Publicado em 7 de outubro de 2020 às 17:01
A pobreza extrema deve aumentar no mundo em 2020 pela primeira vez em 20 anos, sob impacto da pandemia do coronavírus, alerta o Banco Mundial em relatório divulgado nesta quarta-feira (7). >
Segundo a instituição financeira, a ruptura provocada pela Covid-19 nas economias de todo o mundo pode levar entre 88 milhões e 115 milhões de pessoas para a miséria este ano, podendo chegar a 150 milhões em 2021, dependendo da gravidade da retração econômica.>
São considerados extremamente pobres pelo Banco Mundial pessoas com renda inferior a US$ 1,90 por dia (R$ 10,64, ao câmbio atual).>
Dessa maneira, a pobreza extrema deve afetar entre 9,1% e 9,4% da população mundial em 2020, patamar que leva a taxa de volta ao nível de 2017 (9,2%).>
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"A pandemia e a recessão global podem levar mais de 1,4% da população mundial para a pobreza extrema", destaca o presidente do grupo Banco Mundial, David Malpass, em comunicado. "Para reverter esse sério contratempo aos avanços no desenvolvimento e à redução da pobreza, os países precisam se preparar para uma economia diferente pós-Covid.">
A crise também deve reduzir a prosperidade compartilhada -definida como o crescimento da renda dos 40% mais pobres da população de um país.>
O banco estima que a média global da prosperidade compartilhada deve ficar estagnada ou até mesmo se contrair entre 2019 e 2021, revertendo tendência registrada de 2012 a 2017, quando a renda dos 40% mais pobres havia crescido em 74 de 91 economias para as quais havia dados disponíveis.>
"A desaceleração da atividade econômica intensificada pela pandemia deve atingir os mais pobres de forma especialmente dura, e isso pode levar a indicadores de prosperidade ainda mais baixos nos próximos anos", destaca a instituição.>
O Banco Mundial observa, no entanto, que, na América Latina e Caribe, 10 de 13 economias registraram prosperidade compartilhada menor no período entre 2012 e 2017, do que entre 2010 e 2015, o que é o caso do Brasil.>
"A crise do Brasil de 2014 a 2016 e sua recuperação são uma ruptura radical em relação à década anterior", destaca o banco, em relatório.>
"Com milhões de empregos perdidos, a ampla rede de proteção social do país foi incapaz de servir de forma eficiente como um sistema de proteção anticíclica. A crise se mostrou severa para todos os grupos de renda e a recuperação posterior foi lenta e desigual.">
Segundo o IBGE, em 2018, o país tinha 13,5 milhões pessoas com renda mensal per capita inferior US$ 1,90, equivalente a 6,5% da população.>
De acordo com levantamento da FGV (Fundação Getulio Vargas) divulgado em julho, a pobreza extrema atingia 6,9 milhões de pessoas em junho deste ano, ou 3,3% da população, com a taxa ao menor patamar em 40 anos devido ao auxílio emergencial pago aos trabalhadores informais durante a pandemia.>
Especialistas alertam, porém, que a pobreza extrema deve voltar a crescer com o fim do auxílio, caso a rede de proteção social do país não seja expandida, em meio a um desemprego recorde e que deve continuar a avançar nos próximos meses.>
No relatório, o Banco Mundial destaca como positiva a intenção do Brasil e da Indonésia de expandirem seus programas de transferência de renda existentes no pós-pandemia.>
"Tecnologias digitais podem, a princípio, facilitar a implementação desses programas de formas que não teriam sido possíveis há uma década; mas essas soluções podem exacerbar uma divisão digital se os mais pobres não puderem acessar esses sistemas.">
O governo brasileiro estuda ampliar o Bolsa Família, rebatizando-o de Renda Cidadã, após o término do auxílio emergencial, previsto para dezembro.>
A equipe econômica enfrenta, no entanto, dificuldade para abrir espaço no orçamento para a expansão, já que o teto de gastos determina que novas fontes de receitas não podem ser usadas para essa finalidade. Com a despesa pública congelada pelo teto, apenas outros cortes de gastos podem abrir espaço para o novo programa.>
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