Publicado em 12 de maio de 2025 às 19:39
A partir de terça-feira (13/5), os aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) que podem ter sido prejudicados pelos descontos associativos indevidos, serão informados sobre os descontos (valores e entidades) e deverão indicar se foram ou não autorizados.>
A informação será ser prestada pelo aplicativo Meu INSS, que enviará uma notificação. O órgão do governo ressalta para o risco de golpe: nenhum contato será feito via telefone ou mensagem.>
A partir das respostas, o INSS tentará reaver, junto às entidades, valores descontados indevidamente, inclusive judicialmente. Quem constatar descontos indevidos poderá solicitar o ressarcimento a partir de quarta-feira (14/5) pelo próprio aplicativo.>
Na semana passada, os beneficiários que nunca tiveram desconto associativo em seu histórico previdenciário receberam uma mensagem pelo aplicativo informando que nada foi debitado indevidamente. >
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A medida vem na esteira de uma investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) que apontou descontos fraudulentos na aposentadoria e pensões do INSS.>
Os recursos seriam destinados a associações que, segundo as investigações, teriam fraudado assinaturas de aposentados e pensionistas para realizar descontos nos vencimentos dos beneficiários.>
As suspeitas levaram à queda do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), no último dia 2, e do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, que pediu demissão no fim de abril após ser alvo de uma operação da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU).>
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Stefanutto, que também é filiado ao PDT, foi indicado para o cargo em julho de 2023 pelo agora ex-ministro Carlos Lupi. Antes disso, atuava como diretor de Orçamento, Finanças e Logística da autarquia.>
O ex-deputado Wonley Queiroz (PDT), até então secretário-executivo do Ministério da Previdência, foi nomeado no lugar de Lupi. >
Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se debruçado sobre o discurso de que os desvios começaram ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL), uma resposta à oposição que tenta colar na imagem do governo o grande "escândalo de corrupção". >
O governo ainda não detalhou quando o ressarcimento será feito aos prejudicados. >
O INSS afirma que, depois que o beneficiário prejudicado fizer a solicitação de ressarcimento, a informação será encaminhada à entidade responsável pelo desconto. >
A partir de então, a entidade terá 15 dias úteis para apresentar a documentação que comprove a autorização do beneficiário. Caso não sejam apresentados os documentos, a própria entidade deverá realizar o ressarcimento ao INSS. >
Somente após o recebimento dos valores devidos, o INSS depositará o dinheiro diretamente na conta bancária vinculada ao benefício.>
Se a associação comprovar a autorização, o beneficiário será informado e poderá, se desejar, apresentar contestação.>
Caso a entidade não faça o ressarcimento, nem comprove a regularidade dos descontos, o caso será encaminhado à Advocacia Geral da União (AGU) para as medidas legais de cobrança e ressarcimento.>
Os prazos para esses trâmites não foram apresentados pelo INSS.>
Na semana passada, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou um pedido de bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens de doze entidades associativas investigadas, com objetivo de garantir recursos para o ressarcimento. >
Segundo o INSS, o valor representa o prejuízo mínimo estimado até o momento causado por essas associações. O governo não sabe ainda qual foi o valor total desviado, mas as investigações apontam descontos indevidos, entre os anos de 2019 e 2024, que podem chegar à ordem de R$ 6,3 bilhões. >
A expectativa é que, após esse processo de notificação dos possíveis prejudicados, o valor total desviado poderá ser calculado. >
Apesar de a CGU ter destacado o valor descontado entre 2019 e 2024, ainda não está claro quando os desvios começaram.>
Investigações passadas do Ministério Público já apuraram descontos indevidos ocorridos em 2018 e 2019, ainda nos governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL), mas em escala menor do que a observada na fraude revelada agora.>
Tanto o valor total desviado, quanto o período em que os desvios ocorreram, viraram alvo de uma disputa de narrativa entre o governo e oposição. O acaso tem sido usado pela bancada bolsonarista para acusar Lula e seu governo de corrupção.>
Na semana passada, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou em suas redes sociais um vídeo em que ele fala no "maior escândalo de corrupção da história do Brasil", e em "desvios bilionários".>
"E, é claro, vão espalhar a narrativa de que tudo começou no governo anterior. E já percebeu que, no governo passado, tudo era culpa só do presidente, e, neste governo, nada é culpa do presidente?", disse o deputado.>
Até esta segunda, somente no Instagram, 5,3 milhões de pessoas já tinham assistido ao vídeo, que repete a estética de uma outra publicação do deputado, de janeiro deste ano. Naquele momento, Nikolas Ferreira publicou um vídeo levantando a possibilidade de que o PIX poderia vir a ser taxado pelo governo.>
O vídeo do deputado bolsonarista foi um dos propulsores de uma crise no governo Lula, que acabou forçando o governo a revogar uma portaria que ampliava o escopo da fiscalização da Receita Federal sobre transações financeiras, duas semanas depois que ela entrou em vigor.>
O presidente Lula demorou uma semana para se manifestar sobre o assunto.>
A Operação Sem Desconto, que apura corrupção ativa e passiva, organização criminosa, falsificação de documentos, violação de sigilo funcional e lavagem de dinheiro, foi deflagrada no dia 23 de abril.>
Lula só falou sobre o assunto em um pronunciamento em rede nacional devido ao Dia do Trabalho, em 1º de maio. >
Ele aproveitou a oportunidade para dizer que seu governo, por meio da Controladoria-Geral da União e da PF, "desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019".>
Desde então, a postura do governo tem sido a de dizer que os desvios são anteriores ao mandato de Lula.>
"Nós resolvemos desmontar uma quadrilha que foi criada em 2019. É importante saber que uma quadrilha que foi criada em 2019. E vocês sabem quem governava o Brasil em 2019", disse Lula, no sábado (10/5), ao ser perguntado por jornalistas, durante sua viagem à Rússia, sobre a demora no processo de ressarcimento dos prejudicados. >
"O crime foi um assalto a aposentados e pensionistas nesse País. O que eu acho mais grave: eles não foram no cofre do INSS, eles foram no bolso do povo. Isso nos deixa mais revoltados e por isso vamos a fundo para saber quem é quem nesse jogo e se tinha alguém do governo passado envolvido nisso. Não tenho pressa", afirmou o presidente.>
Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Secretaria das Relações Institucionais, tem discursado na mesma linha. >
"Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS. A maior parte das associações investigadas passou a atuar no governo Bolsonaro", escreveu ela, na semana passada, em sua conta no X. >
De fato, os indícios de fraude foram identificados pela CGU devido ao forte aumento de cobranças e reclamações, que começaram a subir em 2022. No entanto, saltaram fortemente a partir de 2023, no primeiro ano do governo Lula. >
Segundo um relatório da controladoria produzido em setembro de 2024, mas divulgado somente agora, o valor anual médio descontado pelas associações entre 2016 e 2021 ficou em R$ 523,8 milhões, sendo o maior valor desse período registrado em 2018 (R$ 617 milhões).>
Em 2022, último ano do governo Bolsonaro, houve uma primeira alta mais expressiva, quando os descontos somaram R$ 706,2 milhões, aumento de 32% ante 2021 (R$ 536,3 milhões).>
Depois disso, o crescimento se acelerou no governo Lula, atingindo R$ 1,3 bilhão em 2023, aumento de 84%.>
O relatório projetava que em 2024 os descontos chegariam a R$ 2,6 bilhões, dobrando em um ano.>
O relatório da CGU acusa o INSS de não tomar medidas eficazes para interromper os descontos ilegais.>
Uma semana após deflagrada a operação Sem Desconto, deputados da oposição protocolaram na Câmara pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o esquema. >
Embora dos deputados tenham conseguido reunir o número necessário de assinaturas para a abertura da CPI, a sua instalação depende do presidente da Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). >
Motta, no entanto, não se comprometeu com isso, alegando que já havia uma fila de pedidos para instalações de CPIs.>
A oposição então se articulou para pedir a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), algo que requer a assinatura de ao menos 1/3 dos membros de cada Casa - Câmara e Senado. A expectativa era de protocolar o pedido ainda nesta segunda-feira (12/5).>
No entanto, a abertura de uma CPMI depende do presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Até o fechamento desta reportagem, a comissão não havia sido instalada. >
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