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Maioria dos deputados do ES quase não fez discursos na Câmara

Maioria dos deputados do ES quase não fez discursos na Câmara

Levantamento do Gazeta Online mostra também que a maioria das vezes que eles discursaram foi para homenagear cidades e pessoas

Publicado em 24 de agosto de 2019 às 23:17

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Plenário da Câmara dos Deputados. (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Por força do significado e pela história, o parlamento é o local que deve se prestar ao discurso, ao diálogo, pois é da sua natureza. No entanto, na Câmara dos Deputados, isso ainda não se tornou uma prática, para a maioria da bancada capixaba.

Desde fevereiro deste ano, quando assumiram, os 10 deputados do Espírito Santo já utilizaram a tribuna da Casa 172 vezes. No entanto, sete deles falaram no máximo 11 vezes, ou seja, nem duas manifestações por mês.

Os deputados Amaro Neto (Republicanos) e Norma Ayub (DEM) discursaram uma única vez. De maneira oposta, Soraya Manato (PSL), Evair de Melo (PP) e Josias da Vitória (PPS) já se pronunciaram mais de 40 vezes cada um.

O levantamento foi feito pelo Gazeta Online analisando todos os discursos realizados até a última semana, disponibilizados pelo site da Câmara.

A reportagem mapeou o volume desses discursos, o padrão de uso e o conteúdo das falas, que vai desde a prestação de condolências, a citação a datas comemorativas, homenagem a empresários e políticos locais e até ao próprio marido. Dois deputados também aproveitaram o espaço para homenagear o menino Jeremias Reis, da Serra, pelo título de campeão do programa The Voice Kids, da Globo.

Isso ocorre principalmente no pequeno expediente, que é a primeira parte da sessão ordinária do plenário. Esta fase é destinada aos discursos de deputados previamente inscritos, na qual eles podem falar sobre assuntos livres por até cinco minutos. Nesses momentos, a tribuna vira um grande "mural de recados" para bases eleitorais. No entanto, a maioria das participações foram na ordem do dia, período em que há deliberações, discussão e votação de projetos.

No levantamento, concluiu-se que a maior quantidade de manifestações em plenário foi para dar opiniões e discutir pautas econômicas, com 49 registros. A reforma da Previdência predominou os debates.

Em segundo lugar, predominaram intervenções sobre datas comemorativas e homenagens a localidades do Estado, em 43 ocasiões. Houve também 24 discursos que tiveram como tema questões específicas do Espírito Santo.

CONTEÚDO

A quantidade de vezes que um deputado vai tentar fazer pronunciamentos e os temas escolhidos para abordar também traduzem bastante a estratégia de cada mandato.

Mesmo sendo novata na Casa, Soraya Manato, que fez o maior número de discursos, utilizou boa parte deles para sair em defesa do presidente Jair Bolsonaro (PSL), do ministro Sergio Moro e de medidas adotadas pelo governo. Ela também parabenizou os capixabas que participaram de manifestações a favor de Bolsonaro, em maio.

Já o deputado Evair de Melo usou mais da metade de suas falas para falar sobre eventos do interior do Estado. Ele repercutiu sobre feira de agronegócio de São Gabriel da Palha, Festa do Leite e do Pão, em Atílio Vivácqua e festa do Carro de Boi, em Afonso Cláudio.

Em outra linha, quase todas as participações de Felipe Rigoni foram para debater a reforma da Previdência.

JUSTIFICATIVAS

A deputada Soraya explicou sobre a iniciativa de ter feito muitos discursos. "É uma posição minha, não é o partido que recomenda. Chego cedo na Câmara, às 8 horas, que é o horário que abre o painel, e já me inscrevo para falar. Quem chega muito tarde, geralmente não consegue. Falo em defesa do presidente, pois é preciso dar respostas ao que a oposição faz. Discursar sobre as festas do interior também nos dá retorno, pois o município se sente valorizado", acredita.

A deputada Norma Ayub, que só discursou uma vez até hoje, utilizou esta oportunidade para fazer um elogio ao marido, Theodorico Ferraço (DEM), ex-prefeito de Cachoeiro de Itapemirim, pela construção do Instituto do Coração.

Ela justifica esta baixa participação pois priorizou o atendimento às demandas dos municípios, com uma presença maior nos ministérios, para liberar recursos.

Amaro Neto, que apesar de ser um comunicador também foi um dos que menos falou, argumenta que esta prática não quer dizer que o parlamentar seja menos ou mais atuante. "Prova disso é que somos primeiro lugar da bancada em número de projetos apresentados no primeiro semestre", disse.

O coordenador do mestrado Sociologia Política da UVV, Pablo Rosa, pontua que ainda que o público que acompanha as sessões plenárias seja escasso, a participação do parlamentar é fundamental para a comunicação com o eleitor.

Como os discursos são gravados pela TV Câmara, ficam disponíveis para o parlamentar reproduzi-los em suas redes sociais ou em veículos de mídia de seus redutos eleitorais.

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"Hoje, com as várias possibilidades de transmissão do discurso, estar na tribuna é valioso para falar com o eleitor. E a grande maioria dos parlamentares tem base em municípios específicos, em região localizada. É preciso manter esse vínculo. Também é importante que o deputado se coloque dos debates sobre os projetos, para que o eleitor saiba como ele está votando", comenta.

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