Publicado em 5 de junho de 2019 às 00:43
Encaminhado ao Congresso nesta terça (4), o projeto de lei que dobra o limite de pontuação e estende a validade da carteira de motorista também acaba com a multa para condutores que transportarem crianças fora de cadeirinhas de retenção.>
Uma das alterações propostas no CTB (Código de Trânsito Brasileiro) pelo projeto de lei do presidente Jair Bolsonaro estabelece que condutores que não usarem o dispositivo - que, pela proposta, será obrigatório para crianças de até sete anos e meio -- receberá apenas uma advertência escrita, sem multa.>
O projeto (que precisa ser votado pela Câmara e pelo Senado e sancionado) estabelece ainda que crianças entre 7,5 e 10 anos, mesmo sem o dispositivo de retenção, deverão ser levadas no banco traseiro.>
A forma como a redação do texto foi feita é ampla e dá margem para que não haja aplicação de multa até para motoristas que transportem crianças no banco dianteiro.>
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Segundo a Casa Civil, a isenção da multa foi feita para dar caráter educativo ao tema. "Retirou-se a sanção pecuniária. Agora o motorista será advertido, pois se busca um caráter mais educativo", disse a pasta.>
Na justificativa da proposta, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou que, ao mesmo tempo em que se garante a manutenção da exigência, foram tomadas providências para "evitar exageros punitivos.">
A obrigatoriedade do uso de cadeirinhas consta em resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito). A norma diz que "os menores de dez anos deverão ser transportados nos bancos traseiros usando individualmente cinto de segurança ou sistema de retenção equivalente.">
A mesma resolução diz que o descumprimento da regra é infração gravíssima, punível com multa (valor-base de R$ 293,47) e retenção do veículo.>
Em seu projeto, Bolsonaro trouxe a obrigatoriedade das cadeirinhas para o CTB sob o argumento de que recente decisão do Supremo Tribunal Federal decidiu que o Contran não pode estabelecer sanções.>
Houve uma série de outras mudanças propostas. A ideia é dobrar o prazo de validade da habilitação (dos atuais 5 para 10 anos) e ampliar o limite máximo de pontos que um motorista pode ter sem perder a habilitação, de 20 para 40.>
O projeto também prevê o aumento da validade da habilitação de idosos, de três para cinco anos. Bolsonaro é crítico frequente do que chama de "indústria da multa" e já afirmou que, em seu governo, não devem ser instalados novos radares eletrônicos nas rodovias federais.>
Caso os deputados e senadores aprovem o projeto, habilitações expedidas antes da entrada em vigor da nova norma terão automaticamente o prazo de validade prorrogado.>
Bolsonaro levou pessoalmente a proposta ao Congresso, onde se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Depois do encontro, o presidente disse que o projeto "atinge todo o Brasil".>
"Todo mundo é motorista ou anda de uma forma de outra de veículo automotor", disse.>
Pouco antes, reunido com parlamentares, Bolsonaro defendeu a proposta, dizendo que ela trata do "bem-estar de profissionais e particulares.">
"Quem tem reclamado [do projeto], eu tenho dito que procure um taxista, motorista de caminhão, quem vive no trânsito, [que] às vezes com um pequeno descuido perde a carteira de trabalho.">
O texto acaba ainda com a multa para condutores que guiem sem farol baixo ligado durante o dia. A infração passa a ser leve (hoje é média), e a proposta inclui dispositivo que diz que só haverá multa se o proprietário do veículo for pessoa jurídica e não houver identificação do condutor.>
Mesmo sem a multa, o farol baixo continua obrigatório durante o dia, mas só em rodovias de pista única, em túneis, sob chuva, neblina ou cerração. A redação proposta também obriga que veículos novos tenham instaladas luzes de rodagem diurna.>
Outra mudança polêmica revoga a exigência de exame toxicológico para a emissão e renovação da CNH para categorias C, D e E (o que inclui veículos de carga e ônibus).>
O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro considera que é preciso tratar os motoristas profissionais "com respeito e boa-fé".>
"Assim, dispensar o exame, que é muito custoso, está alinhado com esses propósitos. Isso, não obstante, não significa que os atos errados deixarão de ser punidos ", declarou.>
A proposta de aplicar apenas advertências por escrito a motoristas que desrespeitarem regras de transporte de crianças foi criticada por especialistas em trânsito.>
O uso de cadeirinhas pode reduzir as mortes de bebês em 71% e as mortes de crianças pequenas em 54%, segundo relatório sobre segurança no trânsito da OMS (Organização Mundial de Saúde).>
Para José Eugênio Leal, do Departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio, a advertência equivale a "quase nada".>
Caso não haja multa prevista, diz ele, deveria haver outro mecanismo de desconto de pontos da carteira de habilitação, ou ainda aplicação de multa após advertência.>
A diversidade do Brasil e o fato de haver estados atrasados no cumprimento da lei torna mais perigosa a flexibilização, diz Paulo Bacaltchuck, especialista em engenharia de tráfego e professor da Universidade Mackenzie.>
Em alguns países, o limite de idade para o uso de cadeirinha é diferente. No Reino Unido, crianças devem usar o assento de elevação até os 12 anos (ou quando atingirem 1,35 m).>
Nos EUA, regras variam entre estados. Na Flórida, crianças de até cinco anos devem estar com dispositivo de retenção. A multa é de US$ 60.>
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