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Deputados fazem ofensiva para tentar encurralar Moro em audiência na Câmara

Deputados fazem ofensiva para tentar encurralar Moro em audiência na Câmara

Moro deve ser ouvido em sessão conjunta de três comissões da Casa, a partir das 14h, dois dias depois de atos pelo país o exaltarem.

Publicado em 2 de julho de 2019 às 11:39

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro . (José Cruz/Agência Brasil )

Deputados de oposição e de partidos de centro preparam uma ofensiva para tentar encurralar o ministro Sergio Moro (Justiça) e fazer com que ele entre em contradição em audiência na Câmara na tarde desta terça-feira (2).

Moro deve ser ouvido em sessão conjunta de três comissões da Casa (de Constituição e Justiça, de Trabalho e de Direitos Humanos), a partir das 14h, dois dias depois de atos pelo país o exaltarem.

Assim como aconteceu no Senado no último dia 19, a ideia é que o ministro dê explicações sobre as mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato, reveladas pelo site The Intercept Brasil e agora também analisadas pela Folha de S.Paulo.

Deputados ouvidos pela reportagem dizem que a ideia é que a audiência na Câmara tenha um tom mais combativo do que a ocorrida no Senado.

A avaliação geral é a de que as manifestações de domingo (30), que deram apoio ao ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, foram menores do que os atos pró-governo de 26 de maio.

A estratégia dos deputados nesta terça é tentar explorar possíveis contradições do ex-juiz. A ordem é que os parlamentares formulem perguntas que forcem Moro a dar respostas mais categóricas.

A articulação, afirmam, leva em conta a possibilidade de o ministro ser questionado no futuro, quando novos diálogos forem divulgados.

Parlamentares do PT, do PSOL e do PC do B se reuniram na noite desta segunda (1º) em Brasília para definir a atuação conjunta. Integrantes de partidos de centro também devem se aliar à ofensiva.

As assessorias jurídicas dos partidos preparam um arsenal de questionamentos para municiar os deputados. Os técnicos se debruçaram sobre os diálogos revelados desde a sessão do Senado para tentar desconstruir a versão que Moro tem apresentado.

Um novo encontro está programado para a manhã desta terça (2) para definir os detalhes da articulação.

"Não podemos aceitar o raciocínio usado por Moro em sua defesa de que os fins justificam os meios. É muito grave um juiz poder não cumprir a lei dependendo de quem é o réu. É uma ameaça à democracia", diz o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

A preocupação, agora, é não dar espaço para que Moro repita o desempenho que teve no Senado.

Para a oposição, Moro se saiu bem porque foi submetido a uma sessão amena, com questionamentos classificados como sutis.

A avaliação foi a de que o ministro conseguiu conduzir o depoimento sem enfrentar dificuldades e que os senadores não conseguiram desconstruir a narrativa do ex-juiz de que ora as mensagens não demonstravam qualquer ilegalidade, ora foram amplificadas por "sensacionalismo".

A estratégia é que os deputados façam uma pergunta por vez, para não dar a oportunidade de Moro escolher qual responder.

Presidente da CCJ, o deputado Felipe Francischini (PSL-PR) está sendo pressionado pelos comandantes das comissões de Direitos Humanos, Helder Salomão (PT-ES), e de Trabalho, Professora Marcivania (PC do B-AP), a fazer revezamento na condução da audiência.

Francischini disse a aliados que não pretende abrir mão de conduzir a sessão inteira.

Na manhã desta terça, o deputado vai fechar o rito da audiência, definindo, por exemplo, se haverá réplica e tréplica dos parlamentares e do ministro.

Em conversas publicadas pelo site The Intercept Brasil desde o último dia 9, Moro sugere ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobra a realização de novas operações, dá conselhos e pistas e antecipa ao menos uma decisão judicial.

O então juiz, segundo os diálogos, também propõe aos procuradores uma ação contra o que chamou de "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula, sugere à força-tarefa melhorar o desempenho de uma procuradora durante interrogatórios e se posiciona contra investigações sobre o ex-presidente FHC na Lava Jato por temer que elas afetassem "alguém cujo apoio é importante".

Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou ainda que procuradores se articularam para proteger Moro e evitar que tensões entre ele e o STF paralisassem as investigações em 2016.

Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.

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Até aqui, Moro tem minimizado a crise e refutado a possibilidade de ter feito conluio com o Ministério Público. Assim como os procuradores, diz não ter como garantir a veracidade das mensagens (mas também não as negou) e chama a divulgação dos diálogos de sensacionalista.

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