Publicado em 2 de março de 2022 às 15:45
A guerra na Ucrânia deve elevar os custos de empresas brasileiras do setor de alimentos e bebidas que dependem de matérias-primas como trigo e milho, este último utilizado como ração para animais. Até mesmo o preço de cervejas que levam esses dois ingredientes pode ser afetado caso a crise se prolongue, segundo relatórios do Itaú BBA que analisam companhias brasileiras de capital aberto com ações na B3.>
Nos últimos dias, diversos analistas têm apontado que as maiores preocupações neste momento não são os impactos nas exportações brasileiras – a Rússia representa apenas 0,6% das nossas vendas ao exterior. O problema maior estaria nas importações e no preço de algumas commodities.>
Rússia e Ucrânia respondem por cerca de 30% das exportações globais de trigo e quase 20% de milho, que tiveram forte alta nos últimos dias.>
Um desequilíbrio mundial de oferta de milho pode pressionar as margens da companhia BRF, dada a representatividade do insumo no negócio da empresa – na alimentação de porcos e aves.>
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"Apesar de enxergarmos a possibilidade da BRF se beneficiar com uma possível quebra na oferta de frango por parte da Ucrânia, entendemos que a inflação de custo do milho deve superar a melhora no cenário dessa proteína, reforçando uma tendência negativa", diz o banco, que manteve recomendação neutra (desempenho em linha com a média do mercado) para o papel BRFS3.>
No relatório divulgado na semana passada, os analistas também citam o risco de compressão de margens para a JBS, considerando as operações de frangos e porcos no Brasil e nos EUA.>
Por outro lado, nas unidades produtoras de carne bovina o impacto dos grãos deve ser irrelevante, a não ser que toda a cadeia de proteínas fique desequilibrada por um período mais extenso. O Itaú manteve a recomendação de "compra" para o papel JBSS3.>
Em relação a outros dois grandes do setor de carnes, os analistas afirmam não ver impactos diretos na Marfrig (a não ser por seu investimento na BRF) e dizem que os dois países não são parceiros comerciais tão relevantes para o Minerva. Foram mantidas as recomendações de "compra" para MRFG3 e BEEF3.>
Milho e trigo representam cerca de 10% da estrutura de custos da Ambev, segundo estimativa do banco — algumas utilizam milho e trigo. Mas a companhia possui uma política de proteção (hedge) contra flutuação de preços de aproximadamente 12 meses.>
"Avaliamos que os resultados de um aumento nos preços seria observado apenas em 2023 e caso esta alta permanecesse por um longo período." A recomendação do banco é neutra para ABEV3.>
O relatório cita também a M. Dias Branco. Nos três primeiros trimestres de 2021, o trigo representou aproximadamente 43% de toda a estrutura de custos da companhia. A avaliação é que a empresa não está mais conseguindo repassar a inflação para os consumidores na mesma velocidade e grau de antes e que um aumento no preço das commodities pode impactar negativamente as margens.>
"Apesar disso, não enxergamos risco de desabastecimento nesse momento, porque o Brasil importa menos de 3% (média de 2018 a 2021) de trigo da Rússia e da Ucrânia." Foi mantida a recomendação neutra para a ação MDIA3. Embora a Camil esteja no setor de massas, segmento dependente do trigo, por meio da Santa Amália, essa operação é pouco representativa. Por isso, não são esperados grandes impactos --recomendação neutra para CAML3.>
Em outro relatório, o banco analisou os grandes setores representados na B3 que poderiam ser afetados pelo conflito. A valorização do petróleo e gás, cujos preços devem continuar em alta, deve beneficiar os papéis de PetroRio e 3R. "Já as implicações para a Petrobras não são tão diretas, uma vez que há uma preocupação na capacidade da empresa de repassar esse aumento para os preços dos combustíveis.">
Companhias aéreas, por outro lado, devem ser prejudicadas, dado que empresas como Azul e Gol têm uma parte relevante de seus custos associados aos preços dos combustíveis.>
Também é esperado impacto negativo para a Natura &Co, pois a Avon Internacional tem cerca de 50% de suas vendas na região do Leste Europeu, uma grande parcela na Rússia.>
Os analistas veem ainda efeitos positivos para SLC Agrícola, produtora de algodão, milho e soja, e na CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), pois a Rússia é grande produtora também nesse mercado.>
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