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Ernesto dá carona em avião da FAB para esposa passar férias em Paris

Ernesto dá carona em avião da FAB para esposa passar férias em Paris

Maria Eduarda de Seixas Corrêa ficou na França como turista, sem pagar passagem e compartilhando o quarto com o marido. A hospedagem foi custeada pelo governo, uma vez que o ministro estava em missão oficial

Publicado em 3 de setembro de 2019 às 18:06

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A-29 Super Tucano, caça da Força Aérea Brasileira (FAB). (Sgt Johnson/FAB)

A mulher do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pegou carona em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para passar férias em Paris, na França.

O voo foi agendado pelo governo Jair Bolsonaro (PSL) para o deslocamento do ministro a um encontro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na capital francesa, de 20 a 25 de maio deste ano.

Mulher do chanceler, Maria Eduarda de Seixas Corrêa também é diplomata e trabalha como chefe da Divisão de Treinamento e Aperfeiçoamento, um setor administrativo responsável pelo aprimoramento de funcionários no Itamaraty. Ela, que foi e voltou com a aeronave oficial, ficou em Paris como turista, sem pagar passagem e compartilhando o quarto com o marido. A hospedagem foi custeada pelo governo, uma vez que Ernesto estava em missão oficial.

Os voos da FAB são requisitados por autoridades com o propósito de cumprir agendas de trabalho. Poucos dias antes de assumir o Palácio do Planalto, o então presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), distribuiu uma cartilha com normas e procedimentos éticos que os subordinados deveriam seguir.

No capítulo reservado aos voos oficiais, a cartilha estabelece que somente o ministro e a equipe que o acompanha no compromisso podem utilizar as aeronaves. As justificativas para a solicitação dos voos precisam ser, ainda de acordo com a cartilha, por motivos de segurança e emergência médica ou por viagem a serviço.

O casal se hospedou no Hotel Bedford, localizado no centro histórico de Paris, a menos de três quilômetros da avenida mais famosa da cidade, a Champs-Élysées. Tradicional, o hotel é conhecido por ter abrigado o imperador brasileiro Pedro 2º e o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos.

Segundo o site do estabelecimento, as diárias variam de 160 euros (R$ 734) a 490 euros (R$ 2.250) mais taxas, que mudam de acordo com o número de ocupantes. A assessoria de imprensa do Itamaraty confirma que a mulher do ministro foi para a França de férias, tendo se hospedado com o marido, mas disse que os custos de alimentação foram bancados por ela.

O decreto 4.244/2002, que dispõe sobre os voos da FAB, permite o uso da frota "somente" para o transporte de vice-presidente, ministros do Estado, chefes dos três Poderes e das Forças Armadas, salvo nos casos em que há autorização especial do ministro da Defesa. A norma não autoriza expressamente o embarque de pessoas sem cargo ou função pública.

Ernesto Araújo viajou a Paris para participar da reunião ministerial dos membros da OCDE e reforçar o pleito brasileiro para ingressar na entidade.

A entrada do Brasil no chamado clube dos países ricos é um dos principais objetivos da gestão do chanceler, que conseguiu o aval do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No entanto, a efetivação do Brasil como membro do órgão ainda depende de uma discussão interna sobre o ritmo de expansão da entidade e a escolha de novos integrantes.

Além da rodada de reuniões na OCDE, Araújo também compareceu a um encontro em Paris da Organização Mundial do Comércio (OMC) e realizou uma agenda bilateral com chanceler francês, Jean-Yves Le Drian.

Em junho, Maria Eduarda foi a Buenos Aires, na Argentina, também em um avião da FAB. O roteiro foi mais curto, e a comitiva, liderada pelo presidente Bolsonaro, dormiu apenas uma noite na capital argentina. O presidente foi ao país vizinho para retribuir a visita oficial que Mauricio Macri fez a Brasília em janeiro.

Procurado, o Itamaraty disse que Maria Eduarda fez parte da comitiva oficial a Buenos Aires e participou de eventos ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

A chancelaria afirma que a diplomata acompanhou Michelle e a primeira-dama da Argentina, Juliana Awada, em visita à Casa Rosada. Ela também esteve no almoço oferecido pelo presidente Macri a Bolsonaro e na abertura de um evento da Organização das Nações Unidas (ONU) para pessoas com deficiência, entre outros compromissos. "Tanto a Buenos Aires quanto a Paris a conselheira Maria Eduarda foi sem ônus para o governo. Ela não recebeu diárias e não houve nenhum custo adicional envolvido", argumenta o Itamaraty.

A Paris, no entanto, o ministério afirma que a diplomata estava em férias funcionais. Durante o período em que o marido participava de reuniões oficiais e encontros bilaterais, ela não realizou nenhuma atividade relacionada ao trabalho. "Em Paris a conselheira não participou de nenhum evento oficial", disse a pasta.

Sobre a viagem à França, o Itamaraty afirmou que não houve despesa adicional para o governo, uma vez que Maria Eduarda compartilhou o quarto de hotel com o marido (que estava em viagem oficial) e pagou as próprias refeições durante a viagem.

Por fim, a chancelaria argumentou que Maria Eduarda não faltou ao trabalho durante os dias que passou em Paris, justamente por estar em férias.

A mulher de Araújo é conselheira, cargo que requer três promoções para ser alcançado na hierarquia do Itamaraty. Acima dela, estão os ministros de segunda classe e os embaixadores, que compõem o topo da carreira da instituição.

Em dezembro de 2017, a Folha mostrou que ministros do governo do ex-presidente Michel Temer usaram voos da FAB, requisitados com o propósito de cumprir agendas de trabalho, para transportar parentes, amigos e representantes do setor privado.

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A reportagem encontrou registros de caronas para mulheres e filhos que não têm vínculo com a administração pública.

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