> >
Iema vai testar tecnologia francesa para medir pó preto na Grande Vitória

Iema vai testar tecnologia francesa para medir pó preto na Grande Vitória

Novo equipamento está sendo utilizado em fase de teste; Instituto explicou o funcionamento do aparelho no mesmo dia em que A Gazeta noticiou que maioria das estações não mede poeira na Grande Vitória desde 2021

Publicado em 14 de novembro de 2023 às 20:32

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Sede do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema)
Sede do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). (Karol Gazoni/Asscom Iema)
Felipe Sena
Repórter / [email protected]

No mesmo dia em que A Gazeta noticiou que a eficiência dos equipamentos que medem o material particulado, ou seja, as pequenas partículas que ficam em suspensão no ar e podem ser inaladas ou respiradas, vem caindo nos últimos cinco anos e o monitoramento não é realizado de forma adequada há mais de dois anos, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) convocou uma coletiva de imprensa para explicar o funcionamento dos aparelhos, nesta terça-feira (14).

Na ocasião, o gerente de Controle e Licenciamento do Iema, Takahiko Hashimoto, apresentou um equipamento de origem francesa que vai aferir, de forma automática, os níveis da poeira sedimentar, que são as partículas maiores do pó preto que costumam se acumular em alguns pontos da Grande Vitória.

De acordo com Takahiko, a tecnologia já está sendo utilizada em forma de teste, que deve durar de dois a três anos. Durante esse período, será observado se os equipamentos se adequam à realidade da emissão de poeira no Espírito Santo. De acordo com o Iema, o aparelho foi pago com recursos de empresas em atendimento a condicionantes ambientais para operação.

Iema vai testar tecnologia francesa para medir pó preto na Grande Vitória

"Essa é uma resposta à necessidade que a coletividade tem de buscar medições que tragam uma melhor correlação da qualidade percebida com a métrica. É comum que em dias de muito calor, de muita incidência solar, de muito vento, haja a percepção de piora da qualidade do ar ao se passar a mão (sobre superfícies)", disse o diretor-presidente do Iema, Alaimar Fiuza.

Alaimar ainda disse que a busca do Iema é por tecnologias complementares para o monitoramento do ar. Isso quer dizer que o método manual, usado atualmente, continuará sendo o principal meio de apurar informações sobre a poeira sedimentar.

Equipamento não é novo

Uma nota técnica emitida pelo Iema em 23 de fevereiro de 2022, em resposta a um ofício enviado pelo presidente da ONG Juntos SOS Espírito Santo, Eraylton Moreschi, ao qual A Gazeta teve acesso, já falava da tecnologia francesa para monitoramento automático de poeira sedimentável.

"Trata-se de equipamento de tecnologia francesa, operada pela empresa Aires, que atualmente se encontra em fase de operação, em fase de teste operacional. O equipamento em questão consiste em um coletor de poeira que realiza a pesagem do material (poeira sedimentável) por meio de uma balança de precisão, com a periodicidade desejada, no caso de hora em hora", detalha a nota. 

Reportagem de A Gazeta

A Gazeta publicou reportagem nesta terça-feira (14) mostrando que o monitoramento das pequenas partículas que ficam no ar e formam a poluição popularmente conhecida como pó preto não é feito de forma adequada há mais de dois anos.

Foram reunidos e analisados dados de todas as estações de monitoramento da qualidade do ar na Região Metropolitana, entre 2018 e março de 2023, disponíveis até então no site do Iema. Esses índices referem-se ao material particulado — a parte do pó preto que fica em suspensão e, por isso, pode ser respirada ou inalada. Os dados mostram que a eficiência dos aparelhos em monitorar essa poeira caiu nos últimos cinco anos.

Já o chamado material sedimentável, parte do pó preto que é maior e mais pesada, é medido por outra rede de monitoramento. Na reportagem, os dados analisados diziam respeito apenas ao pó preto em suspensão. 

Cada estação de monitoramento da qualidade do ar da Grande Vitória faz mais de 8 mil análises por ano. A Gazeta calculou a eficiência delas medindo quantas dessas análises tinham resultados válidos. Em 2018, por exemplo, quase todas as estações mostraram ter mais de 90% de eficiência, ou seja, nove em cada dez análises feitas traziam algum resultado válido. Essa capacidade de operação, porém, caiu drasticamente nos anos seguintes, chegando em 2023 a zero.

Em relatório sobre a situação operacional da rede, o Iema destacou que os equipamentos estavam defasados, necessitando de atualização, o que levou à paralisação do monitoramento de alguns poluentes. A atualização e modernização da rede de monitoramento da qualidade do ar, ainda segundo o relatório, é uma das exigências para que as empresas obtenham suas licenças ambientais de funcionamento. 

Esses equipamentos do sistema de monitoramento da qualidade do ar medem dois "tipos" de poeira, chamada oficialmente de material particulado (MP): as partículas inaláveis (MP10) e as partículas respiráveis (MP2,5).

Os números na sigla se referem ao tamanho da partícula. Quanto menor, mais profundamente ela chega no sistema respiratório dos indivíduos. Estudos, alguns feitos na Grande Vitória, indicam que os efeitos do material particulado sobre a saúde incluem câncer respiratório, arteriosclerose, inflamação de pulmão, agravamento de sintomas de asma e aumento de internações hospitalares.

O Iema, em nota enviada para A Gazeta, admitiu que houve queda no monitoramento e disse que foram enfrentadas dificuldades na manutenção dos equipamentos. "Alguns equipamentos deixaram de ter suporte dos fabricantes para peças de reposição, o que levou a uma redução gradativa de equipamentos disponíveis na rede e, consequentemente, redução gradual da disponibilidade de dados."

Contudo, afirmou que, desde 2022, iniciou a modernização da rede, com a reforma física das estações e instalação de novos e mais modernos equipamentos. O Iema ressaltou, ainda, que atualmente a disponibilidade de dados é próxima a 90% e a expectativa é que seja ampliada até o fim do ano.

O Iema também faz uma distinção do tipo de poeira que poderia ser chamada como pó preto, entre material particulado e sedimentável. "O Iema ressalta que PM10 e PM2,5 e Partículas Sedimentáveis (no caso a poeira, popularmente conhecida como pó preto) se tratam de parâmetros diferentes com metodologias de medições diferentes. A informação da forma que foi veiculada misturou os dados dos parâmetros com uma análise que não condiz com a realidade. O 'pó preto' é medido pela rede manual de monitoramento, e não pelos equipamentos de PM10 ou PM2,5".

Para especialistas ouvidos pela reportagem, no entanto, tanto o material particulado quanto o sedimentável podem ser chamados de pó preto. “O pó preto é um nome que existe aqui no Espírito Santo, não é um conceito científico. A diferença entre material particulado e sedimentável é o tamanho. A partícula de poeira pode maior ou menor. Quando é maior, ela ganha o nome de partícula sedimentável, porque se deposita no chão", afirma a engenheira civil Elisa Valentim Goulart, professora doutora do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do Núcleo de Estudos em Qualidade do Ar.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais