> >
Traficantes de Ourimar impedem entrada de ambulância no condomínio

Traficantes de Ourimar impedem entrada de ambulância no condomínio

Equipe do Samu seguia para resgate de um morador do condomínio, mas foi barrada na entrada

Publicado em 16 de março de 2018 às 22:31

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Imagem aérea do condomínio Ourimar. (Divulgação | PMES)

A audácia dos traficantes que tomaram conta do condomínio Ourimar, na Serra, não para. Na última sexta-feira (9), bandidos armados impediram que um morador recebesse atendimento médico de urgência dentro do residencial. Eles obrigaram a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a parar na entrada na entrada de Ourimar e fizeram ameaças aos socorristas.

O socorro de emergência médica era para atender um morador que estava desmaiada após uma crise convulsiva. Ao chegar ao condomínio, por volta das 14 horas, a ambulância foi abordada por bandidos exibindo armas. Eles exigiram que os socorristas abrissem as portas da ambulância. Para as vítimas, o objetivo era furtar equipamentos médicos. Porém, os socorristas argumentaram para que desistissem do crime e conseguiram fazer com que eles não levassem os materiais.

Os bandidos, então, ameaçaram a equipe e disseram que deveriam abandonar o local o mais rápido possível, caso contrário, atirariam. A ambulância deixou Ourimar sem prestar socorro ao morador que necessitava do atendimento. A Polícia Militar foi acionada e realizou patrulhamento na região após os funcionários do Samu deixarem o local, porém, nenhum suspeito foi localizado.

Essa não foi a única ação criminosa de bandidos que fazem dos moradores de bem de Ourimar reféns do medo e da apreensão. Pela primeira vez desde que traficantes passaram a usar o local como ponto de moradia, esconderijo da polícia e comércio de drogas, uma pessoa foi assassinada dentro de um dos apartamentos durante um culto evangélico. Dois autores do crime foram presos pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Serra. Segundo a polícia, os moradores abandonaram o apartamento após o crime com medo. No ano passado, foram registradas sete mortes decorrentes da força da presença do tráfico.

No dia 06 de janeiro, o motorista de uma caminhonete, de 60 anos, foi assaltado dentro do condomínio. Ele levou um soco no rosto e depois foi esfaqueado no peito. Devido à violência que sofreu, ele desmaiou e foi socorrido por Policiais Militares, acionados por moradores do condomínio, para o Hospital Jayme dos Santos. A caminhonete e os pertences do motorista foram levados pelos criminosos.

"O medo nos sufoca no lugar que é o nosso lar. Temos que entrar mudos e sair calados para onde quer que formos. Moradores já foram expulsos esse ano. A lei agora é de que quem abrir a boca, morre. Não sabemos mais o que fazer, nem descer dos apartamentos à noite podemos mais, ninguém mais fica na área comun do condomínio por medo de sofrer nas mãos de pessoas armadas e sem limites", desabafou um ex-morador que não será identificado por segurança.

Se não for pela ordem explicita dos traficantes para sair, há quem desista de morar lá. "Quem tem ajuda para sair e ficar morando de favor na casa dos outros, vai embora. E são pessoas de bem que sofrem com isso tudo", completou o ex-morador.

E quem sai nem sempre leva o que tem. "Eu e minha família não voltaremos pra lá. Parte das nossas coisas foram roubadas quando deixamos o apartamento este ano. Até roupa levaram. O que sobrou, conseguimos pegar dias depois. Antes, ainda tínhamos certa tranquilidade. Agora, quem não tem medo de morar ali?", desabafou uma ex-moradora que deixou um dos apartamentos por medo.

DOMÍNIO DO TRÁFICO

No início do ano, uma reportagem exclusiva do Gazeta Online mostrou como moradores de Ourimar vivem reféns da presença do tráfico de drogas no residencial, que conta com 608 apartamentos divididos em blocos. Os bandidos impuseram leis próprias a serem seguidas pelos moradores sob ameaças de represálias se não cumpridas.

Ao todo, 48 famílias documentaram terem sido expulsas de apartamentos somente em 2017. No mesmo ano, sete assassinatos ligados aos traficantes locais ocorreram, sendo dois deles dentro do condomínio. Os demais, os criminosos levaram os corpos para fora do residencial para evitar a entrada da polícia no local, conforme foi investigado pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Serra.

Em fevereiro de 2018, um rapaz de 22 anos foi executado a tiros dentro de um apartamento, durante um culto. A morte de Arthur Gonçalves foi o primeiro homicídio dentro de um prédio de Ourimar.

Desde junho do ano passado a DCCV de Serra vem investigando e prendendo os homicidas que atuam no condomínio. Ao todo, 18 pessoas, 16 no ano passado e mais duas esse ano, foram presas por participar dos assassinatos.

Ao ser questionada, porém, sobre investigações acerca do comércio de drogas, estopim da maioria dos homicídios e demais crimes em Ourimar, a Polícia Civil se recusou a informar se existe há alguma investigação específica sobre o tráfico.

AÇÕES PÚBLICAS

Apesar de novos moradores serem vítimas da criminalidade dentro de Ourimar, a prefeitura e a Polícia Militar afirmam que continuam atuantes no local. Por meio de nota, a Polícia Militar disse que "tem atuado preventiva e repressivamente, efetuando prisões e apreensões de ilícitos". A PM também pede a ajuda da população para colaborar com o acionamento imediato pelo telefone 190 para que possa agir no momento da ação.

De acordo com a nota, em 2018, foram realizadas 71 operações na região, entre ações preventivas, cercos táticos e atendimentos a ocorrências. Por se tratar de área particular, a corporação informou que não pode manter uma base permanente no local.

Já o secretário de Defesa Social da Serra, Coronel Jailson Miranda, diz que muita coisa já mudou em Ourimar. "Cerca de 99% da população que mora lá é gente de bem. Estamos melhorando a vida daquelas pessoas que moram ali dentro, que precisam de emprego e do olhar que damos a eles, dar perspectiva de vida. Eu moraria lá", afirmou.

O secretário listou uma série de atividades desenvolvidas pelas secretarias de meio ambiente, da mulher e de saúde que prestam assistência aos moradores do condomínio. "Retiramos este ano 8 barracas que estavam ilegalmente no local e que se beneficiavam com bailes funks clandestinos que ocorriam lá", observou o secretário. Também há o incentivo a cursos profissionalizantes e de encaminhamento de crianças ao Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) realizando em conjunto com a PM.

Este vídeo pode te interessar

Desde o início do ano, duas câmeras de videomonitoramento foram instaladas na entrada do condomínio.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais