Publicado em 29 de outubro de 2021 às 16:15
Os sucessivos aumentos dos combustíveis têm transformado a ida ao posto para abastecer em um momento de tensão para motoristas. Afinal, desde o início do ano, segundo projeção feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/subseção FUP), o preço da gasolina subiu 67,2% nas refinarias da Petrobras, e nos postos de revenda, 41,5%. No mesmo período, o óleo diesel aumentou 64,7% nas refinarias, e 39,1% nos postos. Já o gás de cozinha teve aumento de 48% nas refinarias e de 35,8% nos pontos de revenda. >
A título de comparação, nos mesmos meses, a taxa de inflação acumulada, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 6,90% e, nos últimos 12 meses, em 10,25%. Enquanto isso, o salário-mínimo não tem aumento desde 2016. Na Grande Vitória, o litro da gasolina tem custado, em média, R$ 6,49 e há perspectivas de novos aumentos até o final do ano.>
Dados do Dieese, com base nas estatísticas oficiais da Petrobrás (refinarias) e da Agência Nacional de Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural (postos) apontam que nos últimos cinco anos – de outubro de 2016 a outubro de 2021 - as altas, nas refinarias, foram de 107,7% para a gasolina, de 92,1%, para o diesel, e de 287,9% para o gás de cozinha. Neste mesmo período, a inflação foi de 25,4%, medida pelo IPCA/IBGE. Enquanto isso, o salário-mínimo não teve ganho real. Ao contrário, variou 25%, abaixo da inflação.>
Esse período de cinco anos corresponde à criação da Política de Preços de Paridade de Importação (PPI), usada desde 2016 para definir o preço da gasolina e de outros derivados de petróleo que abastecem os veículos e casas dos capixabas e brasileiros. >
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Criada em 25 de outubro de 2016, a PPI inclui no cálculo do valor do combustível e gás de cozinha variantes internacionais, como o preço do dólar, que já gira em torno de R$ 5,59, frente ao real que registrou desvalorização de 31% desde 31 de dezembro de 2019. Também entra nessa política de preços custos de transporte e a variação do barril de petróleo, que tem oscilado. No dia 26 de outubro, o valor cotado já era de US$ 83,65 (cerca de R$ 467,33).>
“Com isso, o preço dos derivados de petróleo fica refém do óleo internacional. Ou seja, se o valor do barril de petróleo subir, a gasolina, o diesel, o gás, aumentam. Se reduzir, eles também reduzem, como aconteceu no ano passado, quando houve uma queda no valor dos combustíveis, registrando o menor preço em dois anos. Mas com o controle da pandemia, houve uma retomada de consumo e os preços voltaram a subir”, avalia a pesquisadora especializada na análise dos preços do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Carla Ferreira.>
Dentro da composição do preço dos combustíveis também entram os impostos, mas contrário do que vem sendo dito, zerar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) resultaria apenas em uma redução de preços momentânea até as próximas altas do petróleo ou mesmo do dólar, avalia a pesquisadora. >
“Se zerar o ICMS no diesel, este corresponde a 16% do valor, já na gasolina, é 27,5% do preço. Com isso, pode ocorrer uma redução de preços, mas o ICMS é uma das maiores arrecadações de Estados e municípios, e se estão arrecadando mais hoje é porque o preço final do combustível para o consumidor aumentou. E a maior participação no preço final quem tem é a Petrobras, que corresponde entre 33% a 34% na gasolina e 52% no diesel”, pondera.>
Carla lembra que, antes da Petrobras adotar a PPI, o ICMS arrecadado por Estados e municípios era o mesmo percentual praticado ainda hoje. E no caso do Espírito Santo, o governo do Estado, em setembro, decidiu congelar a atualização do Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final (PMPF) pelos próximos meses, caso sejam registrados novos aumentos no preço dos derivados de petróleo. >
O PMPF é a base de cálculo para cobrança do ICMS. Segundo nota emitida pelo governo do Estado, a não atualização do PMPF vem sendo feita desde julho para o gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha.>
Por outro lado, está em curso a votação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 11/2020 , que muda a regra do cálculo do ICMS sobre combustíveis e o gás de cozinha, definindo um valor fixo para a apuração do imposto cobrado pelos Estados. Para o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES) Etory Feller essa lei não vai representar uma redução significativa na gasolina e ainda vai prejudicar os Estados.>
“O Estado vai perder muito, assim como o cidadão, que perde em duas frentes: vai continuar pagando caro na gasolina, diesel e gás de cozinha, pois o PPI não vai deixar de existir e perderá as contrapartidas dos impostos pois teremos menos aportes em educação, saúde e segurança”, avalia.>
Atualmente, o Brasil ocupa a nona posição dos maiores produtores de petróleo. No entanto, a gasolina consumida no país não é produzida em solo brasileiro e sim importada. Isso também é outro fator que faz com que o preço dos combustíveis sofra alterações com frequência, já que estão sujeitos à variação do dólar. No entanto, se o país está entre os maiores produtores de petróleo, por que importa gasolina ao invés de realizar o refino da mesma? >
Segundo o diretor do Sindipetro-ES, Valnísio Hoffmann, é necessário investimento para que as refinarias da Petrobras façam a adequação do refino de alguns tipos de óleo. “A Comperj seria um grande complexo petrolífero no Rio de Janeiro, mas foi abandonada. Tem óleo mais leve e óleo mais pesado e cada poço tem uma característica na composição do petróleo e as refinarias precisam se adequar para conseguir refinar”, conta.>
Outro fator, segundo Hoffmann, é que a Petrobras está operando abaixo da sua capacidade de refino. “Essa decisão foi tomada pelo próprio governo federal, que também está vendendo as refinarias. Os compradores estão pensando em transformar a refinaria da RLAM, na Bahia, em área de estocagem em vez de refinar. Eles trariam combustível de outros países em vez de refinar aqui”, afirma.>
Por outro lado, Hoffmann afirma que os petroleiros não são contra a construção de mais refinarias de empresas estrangeiras no Brasil. “Defendemos que as empresas construam mais refinarias aqui no Brasil, em vez de comprar por preço de banana as da Petrobras. E também não somos contra a importação pontual de combustíveis, porém não se pode obrigar a Petrobras a reduzir sua capacidade e a seguir esses preços de importação, pois prejudicam a economia nacional como um todo”, avalia.>
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