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Caso Ana Clara: ex-policial militar que assassinou namorada é julgado

Caso Ana Clara: ex-policial militar que assassinou namorada é julgado

Crime aconteceu em 2015. Ana Clara foi assassinada dentro do carro do namorado com cinco tiros. O julgamento acontece nesta quinta-feira

Publicado em 11 de julho de 2019 às 13:04

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Ana Clara Cabral, de 19 anos, foi morta em 2015 com cinco tiros. O suspeito é o namorado dela, o ex-policial militar Itamar Rocha Lourenço. (Reprodução / Instagram)

Quatro anos depois da estudante Ana Clara Félix Cabral, 19 anos, ter sido assassinada, o ex-militar e na época namorado da jovem, Itamar Rocha Lourenço Junior, enfrenta o banco dos réus nesta quinta-feira. O julgamento começou às 8h da manhã e acontece na 3ª Vara Criminal da Serra. 

Ana Clara foi morta com cinco tiros, dentro do carro de Itamar, no dia 5 de fevereiro de 2015. O ex-militar informou à polícia que o veículo havia sido roubado e namorada levada por um grupo de criminosos. Porém, para um amigo próximo, ele contou sobre o crime e disse onde havia jogado o corpo de Ana Clara. Ela foi encontrada morta em uma ribanceira, próximo a Rodovia do Contorno.

Pais e irmãos de Ana Clara Cabral manifestam durante julgamento do ex-militar Itamar Júnior. (Eduardo Dias)

A previsão é que o julgamento se estenda durante todo o dia. Cinco testemunhas de acusação e cinco de defesa vão ser ouvidas, entre elas policiais que participaram da ocorrência e investigação do crime, e pessoas próximas ao ex-militar. O júri é composto por quatro mulheres e três homens. Itamar está sendo julgado pelo crime de homicídio duplamente qualificado por motivo fútil, com ocultação de cadáver e falsa comunicação de crime. Na época, ele informou a polícia que havia sido vítima de um assalto e a namorada foi sequestrada. O ex-militar nunca falou sobre o crime.

Caso Ana Clara - ex-policial militar que assassinou namorada é julgado

"Independente dele confessar agora ou não, ao nosso ver ele não tem muita credibilidade. As provas são fartas, a gente acredita veemente que vai sair daqui com uma condenação", declarou o assistente de acusação e promotor de Justiça do Ministério Público, Rodrigo Monteiro.

Família quer condenação máxima

Carregando pertences de Ana Clara - um escapulário e uma almofada- Ana Katia Rodrigues Félix acompanha o julgamento do ex-namorado da filha. Na porta do Fórum, junto com a família, ela pediu por Justiça e manifestou a indignação contra a violência contra à mulher, da qual Ana Clara foi vítima. 

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Ele não teve dó, é um assassino covarde, um monstro. O feminicídio está acontecendo todo dia, tem muita mulher morrendo. Queremos a condenação para dar exemplo, mostrar que a lei existe. O nosso empenho é que ele pegue 30 anos de cadeia

Ana Kátia Felix, mãe de Ana Clara
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O pai de Ana Clara, Elson Cabral Filho, busca pela condenação máxima de Itamar. Para ele, não há dúvidas que o ex-militar é o assassino da filha. 

"As provas estão muito claras, ele é o único suspeito, ficou preso o tempo todo. Eu acho que a manutenção dele na prisão mostra que a Justiça tem bastante certeza do caminho que está seguindo. Não tem outro resultado que esperamos a não ser a condenação dele, a pena máxima", disse. 

MÃES QUE PERDERAM FILHAS PRESTAM APOIO À FAMÍLIA

Prestando apoio à família, duas mães de jovens vítimas de feminicídio no Espírito Santo foram até o Fórum para acompanhar o julgamento nesta quinta-feira. Selma Santos, mãe de Bárbara Richardelle, e Neize Bonfim, mãe de Gabryella Bonfim, viram os namorados das filhas serem condenados pelos crimes em 2016 e 2017, respectivamente. Apesar da dor, elas esperam que Ana Katia possa ter o mesmo alívio que tiverem ao verem a justiça ser feita.

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Como mãe, eu me ponho no lugar dela. Se não fosse por elas, que sempre me deram apoio, eu não teria força para continuar. Nós precisamos nos unir, nos apoiar

Selma Santos, mãe de Bárbara Richardelle
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Nosso coração está unido e pedindo justiça, para que a lei seja mudada e esses monstros continuem presos

Neize Bonfim, mãe de Gabryella Bonfim
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O CRIME

O crime aconteceu no dia 5 de fevereiro de 2015, após Ana Clara e Itamar, que havia acabado de reatar a relação, saírem de uma festa em um quiosque na Praia de Camburi, Vitória. Os depoimentos constantes no processo apontam que a relação do casal era conturbada em decorrência do ciúme que o ex-PM nutria pela jovem.

Eles seguiram em direção a Serra, e Ana Clara foi morta dentro do carro de Itamar com cinco tiros, sendo um na cabeça e quatro nas costas. O corpo dela foi jogado em uma ribanceira na Rodovia do Contorno. Após o crime, Itamar notificou a polícia dizendo que ao sair de um motel, em Cariacica, com a namorada, parou para urinar. Ele contou que nesse momento o carro dele, onde Ana Clara estava, foi cercado por criminosos, que teriam sequestrado a estudante.

A versão do então soldado não convenceu a polícia que fazia diligências para tentar localizar o sequestrador. Para um amigo, ele contou onde estava o corpo de Ana Clara e já durante a noite ele levou os policiais até o local. Mas nunca confessou o crime, nem mesmo em depoimentos à Justiça, e nem disse a motivação e dinâmica do assassinato.

RÉU VAI APRESENTAR SUA VERSÃO

A situação deverá mudar nesta quinta-feira durante o julgamento. Segundo o advogado do ex-militar, Rafael Almeida de Souza, que assumiu o caso na etapa do julgamento, Itamar vai aproveitar o momento para apresentar a sua versão dos fatos. "Ele tem permanecido em silêncio, mas na última conversa que tivemos, ele decidiu que agora é o momento de apresentar a sua versão do que aconteceu no dia do crime. Eles namoraram por pouco tempo, mas tiveram um relacionamento um pouco conturbado", relatou.

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Itamar, permanece preso, desde o dia do crime, na Penitenciária de Segurança Média I, em Viana. Seu advogado explicou que Itamar não foi acusado de feminicídio porque na época em que os fatos ocorreram ainda não existia esta qualificadora de crime, que surgiu meses depois. "A lei não retroage para prejudicar o réu", explicou Souza.

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