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Advogado: 'Egípcio procurado pelo FBI é perseguido político e irá à PF'

Advogado: "Egípcio procurado pelo FBI é perseguido político e irá à PF"

Segundo Vaz, Ibrahim vive no Brasil desde fevereiro de 2017, é casado com uma brasileira e tem uma empresa do ramo moveleiro em São Paulo

Publicado em 23 de agosto de 2019 às 10:13

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Egípcio procurado pelo FBI é perseguido político e irá à PF, diz advogado. (Instagram)

O egípcio Mohamed Ahmed Elsayed Ahmed Ibrahim, que vive no Brasil e é procurado pelo FBI (a polícia federal americana) por supostas ligações com a rede terrorista islâmica Al Qaeda, é um perseguido político e vai prestar esclarecimentos à Polícia Federal, afirma seu advogado, Musslim Ronaldo Vaz.

Segundo Vaz, Ibrahim vive no Brasil desde fevereiro de 2017, é casado com uma brasileira e tem uma empresa do ramo moveleiro em São Paulo. Antes, morou na Turquia.

Ele afirma que seu cliente é de um movimento chamado Al-Gama'aal-Islamiya Egypt, que apoiava o ex-presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, deposto em 2013.

"Com a queda de Mursi, houve uma mudança no sistema jurídico, e o partido foi criminalizado. Outras pessoas desse partido foram presas e mortas ou fugiram do país", diz, acrescentando que foi o governo do Egito que passou a informação sobre seu cliente e sobre outros opositores para o FBI.

A Al-Gama'aal-Islamiya Egypt integra a lista de organizações consideradas terroristas pelo Departamento de Estado dos EUA.

Ibrahim é solicitante de refúgio e aguarda a análise de seu pedido pelo Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), ligado ao Ministério da Justiça.

Na segunda-feira (12), antes de ser divulgado que o FBI o procura, ele já havia estado na PF para resolver questões burocráticas ligadas à sua documentação no Brasil, afirma seu advogado.

"Ele foi à PF à tarde, chegou em casa depois do trabalho, sentou para jantar e viu o nome dele [no noticiário]. Disseram que ele é perigoso, que está armado, o que não tem cabimento."

Segundo Vaz, não há acusação formal por parte do FBI contra seu cliente, mas já está agendada com a PF a data e o horário em que ele irá prestar esclarecimentos. O advogado, no entanto, não quis informar quando o depoimento será feito.

"Essa acusação de ligação terrorista não existe. Ele é tão somente um homem de um partido político que foi criminalizado e em nenhum momento atentou contra a nação norte-americana ou nenhuma outra nação", afirma.

O advogado diz ainda que, por não ter cometido crime nos EUA, Ibrahim não deveria ser enviado para lá. "E se ele for para o Egito, o risco de tortura ou de morte é muito grande", diz.

CARTAZ DE 'PROCURA-SE'

Um anúncio feito pelo FBI e divulgado pelo ministério da Justiça diz que o suspeito deve ser considerado "armado e perigoso".

O cartaz de "procura-se" divulgado pelo FBI também informa que o suspeito tem cabelos negros, pele clara, olhos castanhos, entre 73 kg e 77 kg, entre 1,83 m e 1,88 m, que é magro, está em boa forma física e "usa barba aparada".

"Se você tiver qualquer informação sobre esta pessoa, por favor entre em contato com o escritório do FBI ou com a Embaixada ou Consulado dos EUA mais próximos", diz o comunicado.

O FBI afirma ainda que ele tem ligação com a rede terrorista ao menos desde 2013, mas o texto não explica de quais ataques exatamente o egípcio teria participado e nem qual teria sido seu papel nessas ações.

Ele é acusado de ter auxiliado no planejamento e na execução de ataques tanto contra os Estados Unidos quanto contra interesses americanos em outros países, além de oferecer apoio material para a Al Qaeda.

A Al Qaeda foi criada no final dos anos 1980 pelo saudita Osama bin Laden e durante décadas foi o grupo terrorista mais temido do planeta, principalmente por ter sido a responsável pelo 11 de setembro.

Desde a morte do fundador em 2011, porém, a rede tem perdido espaço, principalmente para o rival Estado Islâmico.

Recentemente o jornal The New York Times publicou reportagem na qual afirmava que o governo americano diz acreditar que Hamza bin Laden, filho de Osama e seu herdeiro no comando do grupo, também foi morto.

O governo brasileiro afirma em seu comunicado que está disposto a colaborar com Washington no caso do egípcio, desde que dentro dos parâmetros estabelecidos na lei.

No final de julho, Moro assinou uma portaria, de número 666, que mudou as regras e passou a permitir a deportação sumária de estrangeiros considerados "perigosos" ou que tenham praticado ato "contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal".

Segundo o texto, ficam sujeitos a expulsão suspeitos de terrorismo, de integrar grupo criminoso organizado ou organização criminosa armada, entre outros casos.

Cabe à autoridade migratória avaliar quem se enquadra no rol de pessoas consideradas perigosas, segundo a portaria. Para isso, deve-se levar em conta, entre outras coisas, "informação de inteligência proveniente de autoridade brasileira ou estrangeira" -como é o caso das informações do FBI.

Uma semana antes da publicação da portaria, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou a assinatura de um compromisso de luta contra o terrorismo na América Latina. O documento teve a participação de 21 países, incluindo o Brasil.

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"Vim para dizer que estamos de volta à América Latina, e vamos ajudá-los a atacar o terrorismo", disse Pompeo na ocasião. "Os grupos terroristas estão se radicalizando e encontrando nossas vulnerabilidades. Na América Latina já foram detectados membros do Hizbullah atuando na Argentina, no Peru, no Brasil e no Paraguai", afirmou o secretário americano, sem apresentar evidências.

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