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Garimpeiro brasileiro é morto por militar na Guiana Francesa

Garimpeiro brasileiro é morto por militar na Guiana Francesa

O governo local afirmou que o disparo foi acidental e partiu da arma de um agente que foi preso administrativamente e responderá a inquérito

Publicado em 24 de setembro de 2019 às 18:50

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Gleibson Pereira, 28, brasileiro morto por militar na Guiana Francesa. (Facebook/Reprodução)

Um brasileiro foi morto por um militar francês em uma área de garimpo ilegal na Guiana Francesa no último domingo (22).

O garimpeiro Gleibson Pereira, 28, morreu na fronteira entre o Brasil e a França, próximo ao distrito de Vila Brasil, distante de Oiapoque (AP) cerca de quatro horas de barco.

Segundo o Consulado-Geral do Brasil em Caiena, o governo local afirmou que o disparo foi acidental e partiu da arma de um militar que foi preso administrativamente e responderá a inquérito. O militar fazia parte do quadro da Legião Estrangeira, unidade ligada ao Exército Francês que admite estrangeiros.

Segundo a Polícia Civil, Gleibson carregava galões de 50 litros com combustível para abastecer os garimpos. O grupo em que Gleibson estava ouviu uma embarcação se aproximar, diz a polícia, e se espantou ao ver os militares. Eles correram mato adentro, e o legionário disparou.

Na cidade franco-guianense de Camopi, em frente à Vila Brasil, há três forças policiais francesas, a Legião Estrangeira, a Gendarmerie (espécie de polícia militar) e a Polícia Nacional (polícia civil), que combatem a garimpagem ilegal.

Áudio que circula na região enviado por um garimpeiro que estava no grupo narra o momento da morte. "Na hora que eu virei de costas para correr, na hora que eu escorreguei, foi na hora que foi o tiro. Nós corremos juntos. Eu entrei no mato, ele entrou atrás e caiu. Só que eu não voltei para ver se ele estava bem ou não. Ele só caiu, e nós entramos. O pessoal estava bem perto de nós, falando. Nós entramos e fomos embora. Depois é que fomos saber do ocorrido."

Os garimpeiros voltaram no dia seguinte e encontraram Gleibson morto. Um vídeo que se espalhou pelas redes sociais mostra um grupo em volta do cadáver, caído na mata, apontando os ferimentos e chamando os militares franceses de covardes. "Nós [garimpeiros ilegais] estamos errados, mas a gente trabalha desarmado, todo mundo. O cara não tem nada a ver", diz um. "Esses vagabundos vão ao Oiapoque, comem e bebem conosco e fazem isso", diz outro.

O corpo de Gleibson foi levado pelos garimpeiros ao lado brasileiro. Em outro vídeo, depois que o corpo foi resgatado, os garimpeiros também acusam os agentes franceses. Eles viram o cadáver de costas para mostrar as marcas. "Isso aqui é mais uma prova do que o governo francês está fazendo contra os brasileiros dentro da Guiana Francesa. Bando de assassinos."

Um delegado brasileiro que atua na região disse à reportagem, no entanto, que a abordagem das forças francesas não costuma ser violenta e que incidentes do tipo são raríssimos. A praxe, segundo essa autoridade, é prender e extraditar os garimpeiros.

Um dia antes, na mesma região, indígenas do lado franco-guianense informaram à polícia que encontraram três corpos de brasileiros mortos. A Polícia Federal e a Polícia Civil brasileira fizeram buscas, mas não encontraram mortos, e desconfiam de falsa comunicação de crime.

Segundo o consulado brasileiro, dos 295 mil habitantes da Guiana Francesa, entre 70 mil e 80 mil são brasileiros, a maior parte do Amapá, do Pará e do Maranhão.

A imigração ao território francês se intensificou na época da construção do Centro Espacial de Kourou, base de lançamentos da Agência Espacial Europeia, erguido na região pela proximidade com a Linha do Equador

Há cerca de 12 mil garimpeiros trabalhando regularmente na Guiana Francesa, cerca de 95% são brasileiros, segundo números do consulado. De acordo com a Polícia Civil, 10 mil brasileiros fazem garimpo ilegal no país.

A Guiana Francesa é um departamento da França na Amazônia, que, com 84 mil km² (cerca de 95% cobertos de floresta). 

De acordo com as Forças Armadas francesas, há cerca de 130 permissões para extração de minério no território. Nesse setor formal, a produção de ouro em 2016 foi de 1,3 tonelada, gerando um faturamento de 45 milhões de euros (R$ 207 milhões).

O garimpo ilegal exibe números mais robustos, com produção anual estimada em até nove toneladas e receita na casa dos 200 milhões de euros (R$ 922 milhões)

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