Os capixabas vêm escolhendo para representá-los nas prefeituras, parlamentos e governo políticos com níveis maiores de formação educacional. Ao longo dos últimos 20 anos, tem crescido a proporção de eleitos com alguma formação acadêmica no Espírito Santo e caído a parcela daqueles que estudaram até o ensino fundamental.
A conclusão é de levantamento realizado pelo G.Dados, o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, a partir das informações prestadas pelos candidatos à Justiça Eleitoral.
A análise considerou todas as eleições realizadas no Estado entre 1998 e 2018 para os cargos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador.
O perfil educacional dos políticos é mais um conteúdo da série Retrato das Urnas, publicada pelo Gazeta Online desde a última segunda-feira (19). As reportagens mostraram, por exemplo, que apenas 17 parlamentares mulheres foram eleitas no Estado desde 1998 e que 44 cidades nunca tiveram um representante na Assembleia Legislativa.
Nas eleições estaduais de 1998, 60,4% dos eleitos pelos capixabas declaram o ensino superior completo. No pleito do ano passado, 86%. O aumento da presença de políticos com formação superior tem sido gradual nas eleições estaduais.
Nos pleitos municipais, quando são eleitos prefeitos e vereadores, políticos responsáveis pelo primeiro atendimento de demandas específicas das cidades, também há crescimento no nível de escolaridade.
Em 2000, primeira eleição municipal desta série histórica, os vereadores e prefeitos com diploma universitário eram 17,4%. Em 2016, passaram para 27,7%.
O crescimento é significativo, mas aqueles que estudaram até o ensino médio representam a maior parte dos políticos municipais. Eram 34,4%. Por último, viraram 42,8%.
Nem sempre foi assim. Em 2000 e 2004, o maior grupo de vereadores e prefeitos eleitos era aquele formado por lideranças que só estudaram até o ensino fundamental, concluindo-o ou não.
DOUTORES
Ter mais gente com melhor instrução formal melhora a política e a qualidade do debate sobre políticas públicas? Não necessariamente, avaliam especialistas.
O doutor em Ciência Política Paulo Edgar Resende pontua que uma maior escolaridade aumenta a tendência de um indivíduo ser mais apto a tomar melhores decisões. Mas é só isso, tendência.
O especialista também salienta que a democracia será melhor quanto maior for a diversidade de pessoas sendo representadas. Daí, "é plenamente compreensível e até salutar a presença de políticos com baixo nível de escolaridade e renda, já que no Brasil esse perfil social conforma uma grande parcela da população".
Político que completou apenas o Ensino Fundamental, o metalúrgico Lula está condenado e preso. O mesmo destino tiveram os "doutores" Paulo Maluf, engenheiro, e Eduardo Cunha, economista. "A formação educacional é uma coisa positiva e devemos estimulá-la, mas não é condição sine qua non (indispensável) para ser político", assinalou o historiador Rafael Simões.
REALIDADES
Adilson Espíndula (PTB) está no primeiro mandato de deputado estadual. Político baseado em Santa Maria de Jetibá, onde teve cinco mandatos de vereador consecutivos, é um dos três membros da Assembleia que declararam o Ensino Médio completo.
Filho de agricultores, conta não ter tido oportunidade de buscar um diploma, mas que aprendeu praticando os princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência da administração pública.
"Como vereador, sempre tive uma boa assessoria para me orientar que, aliada à minha dinâmica de trabalho incansável, me deu conhecimentos suficientes para prosseguir o meu trabalho no legislativo. Eleito deputado, sinto-me qualificado e tecnicamente preparado", disse.
Historiador, o professor Rafael Simões frisa que o crescimento do nível de escolaridade dos políticos acompanha a mesma evolução na sociedade, em geral. Para ele, a característica permite que projetos sejam analisados de maneira mais qualificada.
Contudo, o avanço não é automático. "É algo positivo, mas não significa necessariamente valores, preocupação com o cidadão, com os interesses da sociedade. Nosso sistema educacional, para além de uma formação focada em conhecimento, apenas, deve apostar mais tempo na formação humana e ética", frisou.
Veja a série "Retratos das urnas" completa
Entenda: o que é o G.Dados?
É o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, que visa qualificar e ampliar a produção de reportagens baseadas em dados. Jornalismo de dados é o processo de descobrimento, coleta, análise, filtragem e combinação de dados para contar histórias.
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