Publicado em 8 de abril de 2019 às 15:50
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta segunda-feira (8) um novo nome para o ministério da Educação. Abraham Weintraub entra no lugar de Ricardo Vélez Rodríguez.>
Segundo Bolsonaro, Abraham é "doutor, professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta". "Aproveito para agradecer ao professor Vélez pelos serviços prestados", escreveu o presidente em sua conta no Twitter.>
Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub é o atual secretário-executivo da Casa Civil e mantém proximidade com o ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS).>
Economista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Weintraub participou das conversas sobre a reforma da Previdência. No domingo (7), Weintraub esteve com Bolsonaro no Palácio do Alvorada. O nome de Weintraub, contudo, não estava entre os nomes cotados que circulavam nos bastidores.>
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A saída de Vélez era ensaiada havia algumas semanas por causa da crise permanente na pasta, expondo uma disputa entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Na sexta (5), Bolsonaro indicou a jornalistas que resolveria a questão nesta segunda.>
Anunciado no dia 22 de novembro, Vélez Rodriguez foi uma das últimas definições para a Esplanada dos Ministérios.>
A publicação no Twitter do então presidente eleito tirou o professor colombiano radicado no Brasil desde a década de 1970 de um considerável anonimato. Até dias antes, o próprio Vélez Rodríguez jamais havia pensado que um dia seria ministro da Educação.>
Vélez chegou à equipe de Bolsonaro por indicação do escritor Olavo, guru e ideólogo direitista, patrocinada pelos filhos do presidente.>
Professor de filosofia, identificado com o conservadorismo, antipetismo e a luta contra o marxismo cultural, Vélez fez carreira discreta na própria instituição onde atuou por quase 30 anos, a Universidade Federal de Juiz de Fora.>
Sem ter se dedicado aos debates sobre políticas públicas e educação, montou uma equipe a partir da indicação de vários grupos, o que depois resultou em um mosaico de interesses e disputas.>
Passaram a compor a pasta profissionais ligados aos militares, ex-alunos de Vélez, técnicos do Centro Paula Souza, de São Paulo, e discípulos de Olavo. Ironicamente, atritos com ex-alunos de Olavo provocariam o desgaste mais prolongado de Vélez.>
A disputa também atrasou definição de políticas importantes para as redes de ensino, como a continuidade do apoio à implementação da Base Nacional Comum Curricular programa retomado somente no dia 4 de abril.>
Nesses três meses, dúvidas com relação às avaliações federais e sobre a definição do programa de livros didáticos, por exemplo, causaram incômodo com os secretários de educação de estados e municípios.>
Recentes problemas para a renovação do Fies (Financiamento Estudantil) ainda atingiram estudantes.>
A única meta para os 100 dias do MEC foi a apresentação de uma nova política de Alfabetização. Minuta do decreto indicou a predominância de apenas um método de ensino, o fônico, e condicionou o recebimento de assistência técnica e financeira à adoção dessa política. Quando veio à tona, foi criticada. O MEC promete publicar versão final, que já está na Casa Civil, nesta semana.>
FASES DA CRISE>
As turbulências no MEC começaram ainda no início do ano. Ao tomar posse, Vélez exaltou em discurso a família, igreja e valores tradicionais e disse que a pasta iria "combater com denodo marxismo cultural" na educação.>
Em janeiro, o ministro teve que recuar sobre mudanças em um edital de compra de livros que suprimia, conforme o jornal Folha de S.Paulo revelou, o compromisso com a agenda da não violência contra mulheres e ainda permitia obras sem referências bibliográficas e com erros.>
Em fevereiro, o ministro enviou carta a cerca de 24 mil escolas com o slogan da campanha de Bolsonaro, que cita Deus, e pedido de filmagem de alunos cantando o hino. O episódio causou grande desgaste e provocou novo recuo. O ministro pediu desculpas, retirou slogan da carta e depois desistiu de pedir envio de filmagens de alunos. O novo capítulo da crise começou no dia 8 de março, com uma dança de cadeiras.>
As demissões precisam ser entendidas por fases:>
1) O ministro decide trocar pessoas de seu gabinete após paralisia do MEC e repercussão negativa de ações ideológicas. O processo atingiu alunos de Olavo, como o chefe de gabinete Tiago Tondinelli, e o assessor Silvio Grimaldo que não aceita o novo posto e pede para sair.>
2) Olavistas, como Grimaldo e o assessor Daniel Elmer, passaram a coordenar ataques ao ministro e a integrantes ligados aos militares e a técnicos do Centro Paula Souza. Os dois, por exemplo, iniciaram campanha direto da casa de Olavo, nos EUA, onde estavam em curso durante expediente no MEC, conforme a Folha de S.Paulo revelou. Elmer continua na pasta.>
3) A pressão olavista chega ao presidente, que exigiu a demissão de quem os olavistas apontavam como culpados por uma suposta perseguição ao grupo, o que inclui militares e técnicos do Paula Souza. Primeiro saiu o coronel-aviador Ricardo Roquetti e depois o secretário executivo Luiz Antonio Tozi, oriundo do Paula Souza. Para se manter no cargo, o ministro perdeu a autonomia para montar a equipe.>
Não conseguiu nomear duas pessoas anunciadas para secretaria executiva. No dia 26 de março, o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Marcus Vinicius Rodrigues, foi demitido ao ser responsabilizado pela portaria que suspendeu a avaliação de alfabetização ato tornado sem efeito depois. O secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, foi autor do pedido ao Inep, mas aluno de Olavo, foi poupado.>
Sem ter ciência da portaria, a secretária de Educação Básica, Tania Leme de Almeida, pediu demissão.>
Todo processo rendeu mais de 20 mudanças na pasta. As exonerações não saíram de graça e custaram R$ 171 mil só em ajuda de custo aos demitidos, além de ter comprometido o funcionamento da pasta. Avesso à imprensa, acabou se desgastando ainda mais nas três entrevistas que concedeu.>
Chegou a afirmar que o brasileiro é um canibal que rouba aviões e hotéis. Na última fala, defendeu mudanças nos livros didáticos para mudar o entendimento sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar. Nem os militares gostaram.>
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União quer que o órgão tome providências para apurar as consequências da situação no andamento das políticas públicas da área.>
A procuradoria federal ainda recomendou que a pasta se abstenha de praticar atos que violem a laicidade do Estado e a liberdade religiosa dos estudantes, em resposta à carta enviada às escolas.>
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