BaianaSystem: Russo Passapusso fala do show no Festival Baile Voador

Banda baiana é uma das atrações do evento, que acontece no Clube Álvares Cabral, em Vitória, nesta sexta (25) e sábado (26). Músico ainda falou sobre pandemia e carreira

A banda BaianaSystem é uma das atrações do Festival Baile Voador

A banda BaianaSystem é uma das atrações do Festival Baile Voador. Crédito: Luiz Franco

A sonoridade mistura reggae, axé, ritmos africanos, rock, ska, música jamaicana e batidas eletrônicas. A (ousada) salada de estilos musicais faz da BaianaSystem - criada em 2009, com oito discos lançados - um dos nomes mais interessantes de nova cena cultural da música popular brasileira.

Voltando aos poucos com a turnê "Sulamericano Show", interrompida em 2020 por conta da pandemia da Covid-19, agora com o subtítulo de "Versão Brasiliana", os baianos aterrissam em Vitória neste fim de semana para agitar o carnaval do Festival Baile Voador, que acontece sexta (25) e sábado (26), no Álvares Cabral.  

Vocalista da banda, Russo Passapusso conversou com "HZ", garantindo que apresentação trará um pouco do novo álbum dos artistas, "OxeAxeExu" (2021), uma louvação à música latina, mas que também será uma espécie de laboratório, uma forma de reaproximar a BaianaSystem dos fãs após dois anos de afastamento por conta da crise sanitária.

Penso que o show será uma relação de humildade, para que a gente aprenda com o público a realidade que está acontecendo nas ruas. Como diz a música 'Reza Forte' (gravada em parceria com BNegão), estamos em uma 'relação de cura'

Abaixo, confira trechos do bate-papo, que ainda abordou as influências da cultura africana na sonoridade da banda, a vitória no Grammy Latino em 2019, com o disco "O Futuro não Demora", e a polarização política por qual passa o Brasil. "Cada dia, semana e hora que passa, vemos mais atrocidades acontecendo", afirma Russo.

Vocês vão trazer para Vitória o show "Sulamericano - Verão Brasiliana". Será realmente um clima de carnaval brasileiro mesclado a sonoridades sul-americanas?

É um show que foi colocado no hiato da história, criado no processo da pandemia da Covid-19. Nesse meio tempo, lançamos o disco "OxeAxeExu", que é uma espécie de versão "brasiliana", pois haverá músicas que remetem a esse trabalho, como "Reza Forte" e "Corneteiro Luiz", que dialogam com a relação que temos junto a identidade sul-americana, ou melhor, do brasileiro como sul-americano. Mas não podemos esquecer que estamos em uma pandemia, então, também será um show de relação com o público falando dos cuidados necessários para vencer essa fase. Vejo como uma manifestação de conscientização. Esse será o nosso segundo show após dois anos parados (por conta da crise sanitária). Penso que a apresentação terá uma relação de humildade, para que a gente aprenda com os fãs a realidade que está acontecendo nas ruas. Como diz a música "Reza Forte" (gravada em parceria com BNegão), estamos em uma "relação de cura".

Essa é a segunda apresentação da banda em Vitória. A primeira foi durante o Viradão 2019, gratuito e ainda em um período pré-pandêmico, acompanhado por uma multidão extasiada. Essa experiência foi marcante para vocês?

Lembro desse show e lembro da forte presença dos movimentos culturais do Estado, de jovens falando de tambor e demais sonoridades. Foi importante chegar em Vitória e sabermos que ali existiam outras "batidas". O Baiana conseguiu uma comunicação direta com o público, de total harmonia e entendimento da nossa diversidade cultural.

Em entrevista ao jornal A Gazeta, em 2019, Beto Barreto (baterista da banda) afirmou que existe na música brasileira uma forte relação sociocultural vinda de Estados que contam com a latência da cultura africana. Isso inclui, além da Bahia, locais como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Aqui, temos a presença do congo, por exemplo. Como essa matriz e ancestralidade influencia no som de vocês?

(A cultura africana) É mais do que influência. Como você mesmo ressaltou, é a matriz do nosso som. A força do BaianaSystem está presente em várias dessas manifestações culturais africanas. Quando você ouve o Kuduro, em Angola, também absorvemos um pouco desse diálogo e influência. Temos os tambores da Bahia como um referencial, mas também a força da música do Rio e do congo, que vocês "mergulham" aí (no Espírito Santoi)!

Gosto dessa mistura que o BaianaSystem faz de rock, reggae e música eletrônica, com a forte presença da africanidade. Seria exagero afirmar que vocês fazem um som "Afrofuturista"?

Sim, mas "Afrofuturista" a partir do momento em que a gente também olha para o passado, para aprender com a nossa ancestralidade.  Temos uma visão artística de "plantar" no presente para "colher" no futuro.  A gente sempre está ouvindo, pesquisando e reverenciando nomes fortes da música brasileira, como Bule-Bule (repentista, escritor e poeta baiano), Djalma Corrêa e Mateus Aleluia, além de coisas do sertão, como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Isso tudo é muito forte e, para nós, também dialoga com o futuro. O engraçado é que há uma confluência do passado falando com o futuro. Acho que esse nosso "Afrofuturismo" passa muito pela autoconsciência que temos do que vem pela frente. Há, também, a relação do rock, que vem do blues, da música preta, assim como o reggae. Já a música eletrônica vem dessa cultura "Sound System", que está muito "amarrado" dentro dessa esfera. No fundo, tudo isso é música preta. 

Como a vitória no Grammy Latino em 2019, com o disco "O Futuro não Demora", influenciou na carreira de vocês? Abriu as portas para o mercado exterior?

O mais importante do prêmio é o reconhecimento para as pessoas que fizeram parte desse trabalho. Foi um disco "construído" na Ilha de Itaparica (Bahia), com os pesquisadores da área, pessoas que fazem parte daquela cultura. A música é o resultado disso. O trabalho do Baiana funciona muito assim: a gente vai, pesquisa, convive e nossa música é resultado dessa convivência, dessa história. 'Samba de Lata Tijuaçu' e Lourimbau, grande compositor, artesão e instrumentista que trabalha com o berimbau, gravaram com a gente. Portanto, também foram vencedores desse prêmio. Essa conquista rendeu um grande brilho ao nosso trabalho, abriu portas e conseguimos colocar a cultura antes do entretenimento. 

A banda emplacou duas músicas em aberturas de novelas da Rede Globo. A primeira foi em "Segundo Sol", em 2018, e, recentemente, com a faixa "Sulamericano", abrindo "Um Lugar ao Sol", atualmente em cartaz. Essas participações ajudam vocês a entrar em um nicho mais popular, que normalmente não seria alcançado?

Quando a gente coloca uma música em uma novela, certamente nosso trabalho chega aos ouvidos que não teriam chegado de forma "natural". Ainda mais no caso do BaianaSystem, que gosta de cair na estrada e, por conta da pandemia, só voltamos às turnês agora. Quando nosso trabalho está em uma novela, se comunicando com outras artes, sempre conseguimos abrir uma porta. Somos uma banda que dialoga com o audiovisual, imagens e pesquisas. A novela casa de forma importante com essa tendência. A gente dialoga com os personagens, com a teledramaturgia. 

Recém-falecida, Elza Soares relatou que o BaianaSystem carrega "bandeiras políticas e sonoras" do Brasil. Como uma frase desse quilate pode mostrar potência, especialmente em um país polarizado como o Brasil e governado pela extrema-direita, conhecida por retirar direitos sociais da população?

Essa frase da Elza só confirma a grandiosidade do processo de nosso trabalho. A gente tem certeza da transformação que a nossa música causa, principalmente porque ela é capaz de nos transformar também. Sinto isso quando toco, canto e ouço meus parceiros de grupo tocarem. A música "Libertação" (gravada em parceria com Elza Soares em 2019), fala de ancestralidade, da força dessa música preta. Essa libertação faz com que a gente se sinta asfixiado dentro desse governo. Soa como um pedido de "quero respirar". Cada dia, semana e hora que passa, vemos mais atrocidades acontecendo. As piadas já não têm mais graça e os absurdos já não são inaceitáveis. As técnicas e táticas são sujas no meio virtual, tudo para que eles tentem vencer essa "guerra". A gente mantém essa força de resistência sempre lembrando de Marielle (Franco, vereadora assassinada em 2018, no Rio de Janeiro, em um crime ainda sem solução) e de várias outras pessoas que deram a vida por isso. A política é um ato de viver, de respirar.

O Carnaval de Salvador foi cancelado por conta da Covid-19. O que afetou na programação de vocês? Aliás, como a Baiana está enfrentando a pandemia e as restrições das apresentações presenciais?

Fazemos um trabalho bem amplo em termos de linguagens artísticas. Estamos trabalhando com audiovisual, trilha sonora, fazendo shows e apresentações para videogames virtuais. Somos um grupo que levanta temas e assuntos. Portanto, se não pode haver apresentações presenciais, "afloramos" de outra forma. Lançamos o disco "OxeAxeExu", entre 2020 e 2021, para falar sobre essa realidade que passamos durante a pandemia. Nesse potencial de transição, estamos tentando achar outros caminhos para seguir a nossa relação com a arte. Em relação ao carnaval, há uma questão ética, que traz outro viés. É um momento para a gente conseguir entender como chegar aos shows. Essa apresentação que vamos fazer em Vitória, por exemplo, é um laboratório, até para entendermos como está funcionando a cabeça das pessoas. Teremos algumas respostas, como o cuidado que elas vão ter para se divertir e o que estão dispostas a receber como mensagem, tanto nos ouvidos como no coração. 

FESTIVAL BAILE VOADOR

  • QUANDO: Sexta (25) e sábado (26) 
  • ONDE: Clube Álvares Cabral, em Vitória
  • INFORMAÇÕES: Programação completa e venda de ingressos no site do festival 

  • INGRESSOS

  • PASSAPORTE (entrada para os dois dias do evento)
  • Espaço Voador
  • Inteira: R$ 320
  • Meia: R$ 160
  • Eco Ingresso: R$ 180

  • Pista Voadora
  • Inteira: R$ 220
  • Meia: R$ 110
  • Eco Ingresso: R$ 130

  • SEXTA-FEIRA (25)
  • Espaço Voador
  • Inteira: R$ 220
  • Meia: R$ 110
  • Eco Ingresso: R$ 120

  • Pista Voadora
  • Inteira: R$ 160
  • Meia: R$ 80
  • Eco Ingresso: R$ 90

  • SÁBADO (26)
  • Espaço Voador
  • Inteira: R$ 240
  • Meia: R$ 120
  • Eco Ingresso: R$ 130

  • Pista Voadora
  • Inteira: R$ 180
  • Meia: R$ 90
  • Eco Ingresso: R$ 100

PROGRAMAÇÃO

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