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Carnaval de Bolsonaro teve defesa do filho, bate-boca e vídeo obsceno

Carnaval de Bolsonaro teve defesa do filho, bate-boca e vídeo obsceno

As polêmicas do presidente em seu primeiro Carnaval no cargo não se restringiram à publicação do vídeo

Publicado em 7 de março de 2019 às 17:05

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Carnaval de Bolsonaro teve defesa do filho, bate-boca e vídeo obsceno. (Reprodução/Instagram)

Na terça-feira de Carnaval (05), Jair Bolsonaro publicou em sua conta oficial do Twitter um vídeo que causou polêmica entre opositores e aliados do presidente. Na cena, um homem aparece dançando sobre um ponto de táxi e introduz o dedo no próprio ânus. Um outro rapaz urina na cabeça do que dançava.

As polêmicas do presidente em seu primeiro Carnaval no cargo, no entanto, não se restringiram à publicação do vídeo.

Enquanto críticas aos Bolsonaros se multiplicavam em blocos de Carnaval pelo país, ele saiu em defesa de seu filho Carlos nas redes sociais no domingo (03), voltou a prometer uma "Lava Jato da Educação" na segunda-feira (04) e divulgou marchinha em resposta a uma música de Daniela Mercury e Caetano Veloso na terça-feira (05).

Na Quarta-Feira de Cinzas, quando retomou suas agendas oficiais, publicou em seu perfil do Twitter: "'O que é golden shower?", expressão em inglês que se refere ao fetiche de urinar na frente de um parceiro ou sobre ele, alongando a repercussão das polêmicas.

CRONOLOGIA DAS POLÊMICAS

Domingo (03)

Usou seu perfil no Facebook para defender o filho Carlos, criticado após atuar pela queda do ministro Gustavo Bebianno, em fevereiro, em meio ao escândalo de candidaturas de laranjas do PSL. Disse que vai continuar "ouvindo suas sugestões".

Segunda-feira (04)

Voltou a prometer uma "Lava Jato da Educação", sem entrar em detalhes. Anteriormente, a expressão derrubou ações de empresas da área.

Terça-feira (05)

Foi o dia mais agitado nas redes do presidente. Pela manhã, divulgou marchinha em resposta à música "Proibido o Carnaval", de Daniela Mercury e Caetano Veloso. Sem citar os cantores, criticou "dois famosos" e disse que "esse tipo de artista não mais se locupletará da Lei Rouanet". Bolsonaro vinha sendo alvo de protestos durante blocos de rua pelo país.

Durante a tarde, ele chamou o jornalista Guga Noblat de "cérebro mofado" e ainda criticou o perfil de uma rádio. À noite, compartilhou um vídeo em que um homem aparece dançando sobre um ponto de táxi após introduzir o dedo no próprio ânus. Na sequência, a gravação mostra outro rapaz que urina na cabeça do que dançava. O presidente escreveu: "É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro".

Quarta-Feira de Cinzas (6)

No dia em que o presidente retomou suas agendas oficiais, ele publicou em seu perfil: 'O que é golden shower?" A expressão em inglês se refere ao fetiche de urinar na frente de um parceiro ou sobre ele.

Repercussão

As publicações do presidente provocaram críticas de usuários da rede social e também de políticos, como o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que disse que irá acionar Bolsonaro judicialmente. A lei 13.718, de 2018, que trata de importunação sexual, prevê punição para a divulgação de vídeos de sexo ou pornografia.

ENTENDA A PUBLICAÇÃO DO VÍDEO

O que fez o presidente?

Jair Bolsonaro publicou na terça-feira (05) em sua conta oficial no Twitter um vídeo em que um homem aparece dançando sobre um ponto de táxi após introduzir o dedo no próprio ânus. Na sequência, surge outro rapaz que urina na cabeça do que dançava.

Na publicação, Bolsonaro diz que não se sente "confortável em mostrar" e argumenta que tem "que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conslusões [conclusões]".

Como a publicação foi recebida nas redes sociais?

A publicação do presidente foi alvo de críticas por três aspectos diferentes.

Um deles é por postar um conteúdo inapropriado em um canal com mais de 3 milhões de seguidores. Diversos usuários têm escrito que denunciarão o tuíte de Bolsonaro como conteúdo impróprio.

Cerca de duas horas após a publicação do vídeo foi colocada a marcação de mídia sensível, que funciona como um filtro prévio que requer que o usuário confirme que deseja ver o conteúdo.

Jair Bolsonaro também foi criticado por atacar o Carnaval como um todo a partir do vídeo, que seria um caso isolado e não representativo da festa.

O vídeo foi gravado na segunda-feira (04) em um bloco chamado Blocu, no centro de São Paulo. A reportagem conversou com várias pessoas que presenciaram a cena e que disseram que o ocorrido foi um momento isolado no evento.

Manter o debate nas redes no campo dos costumes em vez de levantar temas prioritários, como a organização e aprovação da reforma da Previdência, foi o terceiro ponto criticado.

Também nessa esteira, usuários responderam ao tuíte em que o presidente perguntava "O que é golden shower?" lembrando escândalos em que Jair Bolsonaro está envolvido.

"Golden shower é um termo em inglês para se referir a cheques depositados na conta da primeira-dama, referentes ao pagamento de um suposto empréstimo de R$ 40 mil para quem movimentou R$ 7 milhões em três anos, presidente. Chove ouro", escreveu um usuário em alusão às suspeitas envolvendo o motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), um dos filhos do presidente.

Qual foi a reação à publicação?

Tanto opositores quanto aliados do presidente reagiram à veiculação do vídeo.

Opositores de Jair Bolsonaro defenderam a necessidade de "intervenção psíquica" e disseram que vão representar criminalmente por "crime de divulgação, sem o consentimento da vítima, de cena de sexo, nudez ou pornografia".

"Vamos representar Jair Bolsonaro pelo vídeo que postou. A lei 13.718, recentemente aprovada, tipifica o crime de divulgação, sem o consentimento da vítima, de cena de sexo, nudez ou pornografia", escreveu no Twitter o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

Entre os aliados, o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) afirmou que a publicação é "incompatível com a postura de um presidente, ainda mais de direita", e a classificou como "bola fora". "Isso não é postura de conservador", escreveu o parlamentar.

Já o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), disse acreditar que a intenção de Bolsonaro era chamar a atenção "para essas coisas sem limites". Para o senador não houve quebra de decoro e as publicações não são uma cortina de fumaça para as críticas de que Bolsonaro foi alvo durante o Carnaval em diferentes cidades.

Militares da ala que integra o governo e outros do serviço ativo viram, em geral, com reserva a publicação. Segundo três deles, ouvidos pela Folha de S.Paulo, o tom alarmista da postagem e o baixo nível das imagens causou uma associação incorreta entre o episódio filmado e o Carnaval como um tudo.

Esses oficiais disseram que há também uma vulgarização da imagem da própria instituição Presidência. A troca de mensagens ofensivas com comentaristas de sua postagem e o complemento na quarta-feira (6), quando Bolsonaro questionou o que é "golden shower" (a prática de urinar no parceiro/a), foram consideradas grosseiras e desnecessárias.

O que determina a regra do Twitter e o que diz a empresa?

Nas regras do Twitter, que incluem a política de privacidade e os termos de serviço que os usuários têm que respeitar para usar a plataforma, há uma série de diretrizes sobre conteúdo adulto.

"Consideramos conteúdo adulto qualquer mídia que seja pornográfica ou destinada a causar excitação sexual. Alguns exemplos incluem, mas não estão limitados a representações de: nudez total ou parcial, incluindo closes dos órgãos genitais, nádegas ou seios; simulação de ato sexual; ou relação sexual ou qualquer outro ato sexual envolvendo seres humanos, representações de animais com características humanas, desenhos, hentai ou animes", dizem as regras do Twitter.

Mídias com conteúdo adulto devem ser marcadas como mídia sensível, o que não foi feito inicialmente no vídeo de Bolsonaro. Dessa forma, a depender do rigor da análise do Twitter, o presidente pode sofrer alguma punição, que pode variar desde a retirada do conteúdo do ar até a suspensão da conta, caso seja entendido que ele cometeu grave infração.

A empresa afirmou que "tem regras que determinam os conteúdos e comportamentos permitidos na plataforma, e eventuais violações estão sujeitas às medidas cabíveis".

O que diz a lei sobre importunação sexual?

Este foi o primeiro carnaval em que importunação sexual é crime. O ministro do Supremo Dias Toffoli, então presidente da República em exercício, sancionou um projeto de lei em setembro de 2018 que cria o crime, definido como prática de ato libidinoso na presença de alguém sem que essa pessoa dê consentimento.

A lei 13.718 também define reclusão de um a cinco anos para divulgação de cena de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento da vítima.

O que diz a Presidência?

O presidente disse em nota, enviada na quarta-feira (06), que não pretendia criticar o Carnaval de forma genérica.

"Não houve intenção de criticar o carnaval de forma genérica, mas sim caracterizar uma distorção clara do espírito momesco, que simboliza a descontração, a ironia, a crítica saudável e a criatividade da nossa maior e mais democrática festa popular", diz texto divulgado pelo Palácio do Planalto.

O Planalto também identificou desmobilização de parte da tropa de seus apoiadores na internet depois do caso.

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Monitoramento feito nas contas do governo e do próprio presidente mostrou que as críticas não vêm só de oposicionistas, mas de pessoas que votaram em Bolsonaro por se identificarem com pautas conservadoras, mas especialmente por serem críticos aos governos do PT.

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