"Turma da Mônica Jovem" chega aos cinemas sem repetir a qualidade dos filmes anteriores

Vitória
Publicado em 21/01/2024 às 11h00
Turma da Mônica Jovem

Turma da Mônica Jovem está em cartaz nos cinemas do Estado. Crédito: Imagem Filmes

A "turminha" mais tradicional das histórias em quadrinhos brasileira voltou aos cinemas, porém com uma cara totalmente diferente. O que é bom e ruim ao mesmo tempo. A nova produção baseada nos personagens de Mauricio de Souza acompanha uma nova fase das crianças do bairro do Limoeiro, melhor, crianças não, jovens.

Turma da Mônica Jovem

Turma da Mônica Jovem, o filme, é baseado em quadrinho lançado em 2008. Crédito: MSP

Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, que estreou nos cinemas do Estado na quinta (18), desde seu anúncio contava com um desafio gigante. A produção precisava apresentar a mesma qualidade dos longas anteriores, Laços e Lições, mas, infelizmente, não alcança o feito.

TURMA DA MÔNICA E OS REFLEXOS DE UM PÉSSIMO ROTEIRO

O principal problema do projeto de Mauricio Eça e Christiano Metri é seu roteiro fraco. Um texto que parece não entender o que é a adolescência e a juventude. Todas as situações e comportamentos mostrados soam exagerados e gratuitos.

A fita parece pautada em uma fórmula de autoajuda feita para adolescente (sem exageros), mas falha em excluir a comunicação com os pais ou mesmo qualquer figura paterna. Não à toa que a Magali (Bianca Paiva) e o Cascão (Théo Salomão) são os únicos que falam ou interagem com alguma figura que funciona como uma espécie de mentor ou mentora.

O engraçado (e triste) é como o texto de um filme protagonizado por jovens consegue ter uma história mais imatura do que os que são protagonizados por crianças. Lições e Laços, baseados nas graphic novels homônimas de Lu Cafaggi e Vitor Cafaggi, possui um texto mais complexo, que remete a problemas comuns da infância e do início da adolescência. Em Reflexos do Medo o que vemos é um real medo do jovem.

Turma da Mônica Jovem

Turma da Mônica Jovem: filme não sabe se comunicar com seu público alvo. Crédito: Imagem Filmes

Somado a um roteiro ruim, temos uma direção um tanto perdida. Mauricio Eça direciona o longa e os atores no caminho dos títulos enlatados da comédia nacional (não desmerecendo a produção nacional, mas, honestamente, tem muita comédia brasileira ruim no mercado). Para que inovar se o cinema nacional acaba encontrando um certo "lugar de conforto" na comédia ruim?

Desde do lançamento do primeiro teaser era inevitável a comparação com os filmes anteriores. Infelizmente a nova produção não agradou à maioria dos fãs. Na coletiva de imprensa, que aconteceu terça (16), a atriz Bianca Paiva disse que estimulou os colegas de set a evitarem ler comentários de haters e falou ainda que eles deveriam "aproveitar a experiência".

Esse é um daqueles filmes que não consegue se esquivar das comparações, seja com produções nacionais, como Malhação, internacionais, como a série norte-americana Riverdale. Seja pela temática slice of life focada no ensino médio ou pelo terror infanto-juvenil (saudades dos filmes de terror para adolescente dos horários vespertinos da TV aberta).

Segundo o diretor do Audiovisual e Digital da MSP, Marcos Saraiva, a proposta de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é justamente atrair o público adolescente. Ele chegou a revelar que umas das referências para esse longa é a série da Netflix, Stranger Things, o que eleva um pouco mais o sarrafo do desafio. 

NOVO ELENCO

Tal desastre nada tem a ver com o elenco totalmente novo. Muito pelo contrário. Os jovens atores se esforçam para entregar personagens carismáticos. Mas poucos realmente convencem.

A que melhor parece entender seu papel é a já citada Bianca Paiva, a Magali, que, desde o primeiro trailer, apresentava uma interpretação mais simpática. Uma personagem menos realista (já que ela é uma feiticeira, sim, isso mesmo) e leve.

Bianca Paiva, interprete da Magali

Bianca Paiva, interprete da Magali. Crédito: Divulgação

O Cascão de Théo Salomão também é uma grata surpresa. Não pelo parkour que o personagem executa (que não colabora em nada com a história), mas como um excelente alívio cômico ao longo da história.

Se juntando a esse grupo temos a Giovanna Chaves e sua Carminha Frufru, principal rival da Mônica. Apesar de ser deixada de lado logo no início do filme, ela é a que melhor representa os conflitos da juventude.

Giovanna Chaves, interprete da Carminha Frufru

Giovanna Chaves, interprete da Carminha Frufru. Crédito: Divulgação

Os demais personagens são interpretados de uma forma um tanto forçada. Se a Mônica (Sofia Valverde) se sente frustrada ou confrontada, ela sempre explode e destrói (acidentalmente) o que está ao seu redor e depois chora (a garota meio que faz birra). 

Cebolinha, ou, melhor, Cebola (Xando Valois), quase em todos os momentos que contracena com Mônica, soa como uma cópia de qualquer esquete do Didi (Renato Aragão), em Os Trapalhões. Porém, Cebolinha (sim Cebolinha mesmo) consegue até ter certo carisma em alguns momentos.

PROTAGONISMO

Dois personagens ganharam um certo protagonismo: Milena (Carol Ribeiro) e Do Contra, ou DC (Yuma Ono). Ela parece uma enciclopédia ambulante, despejando informações aleatoriamente. Já DC é um poço sem fim de citações filosóficas (certamente ele lê Caio Fernando Abreu). 

Outro destaque fica para a equipe de sonoplastia. Os efeitos sonoros nesse filme brilham. E começar o filme com "Tempo Perdido" do Legião Urbana, foi uma boa sacada. Porém, totalmente desperdiçada, pois em momento algum o filme se volta novamente para as músicas nacionais.

Se Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo tivesse direção e roteiro melhores, talvez… (ressalto), talvez, o filme seria mais compensador e agradável de se assistir.

MAIS PROJETOS DA MAURICIO DE SOUSA PRODUÇÕES (MSP)

Dependendo da reação do público (que é mais importante do que a da crítica especializada) e da bilheteria, o plano de uma quadrilogia de filmes pode se tornar um investimento muito arriscado.

Os dois primeiros filmes (disponíveis na Prime Vídeo e Globoplay) e a série (no Globoplay) da turminha do Bairro do Limoeiro foram dirigidos pelo indicado ao Oscar Daniel Rezende, que possui visão e sensibilidade, além do respeito pela obra original, que dão um tom aos projetos muito semelhante às produções infantis da TV Cultura dos anos 1990.

A próxima produção da MSP será "Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa" (esse sim promete ser incrível), com lançamento previsto ainda para 2024. O filme do menino caipira será dirigido por Fernando Fhaiha, diretor, roteirista e ganhador do Emmy de Melhor comédia Internacional em 2020 por "Ninguém Tá Olhando" e membro da TV Quase (mais conhecida pelo Choque de Cultura).

Também estão em produção a animação do Horácio, com envolvimento de Carlos Saldanha (Rio, Era do Gelo e Cidade Invisível) e o filme prequel Turma da Mônica: Origens, que teve elenco anunciado e segue sem data de lançamento.

Também foram anunciadas novas séries dentro do universo da Mônica. Entre os projetos estão "Franjinha e Milena: Em Busca da Ciência" e a animação adulta "Astronauta: Propulsão". As duas serão lançadas pela HBO MAX. É a turma da Mônica expandindo seus horizontes através do tempo e espaço.

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