• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: as divas e seu potencial poder hipnotizador

Publicado em 25/06/2023 às 08h00
A cantora Beyonce

A cantora Beyoncé. Crédito: Folhapress/Folhapress

Ontem, passeando por uma loja de departamento, comprei por impulso um DVD do show da Beyoncé. Chegando em casa, coloquei no aparelho (só para conferir se era bacana mesmo) e tive uma surpresa: Beyoncé hipnotizou meu bebê.

Foi impressionante ver aquele pedacinho de gente, com nada além de ano e meio, vidrado com a cantora-diva-bailarina que dançava ao som de batidas arrepiantes e luzes explosivas.

Não é para menos! Ora, ninguém pode negar que ela é a própria encarnação da palavra "Diva". Além, é claro, de um fenômeno contemporâneo, um escândalo, uma estrela profissionalíssima, uma musa da soul-music e uma sereia. Divina!

Ok, você pode até torcer o nariz e dizer que não curte o estilo da moça, mas nem isso muda o fato de ela exercer influência (pesada) sobre milhões e milhões de pessoas.

Divas fazem história, mudam o rumo das coisas, criam estilo e movimentam fortunas.

Ah, essas musas... Fazer o quê se elas nos envolvem de tal forma que, de uma para outra hora, nos sentimos extremamente próximas. (Ou você duvida que eu e Beyoncé temos tudo a ver?)

Esse é o efeito-diva!

Uma mal disfarçada idolatria e um desejo de compreender (e conter) a raiz da potência que as habita.

(Fomentada, é claro, pela onipresença de sua imagem proporcionada pela mídia).

E por falar em mídia, me lembrei de levantar um argumento que prova que a admiração pelas divas não se trata de adolescência tardia...

Ora, não é de hoje que elas bagunçam o mundo. No início dos anos 1930, quando a Europa estava sob pressão do nazi-fascismo e o mundo se preparava para a possibilidade de uma segunda guerra, a América já produzia divas em série. E apesar da tensão agravada pela quebra da bolsa, o cinema, que até então se concentrava em Nova York (capital cultural-estratégica), discretamente se deslocou para um campo menos rude...

E assim, na ensolarada e neutra California, nasceu Hollywood.

Naquele período, apesar do furdunço mundo afora, a indústria cinematográfica crescia e os filmes, deixavam de ser mudos. De repente, nos sets de filmagem passou-se a ouvir a inédita frase ‘Silêncio no estúdio!’.

Com a entrada da voz humana, a audiência que, até então, se contentava apenas com as imagens da glamurosa Greta Garbo, por exemplo, pode conhecer a rouquidão de sua voz, que lhe conferia ainda mais sofisticação.

Sabe que na estreia de Greta num filme falado, 'Anna Christie', sua primeira frase foi: "Gimme a whiskey with ginger ale on the side, and don't be stingy, baby" (ou, em bom português, "me dá um wisky com soda, e sem usuragem, gracinha") – imagine só o impacto disso para a época.

Poder!

A partir daí, para além da imagem perfeita, brilhante, misteriosa e envolvente, a mulher ganhou voz (literalmente). Pronto! Com tanta inspiração, o mundo foi pouco a pouco sendo povoado por bonecas lindas, ousadas e cheias de personalidade.

Nota: lembre-se que Garbo e as demais divas de Hollywood eram seres irretocáveis e produzidas à perfeição. Aliás, a grande maioria das estrelas daquele período eram fisicamente alteradas. Era comum depilar as sobrancelhas para redesenhá-las com lápis; arrancar os cabelos da testa para deixá-la maior, tirar os dentes posteriores para aumentar a cavidade das bochechas e pintar os cabelos num tom platinado.

O problema é que com a tela do cinema exibindo tamanha perfeição, as mortais se encantaram (ou se confundiram) e, quando deram por si, já haviam estabelecido aquele tipo radical de beleza como padrão.

Enfim, décadas se passaram, mas a realidade atual não é lá muito diferente não...

A atitude alheia ainda nos impulsiona e o brilho ainda nos fascina. Ainda desejamos ser lindas, poderosas e magníficas. Ainda queremos ser profissionais respeitadas e tomar uma dose de whisky no fim do dia. E investimos na própria cultura sem descuidar do diâmetro da cintura. E frequentamos o divã, o salão de beleza e a academia. E temos, ainda que em segredo, guardado no peito, cada uma de nós, sua própria diva.

Ainda bem.

(Ei, mas só meu bebê e você sabem qual é a minha).

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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