Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 09:44
Na quarta-feira (12/2), após uma ligação telefônica de 90 minutos com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente americano, Donald Trump, fez uma série de anúncios que podem mudar o curso da guerra entre Rússia e Ucrânia.>
Trump disse que ele e Putin concordaram que as negociações para acabar com a guerra na Ucrânia devem começar "imediatamente" e convidaram um ao outro para encontros nas capitais de seus países. Antes disso, eles deverão se reunir na Arábia Saudita.>
O presidente dos EUA também disse que não seria "prático" para a Ucrânia se juntar à aliança militar Otan.>
Trump disse ter concordado com a avaliação feita pelo secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, de que é improvável que a Ucrânia retorne às suas fronteiras pré-2014, mas acrescentou que "parte daquela terra voltaria" aos ucranianos.>
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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também teve uma ligação telefônica, de uma hora, com Trump. Zelensky disse que eles "concordaram em manter mais contato e planejar as próximas reuniões".>
A pergunta que muitos se fazem é: o que acontecerá agora na guerra na Ucrânia?>
Nesta semana, os ministros da aliança militar Otan estão reunidos na Bélgica para discutir o futuro da guerra e os planos de Trump.>
Até agora, o presidente americano vem sinalizando que não pretende incluir os europeus nas negociações de paz na Ucrânia — mas que espera que a Europa pague pela maior parte da reestruturação do país, e pelas garantias de paz na região.>
É possível que nem mesmo a Ucrânia participe das conversas sobre um acordo de paz, que ficariam restritas a Putin e Trump, apesar de Zelensky dizer repetidamente que "não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".>
Trump escreveu na sua rede social: "É hora de parar esta guerra ridícula, onde houve MORTE e DESTRUIÇÃO massivas e totalmente desnecessárias. Deus abençoe o povo da Rússia e da Ucrânia!">
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Putin apoia a ideia de Trump de que chegou o momento de se trabalhar em conjunto.>
Sete países europeus, incluindo Reino Unido, França e Alemanha, insistiram em fazer parte de quaisquer negociações futuras sobre o destino da Ucrânia.>
"Nossos objetivos compartilhados devem ser colocar a Ucrânia em uma posição de força", dizia a declaração conjunta divulgada após uma reunião de ministros das Relações Exteriores em Paris.>
"A Ucrânia e a Europa devem fazer parte de quaisquer negociações.">
Eles pediram que sejam dadas garantias sobre a segurança da Ucrânia e disseram que estavam querendo discutir o caminho a seguir com seus aliados americanos.>
Segundo o correspondente da BBC News na cúpula de Bruxelas, Jonathan Beale, os ministros europeus estão tentando passar a imagem de que nada mudou — e que a Otan segue unida em torno da defesa da Ucrânia.>
"Mas, na realidade, Washington é quem está mandando agora", diz Beale. "O telefonema entre os presidentes Trump e Putin, que deve ser seguido por uma reunião, deixou a Otan em um segundo plano.">
"A solidariedade e a força da Otan foram enfraquecidas pela mensagem clara de Washington que, ao tentar pôr fim à guerra, não está preparado para financiar apoio militar a Kiev ou permitir que a Ucrânia se junte à Otan.">
A guerra na Ucrânia foi deflagrada em fevereiro de 2022, quando Putin anunciou a invasão de territórios ao leste da Ucrânia onde grande parte da população é de origem russa. Putin argumentou que esses territórios deveriam pertencer à Rússia. Em 2014, a Rússia já havia tomado e anexado a Crimeia, no sul da Ucrânia.>
Mas em 2022, a Ucrânia montou uma grande resistência à invasão — e os dois lados travam uma sangrenta guerra que se estende até os dias de hoje.>
Grande parte da operação ucraniana na guerra foi apoiada e financiada pela aliança militar Otan — a Organização do Tratado do Atlântico Norte, que se expandiu e hoje inclui 32 Estados membros, entre eles Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha.>
A Otan foi criada durante a Guerra Fria como uma união militar contra a ameaça representada pela União Soviética. >
A aliança não tem um exército próprio, mas seus países-membros podem tomar medidas militares coletivas em resposta às crises. A Otan, por exemplo, apoiou a ONU ao intervir na antiga Iugoslávia entre 1992 e 2004.>
A missão principal da aliança continua sendo a de garantir a segurança de seus países-membros. A Rússia se opõe à expansão da Otan, o que preocupa os países-membros, principalmente os vizinhos à Rússia, como Letônia, Estônia e Finlândia.>
Em 2023, comandantes da Otan traçaram planos detalhados para combater possíveis ataques russos em qualquer parte do oceano Árctico, do Atlântico Norte, da Europa Oriental ou da região do Mar Mediterrâneo.>
A aliança aumentou o número de soldados na Europa em estado de alerta máximo de 40 mil para mais de 300 mil, e reforçou suas defesas nas fronteiras da Rússia com oito grupos de combate externos. >
A Otan agendou para este ano de 2025 uma série de exercícios militares na Bulgária e Romênia, em que tropas - lideradas por uma divisão britânica - treinarão a defesa de fronteiras no caso de invasão inimiga.>
Na Ucrânia, a aliança forneceu ajuda militar — sem a qual o país teria dificuldades de sustentar uma guerra contra a Rússia.>
Os EUA, sob a presidência de Joe Biden, foram parte crucial dessa estratégia. Em 2024, Biden autorizou que armamentos americanos fornecidos aos ucranianos fossem usados para atacar o território russo. Em agosto de 2024, a Ucrânia surpreendeu os russos e tomou uma parte da província de Kursk, no oeste da Rússia.>
Além disso, sob liderança americana, a Otan orquestrou sanções e o isolamento da Rússia em diversos foros internacionais.>
Dentro dos EUA, políticos sempre estiveram divididos sobre o que fazer com a Ucrânia. Democratas defendiam ações fortes contra a Rússia e uma aliança estreita com os europeus. Já os republicanos tentaram bloquear no Congresso o envio de mais recursos e ajuda militar aos ucranianos.>
Uma das questões fundamentais para Trump na guerra contra a Ucrânia é dinheiro.>
O presidente americano reclama que os americanos gastam muito mais com a Otan do que os países europeus — que são os mais interessados na estabilidade da Ucrânia, por estarem mais próximos e mais ameaçados pela Rússia.>
Os EUA atualmente gastam cerca de 3,4% do seu PIB em defesa, enquanto o Reino Unido gasta cerca de 2,3%. Países mais próximos da Rússia, como a Polônia e os Estados bálticos, gastam mais proporcionalmente, em torno de 4%.>
Trump quer que os aliados da Otan aumentem seus gastos com defesa para 5% do PIB, em vez da meta atual de 2%, dizendo o valor atual "não é suficiente".>
Será difícil para a Ucrânia conter os avanços da Rússia sem a mesma escala de apoio fornecida por Washington durante a administração de Joe Biden.>
A Rússia está gastando mais em defesa do que toda a Europa combinada, de acordo com números do The Military Balance, uma comparação anual das forças armadas ao redor do mundo.>
Na cúpula de ministros da defesa da Otan em Bruxelas, o secretário americano da Defesa, Pete Hegseth, disse que os EUA não "tolerariam mais um relacionamento desequilibrado" com seus aliados e pediu aos membros da Otan que gastassem muito mais em defesa.>
"Queremos, como vocês, uma Ucrânia soberana e próspera", disse Hegseth. "Mas precisamos começar reconhecendo que retornar às fronteiras da Ucrânia pré-2014 é um objetivo irrealista. Perseguir essa meta ilusória só prolongará a guerra e causará mais sofrimento.">
Ele também minimizou a perspectiva da Ucrânia se juntar à Otan.>
O ingresso da Ucrânia na Otan é um dos pontos mais contestados por Putin. O estatuto da Otan estabelece que os Estados devem reagir militarmente em conjunto a qualquer invasão. Ou seja, o ingresso da Ucrânia abriria caminho para toda a aliança entrar diretamente em uma eventual guerra contra a Rússia.>
Hegseth disse que qualquer paz duradoura deve incluir "garantias de segurança robustas para que a guerra não comece novamente".>
As garantias de segurança devem ser apoiadas por "tropas europeias e não europeias capazes".>
"Se essas tropas forem enviadas como mantenedoras da paz para a Ucrânia em algum momento, elas devem ser enviadas como parte de uma missão não pertencente à Otan e não devem ser cobertas pelo Artigo 5", disse ele, referindo-se à cláusula de defesa mútua da aliança.>
"Salvaguardar a segurança europeia deve ser um imperativo para os membros europeus da Otan", disse Hegseth. "A Europa deve fornecer a maior parte da ajuda futura letal e não letal para a Ucrânia.">
Nesta quinta-feira, Hegseth disse que as tentativas dos EUA de negociar a paz entre a Ucrânia e a Rússia "certamente não são uma traição" aos soldados ucranianos que têm lutado contra a invasão nos últimos três anos.>
Hegseth enfatizou que os EUA fizeram um "compromisso incrível" com a Otan, acrescentando que nenhum país tem um compromisso maior com a missão da Ucrânia do que os EUA.>
O secretário da Defesa disse que os EUA investiram mais de US$ 300 bilhões na estabilização das linhas de frente após a agressão da Rússia, e que o mundo tem "sorte" de ter o presidente Trump. Segundo Hegseth, somente Trump "poderia reunir as potências para trazer a paz".>
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deverá se encontrar em Munique, na Alemanha, na sexta-feira (14/2) com o vice-presidente americano, J.D. Vance, e com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.>
Essa semana, Zelensky disse que se Trump conseguisse levar a Ucrânia e a Rússia à mesa de negociações, o presidente ucraniano pretende oferecer à Rússia uma troca direta de território, abrindo mão de terras que Kiev mantém na região de Kursk, na Rússia.>
"Trocaremos um território por outro", disse ele, mas acrescentou que não sabia qual parte das terras ocupadas pela Rússia a Ucrânia pediria em troca.>
O porta-voz de Putin disse que isso seria "impossível".>
"A Rússia nunca discutiu e não discutirá a troca de seu território. Unidades ucranianas serão expulsas deste território. Todos que não forem destruídos serão expulsos", afirmou o porta-voz do Kremlin.>
Moscou atualmente controla cerca de um quinto do território da Ucrânia, principalmente no leste e no sul.>
Zelensky também disse que ofereceria a empresas americanas contratos lucrativos para reconstruir a Ucrânia, em uma aparente tentativa de atrair Trump.>
O presidente ucraniano também insistiu que os EUA, e não apenas os países europeus, precisariam fazer parte de qualquer solução de segurança para seu país.>
"Garantias de segurança sem os EUA não são garantias de segurança reais", disse.>
Em outra ocasião, Trump já tinha dito que em "algum momento haverá uma eleição" na Ucrânia — o que foi visto como uma referência ao término do mandato presidencial de Zelensky em maio de 2024. O mandato foi estendido por conta da lei marcial do país.>
Zelensky diz que a contínua invasão russa e a lei marcial na Ucrânia tornam impossível a realização de uma nova eleição presidencial.>
Putin vem questionando a legitimidade de Zelensky para manter quaisquer negociações com Moscou.>
Enquanto isso, os dois países seguem em guerra. Na noite passada, enquanto ministros se reuniam, a Ucrânia disse que foi atacada por 140 drones russos em Odessa e Kharkiv.>
É difícil obter contagens precisas de vítimas devido ao sigilo dos governos russo e ucraniano, mas estima-se que centenas de milhares de pessoas, a maioria soldados, foram mortas ou feridas, e milhões de civis ucranianos fugiram do país, como refugiados.>
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