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Bancada capixaba critica declaração de Bolsonaro sobre classe política

Bancada capixaba critica declaração de Bolsonaro sobre classe política

Para a maioria dos deputados federais e senadores, atacar políticos não ajuda o governo federal

Publicado em 21 de maio de 2019 às 02:34

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Senador Fabiano Contarato em sessão da CCJ do Senado. (Geraldo Magela)

A crítica feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) à classe política e aos “conchavos”, que seriam os responsáveis por tornar o país “ingovernável” incomodou os parlamentares da bancada federal capixaba, que, em sua maioria, consideraram a declaração como mais um mal-estar desnecessário gerado entre Executivo e Legislativo.

Embora não tenham se sentido diretamente atacados, os deputados federais e senadores pontuaram que diálogo não deve ser confundido com atitudes corruptas.

“O presidente precisa ter uma postura mais respeitosa com o Congresso. Muitos parlamentares estão trabalhando e se esforçando para ajudar o governo dele. Eu mesmo votei e pedi apoio para o presidente. Espero que ele possa ter mais prudência e respeito pelo parlamento”, declarou o deputado Josias da Vitória (PPS). 

Deputado federal Josias da Vitória (PPS). (Najara Araujo/Câmara dos Deputados)

Para o deputado Felipe Rigoni (PSB), o governo demonstrou pouca habilidade ao ficar um mês e meio sem dialogar sobre a reforma da Previdência, após ter apresentado o projeto.

“O presidente tem razão quando diz que há conchavos, pois ainda há aqueles que querem trocar votos por cargos, por verbas. Mas o que deixa o momento ingovernável é a falta de diálogo. Ele não tem que escolher com quem conversa. Quem escolheu foi o povo. Se ele fosse uma pessoa mais ponderada, ofendesse menos o Congresso Nacional, já teria bons avanços”, disse.

O deputado Amaro Neto (PRB) também criticou. “Respeito a opinião do presidente, assim como a de qualquer cidadão. Mas acredito que as declarações vão contra a carreira política de quase 30 anos que o presidente já percorreu e de todos os filhos que atuam na política.”

O deputado, Amaro Neto. (Tati Beling/Ales)

Para outros, como o senador Marcos do Val (PPS), o presidente se referiu aos velhos políticos, que podem estar atrapalhando o governo. “Os velhos políticos continuam comandando partidos e assumindo lideranças. Os novos estão chegando, mas ainda não nesses pontos ocupados pela velha política. É um processo. Houve remoção nas eleições, na próxima precisa ter mais”, avalia.

“INFELIZ”

Já o senador Fabiano Contarato (Rede) criticou a fala do presidente e diz que ele precisa ater-se ao decoro e a liturgia do cargo. “Precisa parar de criar crises desnecessárias. Fez mais uma declaração infeliz. O que a sociedade espera dele é capacidade de fazer o Brasil voltar a crescer e gerar empregos. Isso o fragiliza e, consequentemente, dificulta a sua capacidade de interlocução”, diz Contarato.

ANÁLISE

Nunca foi antipolítica

Bolsonaro se apresentou, na campanha, como candidato antiesquerda e antipolítica. O primeiro me parece óbvio, pois sempre teve perfil de direita. Mas Bolsonaro nunca foi antipolítica. Foi deputado por 28 anos e toda a família, ex-esposa e filhos, estão na política. Em vez de se construir um diálogo com o Parlamento, insistiu na retórica da campanha. Nesse momento, cria uma dicotomia que há velha e nova política. Nova significa ele e os que o apoiam. Esse tratamento que Bolsonaro faz à política é, na verdade, a incapacidade que o próprio apresenta de se constituir uma liderança. Em governabilidade, tinha de tudo para construir uma ponte sólida com o Congresso, a fim de aprovar as pautas tanto conservadoras, quanto as necessárias como a reforma da Previdência. No entanto, criou as próprias crises na incapacidade de ser líder. Ele anima as redes sociais, mas não conseguiu dar resposta ou rumo para a sociedade até agora.

Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Como se estivesse em campanha

O presidente ainda se coloca em uma postura como se estivesse em campanha. Uma postura referenciada àqueles setores mais radicalizados do pensamento conservador brasileiro. Esse pensamento foi útil na campanha, mas agora, para governar, é algo completamente diferente. Na hora de governar, a retórica pouco adianta.

Para governar é preciso resultados concretos para a população em um país de presidencialismo de coalizão e montar maioria. Em vez de focar nas medidas concretas para governar, como reforma da Previdência e Tributária, continua fazendo esse proselitismo radicalizado. O presidente fez campanha acusando de que havia ideologização de quem estava no poder e agora está fazendo o mesmo. A fala atual está chegando a um tom mais alto ainda, que acarreta mais inimigos e se isola.

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Fernando Pignaton - Cientista político

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