Publicado em 5 de novembro de 2018 às 19:24
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta segunda-feira (05) que o mundo atravessa um momento de mudanças que, muitas vezes, se tornam perigosamente conservadoras. Admitindo que as transformações são inevitáveis, ela destacou que a sociedade não deve abrir mão de direitos fundamentais, mas sim lutar para efetivá-los, como forma de promover justiça e equidade social.>
As transformações acontecem. O que não pode acontecer, nunca, é a transformação contrária às liberdades humanas, aos direitos fundamentais, declarou a ministra ao participar, esta manhã, em Brasília, de um evento em comemoração aos 30 anos da Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988.>
Ao citar o filósofo e político italiano Norberto Bobbio, para quem as sociedades avançadas, no Século 21, privilegiariam a efetivação das conquistas sociais, em detrimento da luta pela obtenção de novos direitos, a ministra defendeu que cada geração deve assumir o compromisso de lutar pela preservação dos avanços fundamentais ao exercício da Cidadania. Porque conquistá-los é muito difícil. Destruir e criticar tudo é muito fácil, mas isto não leva a lugar nenhum, disse Cármen Lúcia.>
EM TODO O MUNDO>
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Em outro momento de sua palestra, Cármen Lúcia admitiu que, muitas vezes, fica preocupada com as opções feitas pelo país, embora as respeite como expressão das escolhas próprias de cidadãos livres. A ministra ainda classificou como perigosamente conservadoras algumas mudanças que, segundo ela, estão em curso em todo o mundo. Ao término da palestra, a ministra não entrou em detalhes a respeito de a que mudanças estava se referindo.>
Estamos vivendo uma mudança, não só no Brasil. Uma mudança inclusive conservadora em termos de costumes. Às vezes, na minha compreensão de mundo, que pode não ser a correta, [uma mudança] perigosamente conservadora, disse.>
A ministra disse que uma das mudanças verificadas no Brasil desde a promulgação da Constituição foi o fato dos cidadãos passarem a cobrar mais os seus direitos, o que, segundo ela, gerou mais trabalho para o Poder Judiciário.>
Ninguém mais quer abrir mão de seus direitos por não acreditar nas instituições. Quanto mais democracia, mais demanda judicial. Normal. Somos nós que temos que repensar o Poder Judiciário para garantir o acesso à Justiça aos cidadãos que ficaram mais vigilantes com os seus direitos, disse a ministra, lembrando que, atualmente, há cerca de 80 milhões de processos tramitando na Justiça.>
PAPEL DA CONSTITUIÇÃO>
Para Cármen Lúcia, a Constituição brasileira cumpre um papel importante e nunca foi inadequada. Ela é a Constituição que o povo brasileiro entendeu de fazer em um momento em que o país saia de uma ditadura, disse a ministra, admitindo que, ao longo dos últimos 30 anos o Brasil avançou em termos políticos, jurídicos e sociais.>
Andou, não necessariamente para o que eu, como cidadã, achava que [evoluiria], mas a história da humanidade não avança em linha reta. Ela tem suas ondulações, por ser feita de seres humanos com pensamentos e ideias diferentes. É sobre isto que estamos conversando, hoje, no Brasil, disse a ministra pouco antes de acrescentar que as mudanças no mundo do trabalho também vem preocupando a sociedade e exigido atenção dos operadores do direito.>
Cármen Lúcia disse que se vive, no mundo e no Brasil, um momento em que o trabalhador se desespera ao não ter a garantia constitucional de direito ao emprego e ao trabalho, o que, para ela, talvez, seja a grande mudança.>
Temos respostas velhas que já não necessariamente atendem às demandas dos cidadãos, disse. Tenho consciência de que as escolhas mudam segundo aquilo que o ser humano considera ser sua necessidade. A transformação é própria da vida e acontecerá. A mim cabe, como juíza constitucional, como servidora pública, fazer com que a Constituição seja garantida, que aquilo que ela tem de essencial não seja transgredido em nenhum momento, por quem quer que seja.>
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