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A ?Nova Guerra Fria? no Oriente Médio está prestes a esquentar?

A ?Nova Guerra Fria? no Oriente Médio está prestes a esquentar?

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ?Nova Guerra Fria? no Oriente Médio está prestes a esquentar?

Publicado em 2 de outubro de 2019 às 11:41

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ?Nova Guerra Fria? no Oriente Médio está prestes a esquentar?

Para Gregory Gause, professor de relações internacionais na Universidade Texas A&M que cunhou o termo para descrever a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã, as duas potências regionais não têm dado sinais de que buscarão uma confrontação militar direta.

Gause enxerga nas dinâmicas de poder que definem o Oriente Médico contemporâneo elementos do conflito geopolítico que dividiu a região, e o mundo, entre polos antagônicos na segunda metade do século 20.

Assim como Estados Unidos e União Soviética evitavam uma escalada militar que aniquilaria as duas partes, as autoridades de Riad e Teerã não buscam uma guerra direta: em vez disso, competem por hegemonia apoiando facções rivais em países mais fracos da região, como a Síria, o Líbano e o Iêmen.

O que poderia deflagrar um conflito de grande escala seria um ataque dos Estados Unidos contra o Irã, acrescenta o professor, para quem a política americana de ?pressão máxima? contra o regime iraniano tem sido um ?fracasso?.

?Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la?, diz Gause por email à Folha de S.Paulo.

Na conversa, o professor discute as consequências dos ataques de drones contra refinarias de petróleo em Abqaiq e Khuais, na Arábia Saudita, no último dia 14. A Arábia Saudita e os Estados Unidos acusam o Irã de ter orquestrado os ataques; o regime iraniano nega responsabilidade, e diz que eventuais retaliações em seu território conduziriam à ?guerra total?.

Leia, abaixo, a entrevista:

PERGUNTA - Os ataques na Arábia Saudita geraram temores de uma escalada regional contra o Irã. Quais são os riscos de que a ?Nova Guerra Fria? do Oriente Médio poderá evoluir para um confronto direto entre a Arábia Saudita e o Irã?

GREGORY GAUSE - Se confronto direto significar um conflito entre Forças Armadas, eu acredito que não. Os iranianos evitam este tipo de ataque direto, conforme indicam suas negativas reiteradas sobre o ataque em Abqaiq. O Exército saudita não tem obtido sucesso no Iêmen. Eu duvido que eles adotariam uma postura ofensiva contra o Irã.

O confronto militar direto mais provável seria entre os Estados Unidos e o Irã, mas eu acredito que a resposta americana se dará nos bastidores.

PERGUNTA - O governo Trump tem demonstrado apoio contínuo ao regime saudita. O que explica a relação especial entre Washington e Riad? Quais são os possíveis resultados da estratégia de ?pressão máxima? da Casa Branca em relação ao Irã?

GG - As relações próximas entre o governo Trump e o saudita não são uma novidade. A maioria dos presidentes americanos teve estas relações, mesmo com altos e baixos. Talvez não tenham sido tão descarados quanto Trump, mas seu estilo é diferente dos governos passados em todos os aspectos. A oposição do Congresso também não é algo novo, mas é mais intensa que no passado, em parte como resposta ao assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi.

A política de ?pressão máxima? é o que levou ao ataque de Abqaiq. É realmente um fracasso, não levou ao colapso do regime nem à sua rendição na mesa de negociação. Mas o governo Trump não parece ter uma política alternativa em vista. Sua resposta ao ataque em Abqaiq foi ordenar ainda mais sanções, o que torna outro ataque do Irã mais provável.

P. - A saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 levou o regime iraniano a recomeçar seu programa nuclear. O que a comunidade internacional pode fazer para impedir o Irã de obter armas nucleares? Há espaço para a diplomacia?

GG - Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la. Havia sinais de que Trump estava aberto a conversar, mas o ataque em Abqaiq fez a iniciativa recuar, se é que era de fato uma possibilidade. Os iranianos demonstraram que negociarão sobre este assunto, mas terão cuidado, tendo em vista a saída americana do acordo nuclear em 2018.

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O ataque em Abqaiq foi o ataque mais grave contra a infraestrutura petrolífera desde a Guerra do Golfo de 1990-91. O fato de que os preços não foram tão afetados se deu por causa do atual quadro de excesso de oferta. Mas se o Irã perceber que o ataque teve sucesso, poderá ser atraído a buscar ataques similares. Isso traria bastante instabilidade para o mercado de petróleo mundial e para a região do golfo Pérsico.

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