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Declarações polêmicas de Olavo de Carvalho abalam o governo Bolsonaro

Declarações polêmicas de Olavo de Carvalho abalam o governo Bolsonaro

Nos últimos dias, o filósofo e escritor criticou o vice-presidente Hamilton Mourão e provocou uma série de demissões no MEC, entre outras polêmicas.

Publicado em 20 de março de 2019 às 00:03

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Olavo de Carvalho é escritor e ideólogo do governo Jair Bolsonaro (PSL). (Reprodução/Twitter)

Ele chamou o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) de “idiota”, provocou uma dança das cadeiras no Ministério da Educação (MEC) com a demissão de funcionários e cravou o tempo de vida do governo Jair Bolsonaro (PSL): “Se continuar como está, não dura seis meses”. As palavras se encaixariam facilmente ao discurso de um membro da oposição, mas na verdade são de autoria de Olavo de Carvalho, filósofo e escritor considerado o “guru” do presidente Bolsonaro e de membros da mais alta cúpula de Brasília. Para especialistas, o discurso pode se voltar contra o governo.

Olavo não é militar, nem político e tampouco comanda algum cargo de relevância nacional. Morando nos Estados Unidos e ministrando cursos de Filosofia transmitidos pela internet, é do lado de fora, como um outsider, que o filósofo direitista e conservador exerce influência singular sobre o governo federal, apesar de ele mesmo rechaçar o rótulo de guru, como é chamado. Foram dele, inclusive, as indicações de Ernesto Araújo para o Ministério de Relações Exteriores e de Ricardo Vélez Rodríguez para o Ministério da Educação (MEC).

Mas ao mesmo tempo em que é visto ao lado do líder brasileiro durante a visita ao presidente Donald Trump, Olavo tem sido o protagonista de declarações polêmicas que têm como alvo o governo de seu seguidor. Ele disparou críticas ao vice-presidente Hamilton Mourão, o qual chamou de “um cara idiota”.

“O presidente viaja e qual a primeira coisa que ele faz? Viaja a São Paulo para um encontro político com Doria (governador de São Paulo, filiado ao PSDB). Esse cara não tem ideia do que é vice-presidência. Durante a viagem, ele tem que ficar em Brasília", afirmou Olavo em uma das salas do Trump Hotel, em Washington, enquanto aguardava a chegada de Bolsonaro.

Na mesma ocasião, o guru reiterou o que chama de presença de “traidores” no governo e profetizou: “Se tudo continuar como está, já está mal. Não precisa mudar nada para ficar mal, é só continuar isso mais seis meses e acabou".

PROBLEMA PARA O GOVERNO

Na análise do cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, as declarações de Olavo de Carvalho geram embaraços para o governo. No entanto, trata-se de um problema criado pelo próprio presidente.

“O discurso de Olavo de Carvalho é descomprometido, pois ele não tem conexões objetivas com o governo. Ele tira a legitimidade do presidente e do vice, que foram eleitos pelo voto. Mas o próprio Bolsonaro criou esse problema para si. Em seu primeiro discurso transmitido como presidente, havia um livro de Olavo de Carvalho junto com ele. Se o presidente dá um basta e o desautoriza essa projeção dele perde sentido, mas Bolsonaro não faz isso”, pontua.

Para Prando, a ascensão do filósofo - que não é reconhecido pela academia - como um dos mentores da direita no país deve-se a junção de três fatores: a impopularidade vivida pelo PT, a retórica de Bolsonaro contra a esquerda e o vocabulário agressivo do guru. “Esse tipo de linguagem ofensiva, com xingamentos que ele usa, caiu no gosto popular. É os que os jovens chamam de lacração”, define.

CRISE NO MEC

Há pouco menos de uma semana ele disse em rede social que seus alunos deveriam deixar a administração federal, argumentando que há muitos inimigos entre os que cercam Bolsonaro.

Horas depois do pedido, Tiago Tondinelli, ex-aluno do filósofo, e chefe de gabinete do MEC, foi exonerado alegando razões pessoais. Iniciou-se assim uma série de mudanças no MEC. No dia 11 deste mês, seis servidores - entre eles militares - da pasta foram exonerados em função da pressão de um grupo liderado por Olavo de Carvalho. Um deles é Ricardo Wagner Roquetti, até então diretor do ministério.

O cientista político da FGV Sérgio Praça critica: “Não é bom para o governo que alguém que não tenha cargo tenha autoridade. Olavo não aponta saídas, apenas críticas. Ele também pode confundir a mensagem que o governo quer passar”.

REPERCUSSÃO

Entre a classe política, o assunto também ganhou repercussão. Nesta segunda-feira (18), o presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM) declarou à TV Cultura que Olavo não está fazendo bem para o país. A bancada capixaba no Senado foi procurada pelo Gazeta Online, mas somente Fabiano Contarato (Rede) se manifestou.

“O Brasil tem demandas muito sérias e urgentes. Esses embates dentro do próprio governo não ajudam. Precisamos de serenidade e de respostas concretas, temos prefeitos e Estados necessitando atender demandas, sobretudo, para resolver questões de saúde, de educação e não podemos perder tempo com essas brigas. Queremos respostas claras do governo, esse é o foco", afirmou, em nota.

O deputado federal Josias da Vitória (PPS), que coordena a bancada capixaba no Congresso, pensa de forma semelhante. “O presidente tem grandes missões. Não sei se ele encontra tempo para discutir assuntos que não são prioridade".

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Já o secretário especial para a Câmara Federal Carlos Manato (PSL) afirma que embora respeite profundamente o filósofo, discorda de suas ideias. "Olavo é uma pessoa do mais alto gabarito e respeito. Ele foi aliado de primeira linha do presidente e tudo o que fala tem que ser analisado. Se ele estiver falando que tem algo errado, isso tem que ser analisado”, esclarece.

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