Publicado em 24 de setembro de 2024 às 14:26
Um coquetel de drogas sintéticas conhecido como cocaína rosa rapidamente se tornou uma grande preocupação na Espanha, no Reino Unido e em outras partes da Europa. >
No início de setembro, as autoridades espanholas realizaram sua maior apreensão de drogas sintéticas e interceptaram uma grande quantidade de cocaína rosa junto com mais de um milhão de pílulas de ecstasy. A operação teve como alvo redes de distribuição de drogas em Ibiza e Málaga.>
Esta substância perigosa tem sido associada a um número crescente de mortes relacionadas a overdose. >
A composição imprevisível e a crescente popularidade da cocaína rosa provocaram apelos de organizações europeias que trabalham com redução de danos causados por drogas por ações urgentes para lidar com os riscos que ela representa.>
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Apesar do nome, a cocaína rosa não contém necessariamente cocaína. Em vez disso, ela geralmente traz uma mistura de várias outras substâncias, incluindo MDMA, cetamina e 2C-B. >
O MDMA, comumente conhecido como ecstasy, é um estimulante com propriedades psicodélicas, enquanto a cetamina é um anestésico poderoso que tem efeitos sedativos e alucinógenos. Já as drogas 2C são classificadas como psicodélicas, mas também podem produzir efeitos estimulantes.>
Normalmente encontrada em pó ou pílula, a cocaína rosa é conhecida por sua cor vibrante, que foi elaborada para conquistar clientes a partir do apelo visual. Ela é colorida porque traz um corante alimentício. Às vezes, ocorre também a adição de morango ou alguns aromas.>
A forma psicodélica original da droga data de 1974 e foi sintetizada pela primeira vez pelo bioquímico americano Alexander Shulgin. Mas a variante moderna surgiu por volta de 2010 na Colômbia, a partir de uma versão falsificada da fórmula original.>
A droga ganhou popularidade nas festas e baladas da América Latina e agora se espalhou para a Europa. Os nomes comuns para a cocaína rosa variam muito. Alguns a chamam de "cocaína rosada", "tuci", "Vênus" ou "Eros".>
A cocaína rosa que circula atualmente é uma mistura imprevisível de substâncias —e é aí que reside grande parte do seu perigo. >
Os usuários geralmente esperam um estimulante semelhante à cocaína, mas a adição de cetamina pode trazer sérios riscos à saúde. O abuso de cetamina, que está amplamente disponível como uma droga recreativa, pode levar à inconsciência ou dificultar a respiração. Isso, claro, aumenta os perigos potenciais da cocaína rosa.>
A aparência atraente e o status de "droga feita sob medida" contribuíram para o apelo da cocaína rosa, especialmente entre jovens e usuários iniciantes. >
Isso reflete o fascínio histórico relacionado a drogas como a cocaína e o MDMA — e também destaca uma tendência persistente de glamourização de certas substâncias, apesar dos riscos relacionados.>
Especialistas comparam o uso de cocaína rosa a jogar roleta russa, numa alusão à natureza imprevisível e perigosa dessa substância.>
A droga se espalhou de Ibiza para o Reino Unido, e há evidências de que ganhou força na Escócia, partes do País de Gales e na Inglaterra. Do outro lado do Atlântico, a cidade de Nova York, nos EUA, também viu um aumento na disponibilidade deste produto nos últimos tempos.>
Autoridades de saúde em toda a Europa estão em alerta. A cocaína rosa é difícil de detectar por meio dos testes de drogas mais comuns, particularmente na Espanha, que ainda não possui todos os aparatos para identificar todos os componentes dessa droga.>
A cocaína rosa é vendida por cerca de US$ 100 o grama (cerca de R$ 550) na Espanha. Ela costuma ser comercializada como um produto de alta qualidade. >
Uma das necessidades mais urgentes destacadas pelo aumento da popularidade da cocaína rosa se concentra nos serviços de verificação de drogas. >
Os kits que avaliam quais substâncias estão presentes naquela composição representam uma ferramenta importante de redução de danos para pessoas que querem saber aquilo que vão consumir.>
Esses kits podem ajudar os usuários a identificar componentes desconhecidos e, com isso, servem como uma camada de proteção em um ambiente de alto risco.>
Meu próprio trabalho mostra o quão vitais são essas ferramentas de redução de danos. Campanhas de conscientização pública e serviços de apoio também são uma parte importante desse universo.>
A crescente popularidade da cocaína rosa é um lembrete gritante do cenário em constante mudança das drogas ilícitas, onde a estética, as tendências de mídia social e o comportamento de risco podem se combinar para criar novas ameaças.>
Embora a tonalidade rosa e o rótulo de "droga feita sob medida" possam atrair um público mais jovem, a mistura imprevisível de produtos químicos representa um perigo sério e crescente.>
À medida que a cocaína rosa continua a se espalhar pela Europa e além, é crucial que as autoridades, os serviços de saúde e o público estejam preparados para lidar com os riscos que ela representa.>
*Joseph Janes é professor de criminologia da Universidade de Swansea, no Reino Unido.>
**Este artigo foi publicado no site The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.>
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