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Ministro do Meio Ambiente manda exonerar chefe de parque do ICMBio

Ministro do Meio Ambiente manda exonerar chefe de parque do ICMBio

Ricardo Salles deve publicar exoneração de Fernando Weber até o fim da semana; o ministro teria exigido comparecimento obrigatório de servidores em evento do órgão, mas eles alegam que não foram informados

Publicado em 23 de abril de 2019 às 23:06

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Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente . (Secretaria de meio ambiente São Paulo/Divulgação)

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mandou exonerar nesta terça-feira (23),o chefe do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber, vinculado ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). O Estado apurou que a exoneração deve ser publicada na quarta ou quinta-feira.

O ministro confirmou a decisão à reportagem. Questionado sobre as razões que levaram à demissão de Fernando Weber, disse apenas que “cargo desconfiança é prerrogativa do Executivo escolher”. Salles disse que já escolheu um sucessor para o cargo, mas não mencionou seu nome.

A demissão ocorre dez dias depois de Salles fazer uma reunião com ruralistas e produtores para discutir as limitações do parque gaúcho. Trata-se do segundo servidor que deixa o ICMBio após o encontro polêmico, ocorrido no dia 13. Dois dias depois da reunião, o presidente do órgão, Adalberto Eberhard, pediu exoneração do cargo.

Salles e Eberhard visitavam a região do Parque Nacional Lagoa do Peixe. Após ouvir queixas de pescadores e produtores locais sobre o ICMBio, o ministro pediu para que os funcionários do órgão se juntassem a ele na mesa. “Não tem nenhum funcionário?”, perguntou na sequência. “Vocês vejam a diferença de atitude: está aqui o presidente do ICMBio que, embora seja um ambientalista histórico, uma pessoa respeitada no setor, veio aqui ouvir a opinião de todos vocês. E na presença do ministro do Meio Ambiente e do presidente do ICMBio, não há nenhum funcionário aqui.”

Salles, então, anunciou a abertura de processo administrativo disciplinar contra todos os funcionários. A plateia aplaudiu com entusiasmo. Eberhard manteve-se em silêncio. No dia 15, foi até seu gabinete em Brasília, limpou as gavetas, despediu-se dos funcionários e entregou a carta de demissão ao ministro.

Funcionários relataram ao Estado que não foram ao evento com o ministro e o presidente do ICMBio simplesmente porque não haviam sido convocados para a cerimônia, que foi acompanhada por políticos gaúchos, além de representantes do agronegócio. Alguns servidores chegaram a ir ao evento, ao saberem que o ministro havia ameaçado puni-los pela ausência. O chefe do parque, Fernando Weber, que será exonerado, juntou-se à mesa, ao lado do ministro, mas não teve a chance de responder às críticas.

Procurado pelo Estado, Weber disse apenas que estava “reunindo a equipe da unidade de conservação para dar as informações sobre a exoneração”.

Críticas. Na semana passada, servidores federais da área ambiental divulgaram uma carta aberta à sociedade de repúdio às “declarações e posturas” do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “O ministro vem, reiteradamente, atacando e difamando o corpo de servidores do ICMBio através de publicações em redes sociais e de declarações na imprensa baseadas em impressões superficiais após visitas fortuitas a unidades de conservação onde não se dignou a dialogar com os servidores para se informar sobre a situação e sobre eventuais problemas e dificuldades”, escrevem os servidores em carta assinada pela Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema Nacional).

No documento, os servidores também destacam o funcionamento do ICMBio, e lembram que o órgão, que gere 334 unidades de conservação em todo o País, tem 1.593 servidores – “um para cada 100 mil hectares de área protegida”, dizem. Eles comparam que o serviço de parques dos EUA tem 1 servidor para cada 2 mil hectares de área protegida – cada profissional brasileiro precisa cuidar de uma área 50 vezes maior que o seu par americano.

Reportagem do Estado mostrou, no fim de semana, que a área ambiental do governo Bolsonaro passa por um processo de militarização. Do alto escalão do Ministério do Meio Ambiente até as diretorias do Ibama e do ICMBio, postos-chave estão agora sob a tutela de oficiais das Forças Armadas e da Polícia Militar. A orientação dada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e levada a cabo pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é a de acabar com o “arcabouço ideológico” no setor. Já são pelo menos 12 militares.

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