessa do político e empresário de direita era fazer um programa de governo mais próximo do mercado financeiro e menos intervencionista. Macri, porém, teve dificuldade para dar estabilidade à Argentina e, em 2019, declarou moratória, ou seja, adiou o prazo de pagamento de parte de sua dívida de curto prazo.>
Assim, em 2019, ele perdeu a eleição para o peronista Alberto Fernández, que recebeu o país com o índice de inflação mais alto em três décadas, um acordo com o Fundo Monetário Internacional para negociar e 35,4% da população abaixo da linha de pobreza.>
ALBERTO FERNÁNDEZ (2019 - ATUALMENTE)>
Com a vitória de Fernández, o kirchnerismo voltou ao poder após quatro anos por meio da Vice-Presidência, cargo ocupado por Cristina. O atual presidente argentino assumiu a Presidência reforçando o vínculo que teve com Néstor, já que fez parte da equipe que assumiu a Presidência após a hecatombe política e econômica de 2001.>
A proximidade com Cristina, por outro lado, diminuiu ao longo de seu conturbado governo. Em 2021, o presidente recebeu um pedido de renúncia de cinco ministros e, no dia seguinte, viu sua vice-presidente publicar uma carta nas redes sociais repleta de críticas à gestão.>
O drama crônico da inflação na Argentina não deu trégua em seu mandato. No fim de outubro, a inflação acumulada durante 2023 ficou em 120%, acima do registrado em todo o ano passado. Em 2022, o acumulado da alta nos preços fechou em 94,8%.fo>
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