Força vital, enigmática e estranha, que comparece no claro e no escuro. Crédito: Shutterstock
Manoel de Barros diz assim: "não preciso do fim para chegar!"
É exatamente o que sinto quando sento pra escrever, sina. Fecho os olhos, inspiro e assumo que escrevo a partir do estranho que me constitui, mesmo. E me batizo (com banho de cheiro), porque pareço com o que ainda não sei, admito. Depois amanso o passo e saio da jaula. Passeio por entre humanos, sem coleira, felina. (Ronrono escondido)
Aprendi a assumir formas que deem conta da minha alma, porque nisso eu tô sabida: é ela quem quer ser feliz!
Ela, meu escuro, meu estranho, esse princípio invisível que deseja expandir o desafio de estar vivo.
Minha alma, a peregrina dos saberes da grande aventura que chamamos de vida.
Ela, que sabe, mas só se manifesta em condições propícias.
Acredite, é através dela que invocamos o propósito – sagrado ofício. E não importa o serviço que se pratique, conquanto que envolva a construção da sintonia, do elo, uns com os outros e com o todo. (1+ 1 = 3, sabia?)
Pense comigo, vivemos na dualidade e duelamos porque não estamos sozinhos... Ora, nunca é o outro, mas também não é sem ele. De modo que para operarmos "distintos", mas sem separação, há de haver o fortalecimento dela que opera nas alturas e, ao mesmo tempo, no chão.
Alma!
Força vital, enigmática e estranha, que comparece no claro e no escuro, às vezes alegre, colorida, noutras dark, sinistra; águia, lebre, gata, depois serpente, leopardo, gorila. Não importa, quanto mais fortalecida, mais a alma precisa da arte – e mais a arte precisa dela.
(Finalmente o que interessa).
Porque a alma carece de espaço, de palco, de pista, cama, mesa, solo, tela, página em branco. Precisa da música, da literatura, do cinema e dos pequenos dramas (dos relacionamentos, romances e da arte contemporânea). Tanto para se refletir, quanto para se expressar, a alma precisa do fogão, do pente, do batom, do outro, da palavra, do papel, das tintas, do lápis, do violão e toda sorte de instrumentos de criação.
Ser feliz é o que ela quer! Lembra? Se expandir é o que ela precisa (pra chegar! Mesmo sem conhecer o fim). Portanto, não se engane, se alma tenta ser criativa, é para cocriar a própria vida.
E a arte, essa deusa descabelada, esse caminho sem fim, essa fada monstruosa, que também explora faminta o que seja o Maior sentido, até pode ser gigante, mas precisa de nossas pequeninas almas para existir.
Simples assim!
Concluindo, o caminho para transformação do estranho casulo, em significado alado e colorido, é o processo.
De modo que me sentar aqui para escrever mesmo sem saber aonde chegar, faz parte desse caminho. É minha a escolha de (me) transformar aquilo que não sei ainda. E se proponho esse risco (criativo) é pra dar espaço, abrir trilha, criar palco, pista e microfone pra essa velha sábia e esquisita que chamamos de alma, nessa nossa língua.
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