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Nível de escolaridade dos políticos do ES cresceu nos últimos anos

Nível de escolaridade dos políticos do ES cresceu nos últimos anos

Desde 1998, parcela de eleitos com diploma vem crescendo. Mas perfil de políticos em cargos municipais e estaduais ainda é muito diferente

Publicado em 25 de agosto de 2019 às 12:28

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Assembleia Legislativa: nas eleições estaduais de 2018, na qual foram eleitos os parlamentares da Casa, 86% declararam ter ensino superior . (Marcelo Prest)

Os capixabas vêm escolhendo para representá-los nas prefeituras, parlamentos e governo políticos com níveis maiores de formação educacional. Ao longo dos últimos 20 anos, tem crescido a proporção de eleitos com alguma formação acadêmica no Espírito Santo e caído a parcela daqueles que estudaram até o ensino fundamental.

A conclusão é de levantamento realizado pelo G.Dados, o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, a partir das informações prestadas pelos candidatos à Justiça Eleitoral.

A análise considerou todas as eleições realizadas no Estado entre 1998 e 2018 para os cargos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador.

O perfil educacional dos políticos é mais um conteúdo da série Retrato das Urnas, publicada pelo Gazeta Online desde a última segunda-feira (19). As reportagens mostraram, por exemplo, que apenas 17 parlamentares mulheres foram eleitas no Estado desde 1998 e que 44 cidades nunca tiveram um representante na Assembleia Legislativa.

Nas eleições estaduais de 1998, 60,4% dos eleitos pelos capixabas declaram o ensino superior completo. No pleito do ano passado, 86%. O aumento da presença de políticos com formação superior tem sido gradual nas eleições estaduais.

 

Nos pleitos municipais, quando são eleitos prefeitos e vereadores, políticos responsáveis pelo primeiro atendimento de demandas específicas das cidades, também há crescimento no nível de escolaridade.

Em 2000, primeira eleição municipal desta série histórica, os vereadores e prefeitos com diploma universitário eram 17,4%. Em 2016, passaram para 27,7%.

O crescimento é significativo, mas aqueles que estudaram até o ensino médio representam a maior parte dos políticos municipais. Eram 34,4%. Por último, viraram 42,8%.

 

Nem sempre foi assim. Em 2000 e 2004, o maior grupo de vereadores e prefeitos eleitos era aquele formado por lideranças que só estudaram até o ensino fundamental, concluindo-o ou não.

DOUTORES

Ter mais gente com melhor instrução formal melhora a política e a qualidade do debate sobre políticas públicas? Não necessariamente, avaliam especialistas.

O doutor em Ciência Política Paulo Edgar Resende pontua que uma maior escolaridade aumenta a tendência de um indivíduo ser mais apto a tomar melhores decisões. Mas é só isso, tendência.

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a história, temos políticos com alta escolaridade que não necessariamente fizeram boas gestões, e políticos com baixa escolaridade que foram bem. O exemplo do Lula é o mais óbvio. Goste-se ou não, ele saiu com governo bem avaliado, devido a acertadas decisões políticas que beneficiaram um número elevado de pessoa

Paulo Edgar Resende - Doutor em Ciência Política
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O especialista também salienta que a democracia será melhor quanto maior for a diversidade de pessoas sendo representadas. Daí, "é plenamente compreensível e até salutar a presença de políticos com baixo nível de escolaridade e renda, já que no Brasil esse perfil social conforma uma grande parcela da população".

Político que completou apenas o Ensino Fundamental, o metalúrgico Lula está condenado e preso. O mesmo destino tiveram os "doutores" Paulo Maluf, engenheiro, e Eduardo Cunha, economista. "A formação educacional é uma coisa positiva e devemos estimulá-la, mas não é condição sine qua non (indispensável) para ser político", assinalou o historiador Rafael Simões.

REALIDADES

Adilson Espíndula (PTB) está no primeiro mandato de deputado estadual. Político baseado em Santa Maria de Jetibá, onde teve cinco mandatos de vereador consecutivos, é um dos três membros da Assembleia que declararam o Ensino Médio completo.

Filho de agricultores, conta não ter tido oportunidade de buscar um diploma, mas que aprendeu praticando os princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência da administração pública.

"Como vereador, sempre tive uma boa assessoria para me orientar que, aliada à minha dinâmica de trabalho incansável, me deu conhecimentos suficientes para prosseguir o meu trabalho no legislativo. Eleito deputado, sinto-me qualificado e tecnicamente preparado", disse.

Historiador, o professor Rafael Simões frisa que o crescimento do nível de escolaridade dos políticos acompanha a mesma evolução na sociedade, em geral. Para ele, a característica permite que projetos sejam analisados de maneira mais qualificada.

Contudo, o avanço não é automático. "É algo positivo, mas não significa necessariamente valores, preocupação com o cidadão, com os interesses da sociedade. Nosso sistema educacional, para além de uma formação focada em conhecimento, apenas, deve apostar mais tempo na formação humana e ética", frisou.

Veja a série "Retratos das urnas" completa

Entenda: o que é o G.Dados?

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É o grupo de jornalismo de dados da Rede Gazeta, que visa qualificar e ampliar a produção de reportagens baseadas em dados. Jornalismo de dados é o processo de descobrimento, coleta, análise, filtragem e combinação de dados para contar histórias.

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