• Maria Sanz

    É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

E se ao invés de interdependência, nossas relações fossem de mutualismo?

Publicado em 18/06/2023 às 07h00
Casal olhando as estrelas

É preciso coragem para se autoconhecer e identificar de onde vem a falta (de amor, afeto, segurança) que projetamos no outro. Crédito: Shutterstock

E se ao invés de interdependência, nossas relações fossem de mutualismo?

Nota: “mutualismo é uma relação (ecológica) que ocorre entre espécies diferentes e que beneficia todos os envolvidos na interação. Em virtude do caráter benéfico da associação, considera-se o mutualismo como um exemplo de relação harmônica”.

De modo geral nos relacionamos através dos afetos, que são ligações digamos... Especiais, que ultrapassam a lógica.

Aliás, se pensar bem, construímos nossas vidas em torno dessas conexões porque elas literalmente “nos afetam”. Nos marcam de uma determinada maneira que nos leva ao movimento, à manifestação de um sentimento.

Percebe? Os afetos são magnéticos.

É a liga: razão pela qual nos unimos.

Na vida comunitária, instintivamente criamos situações que nos acomodem emocionalmente, que apaziguem nossas angustias, e amenizem nossos medos. Assim, expandimos nossos escudos nos cercando de pessoas (ou afetos) e de símbolos (estrategicamente encharcados de sentidos, como o dinheiro, títulos, o conhecimento, etc).

E essa construção simbólica existe principalmente para aplacar um dos afetos primários, que é de todos, o mais intenso: o medo.

Medo de sofrer, de ficar só, de ser abandonado... Então o papel do outro é também o de anteparo (para nosso “eu” que deseja se sentir protegido, seguro, resguardado, amparado).

Mas e se estes mesmos afetos, pessoas ou símbolos que a princípio nos protegeriam, também podem ser os mesmos que nos causam dor?

É justamente pelo grau de conexão que “o medo de perder o elo” com o outro pode se tornar traumático... Quando a mera sensação de que essa ligação pode se romper causa pânico ou sensação de devastação, a relação se transforma em dependência.

A lógica da psique é na verdade simples: se esse elo me sustenta, como poderei viver sem ele?

Assim somos submetidos ou submetemos.

E é justo onde mora o perigo: nos envolvemos em situações de desamor em nome do afeto... (Pense nisso).

Relações abusivas se sustentam por causa dos elos afetivos.

Sem nos darmos conta, vamos nos tornando permissivos, nos anulando para não sofrer “o medo da perda” daquele ou daquela que à princípio simbolizava a proteção, o zelo e o carinho.

É preciso coragem para se autoconhecer e identificar de onde vem a falta (de amor, afeto, segurança) que projetamos no outro. Mas não somente identificar, identificar e agir. Assumir as rédeas do reencontro consigo.

Portanto, aprender a amar a si mesmo é encontrar a fonte do afeto do lado de dentro. Pode chamar de fé, de elo com o Eu Superior, de alma, como quiser!

Fato é que o amor maior mora dentro da gente. Eis a dádiva!

Torna-se um ser integral é encontrar o tom da harmonia. Escolher viver em benefício mútuo. Como a flor e a abelha... Seres simplesmente divinos, praticantes do mutualismo.

Nós humanos viemos da mesma matéria prima. Lembremos disso e nos conectemos todos, o quanto antes com isso.

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Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de HZ.

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