Publicado em 26 de setembro de 2019 às 07:35
Em manifestação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República interino, Alcides Martins, defendeu a operação de busca e apreensão da Polícia Federal que vasculhou gabinetes do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). A posição é diametralmente oposta à expressada pela ex-procuradora-geral Raquel Dodge, que havia apontado "pouca utilidade prática" na medida. Autorizada pelo relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, a operação abriu uma nova crise entre o Congresso e o Supremo.>
Martins também afirmou que as informações colhidas na investigação permitem concluir "além de qualquer dúvida razoável" que o senador e o deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM-PE) "receberam vantagens indevidas obtidas com as obras Canal do Sertão e a Transposição do Rio São Francisco".>
"Apesar da manifestação contrária da então procuradora-geral, entendo que se faziam presentes os requisitos para o deferimento de todas as medidas requeridas pela autoridade policial", escreveu o PGR interino Alcides Martins. Ele acrescentou que as medidas requeridas pela PF se mostraram "imprescindíveis para a investigação em curso".>
A PGR enviou uma nova manifestação depois que foi notificada por Barroso do resultado das diligências realizadas pela Polícia Federal e do pedido de Bezerra Coelho para derrubar a operação e suspender a análise do material apreendido.>
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Alcides Martins afirmou ao STF que as provas colhidas durante a investigação até junho de 2019 constituem "lastro razoável" de que Bezerra Coelho solicitou, por meio do seu operador, Iran Padilha Modesto, e ao que tudo indica, recebeu para si e para seu filho Fernando Bezerra Coelho Filho vantagem indevida em razão da função pública de Ministro de Estado (Ministro da Integração) e Senador da República. O parlamentar é investigado por recebimento de propina de R$ 5,5 milhões.>
Há, segundo Martins, "perfeita convergência de informações" sobre locais, datas, valores e circunstâncias obtidos pela PF, por diversas fontes, o que permite concluir - "além de qualquer dúvida razoável" - que Fernando Bezerra Coelho e o deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho "receberam vantagens indevidas obtidas com as obras Canal do Sertão e a Transposição do Rio São Francisco".>
Para o PGR interino, o líder do governo no Senado "também dissimulou a origem dos valores recebidos diretamente de infração penal, através de um esquema de lavagem de capitais, envolvendo empresários, pessoas jurídicas, operadores e outros políticos".>
Martins está de despedida da função. Na noite desta quarta-feira, 25, Augusto Aras foi nomeado novo procurador-geral, após sabatina no Senado e publicação do nome pelo presidente Jair Bolsonaro no Diário Oficial da União.>
A reportagem aguarda resposta do senador e do deputado federal.>
POUCA UTILIDADE>
A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, havia alegado que "não há indícios" de que Fernando Bezerra Coelho "registrasse os atos praticados, pois, ao contrário, adotou todas as medidas para manter-se longe deles, de modo que a medida invasiva terá pouca utilidade prática".>
Raquel se disse de acordo com as buscas em todos os endereços solicitados pela Polícia Federal, exceto os do senador Bezerra Coelho.>
Barroso, ao concordar com a PF, rebateu Dodge. "O argumento da Procuradoria-Geral da República contra a realização de busca em endereços de Fernando Bezerra de Souza Coelho não é convincente", disse.>
"Na criminalidade organizada econômica, porém, o natural é que todos os envolvidos tentem ocultar provas e não evitar deixar registros de seus atos. A medida cautelar serve justamente para tentar encontrar documentos mantidos sigilosamente, longe dos olhos do público e das autoridades de investigação", justificou o ministro do STF.>
O fato de a PGR não ter pedido as buscas nos endereços do senador foi citado pela defesa de Bezerra Coelho ao questionar as medidas autorizadas pelo ministro do Supremo.>
"Se o próprio titular da persecutio criminis não tinha interesse na medida extrema, causa ainda mais estranheza a decretação da cautelar pelo ministro em discordância com a manifestação do MPF", disse o advogado André Callegari.>
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