Gordura no fígado: conheça os sintomas e como tratar a doença

A esteatose hepática pode apresentar-se desde um quadro leve até uma hepatite crônica ou cirrose hepática. O principal fator de risco é o sobrepeso

Homem com gordura no fígado

Um dos principais fatores de risco da doença é o sobrepeso. Crédito: Shutterstock

O acúmulo de gordura no fígado é chamado de esteatose hepática. Estima-se que a doença, que acontece quando há o acumulo de gordura nos hepatócitos - células do fígado, atinja pelo menos 30% da população. A gastroenterologista e hepatologista Perla Oliveira Schulz Mamone, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, explica que a doença é definida como o acúmulo de gordura anormal no fígado. Ela pode apresentar-se desde um quadro leve, sem maiores repercussões ao órgão, até uma hepatite crônica ou cirrose hepática. 

"A doença gordurosa hepática é uma condição muito frequente, atingindo cerca de 25 a 30% da população. Destes, cerca de 15 a 20% evoluirão para um quadro mais sério de inflamação do fígado, a esteato-hepatite, podendo assim chegar ao quadro de cirrose hepática e sofrer maior risco de desenvolvimento de câncer no fígado", explica a médica. Os principais fatores de risco são o sobrepeso ou a obesidade, os diabetes ou pré-diabetes e a presença de outros distúrbios metabólicos, como hipertensão arterial e dislipidemia (alteração dos níveis de colesterol).

Apesar de nem sempre apresentar sintomas, o cansaço e o desconforto abdominal podem sinalizar um fígado gorduroso. Perla Oliveira Schulz Mamone conta que a maioria dos pacientes são assintomáticos, mas podem apresentar alguns sintomas como a fadiga, o mal-estar e o desconforto abdominal. "Normalmente a doença é diagnosticada por acaso, durante a realização de exames por outros motivos, quando então se detecta a presença de esteatose na ultrassonografia ou o aumento das enzimas hepáticas nos exames de sangue".

A esteatose hepática pode evoluir com inflamação crônica no fígado, sendo um importante fator de risco para o desenvolvimento de cirrose hepática, com insuficiência gradual deste órgão e para o surgimento de câncer do fígado, às vezes inclusive com necessidade de transplante do fígado. "A doença gordurosa hepática aumenta o risco de doenças cardiovasculares, como o infarto do coração e o derrame cerebral, problemas renais e outros tipos de tumores associados à obesidade e distúrbios metabólicos", diz a médica. 

AS CAUSAS

O gastroenterologista Bruno Brandão Pavan, da Unimed Vitória, conta que as principais causas são o consumo crônico de álcool, a hepatite crônica pelos vírus B ou C e alguns tipos de hepatopatias (medicamentosas ou autoimunes). "Mas atualmente estamos observando um grande aumento de esteatose hepática por problemas metabólicos como obesidade, diabetes, dislipidemia e hipertensão arterial. Para esse subtipo damos o nome de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA)". 

O médico diz que é possível rastrear os pacientes mais suscetíveis através de consulta médica, alguns exames laboratoriais e um exame de imagem (geralmente ultrassonografia abdominal) e, dessa forma, orientar o tratamento.

"O atraso no diagnóstico pode significar uma doença em estágios mais avançados como, por exemplo, a cirrose, ou até mesmo outras complicações associadas como o câncer do fígado ou doenças ateroscleróticas (infarto ou derrame cerebral).

"O atraso no diagnóstico pode significar uma doença em estágios mais avançados como, por exemplo, a cirrose, ou até mesmo outras complicações associadas como o câncer do fígado ou doenças ateroscleróticas (infarto ou derrame cerebral).

Bruno Brandão Pavan

Já para o tratamento da DHGNA é fundamental uma mudança no estilo de vida, com realização de atividades físicas rotineiras, emagrecimento gradual de cerca de 10% do peso corporal, dieta acompanhada com nutricionista, além do controle do diabetes e dislipidemia.

CONFUSÃO MENTAL

A gastroenterologista Tabata Cristina Alterats, do São Cristóvão Saúde, diz que, em geral, os pacientes notam os sintomas das causas e não algo especifico do fígado. "Um exemplo é o aumento da sede nos pacientes com diabetes, ou aumento da circunferência abdominal em pacientes com síndrome metabólica. Ainda no diabetes temos a acantose nigricans, que são manchas negras em locais de dobra do corpo". 

A médica explica que em casos graves, pode ocorrer acúmulo de líquido no abdômen, hemorragias e confusão mental. "Quando temos a hepatopatia crônica, ou seja, a fase final da esteatose onde a fibrose hepática já está instalada no fígado temos essas complicações. O líquido é chamado de ascite e se dá devido a filtração errada do fígado doente levando a acumulo desse líquido em todo abdômen", conta Tabata Cristina Alterats. 

Hemorragias podem ocorrer principalmente pela boca, chamada hemorragia digestiva alta , que é causada em geral pela ruptura de varizes de esôfago ou gástricas. "Estas acontecem devido o aumento da pressão de uma veia que sai do fígado chamada 'sistema portal' e leva ao aumento do calibre de todas as veias que saem dele, inclusive do esôfago e do estômago, podendo aumentar pressão e romper essas veias, levando a hemorragia", explica a gastroenterologista.

A hepatologista Perla Oliveira Schulz Mamone também ressalta que a doença gordurosa hepática pode evoluir, em casos mais graves, para a cirrose hepática (resultado final de anos de inflamação no fígado) e suas complicações, como confusão mental, sonolência, agitação e até o coma. 

TRATAMENTO

Os especialistas ressaltam que não existe um remédio que tire a gordura do fígado. E o tratamento deve ser feito de forma individual. "O tratamento inicial mais efetivo é o não farmacológico, que visa a modificação do estilo de vida do indivíduo, com mudança dos hábitos alimentares, evitando o excesso de alimentos industrializados, ricos em gordura e carboidratos e a prática de exercícios físicos, ao menos 150 minutos por semana, priorizando as atividades aeróbicas", diz a hepatologista Perla Oliveira Schulz Mamone.

As atitudes listadas têm como objetivo a perda de peso gradual e de forma saudável. Deve-se evitar também o consumo de bebidas alcoólicas como parte do tratamento. "Juntamente com estas mudanças de hábitos, podemos fazer uso de medicamentos específicos que deverão ser indicados pelo médico especialista, conforme cada caso", finaliza Perla Oliveira Schulz Mamone.

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