Kauã Butkovsky, na época com 6 anos, foi assassinado junto com o irmão na casa onde moravam em Linhares
Kauã Butkovsky, na época com 6 anos, foi assassinado junto com o irmão na casa onde moravam em Linhares. Crédito: Arquivo pessoal

“Justiça não foi feita”, diz avó de Kauã, assassinado em Linhares

Marlúcia Butkovsky, avó paterna de Kauã, conta o drama vivido pela família após a morte das crianças e o que esperam que seja feito com os acusados de cometerem o crime

Tempo de leitura: 4min
Publicado em 21/04/2020 às 10h06

“Era um menino maravilhoso, gostava de cantar, era muito inteligente como tantas crianças e hoje eu não tenho mais isso”. É com essas palavras e os olhos cheios de lágrimas que Marlúcia Butkvosky, avó paterna de Kauã Sales Butkovsky, à época com 6 anos, assassinado junto do irmão, Joaquim Alves Sales, de 3 anos, em um crime que chocou o Espírito Santo, relembra o caso que completa dois anos neste mês.

Os irmãos Kauã e Joaquim foram mortos, segundo a polícia, no dia 21 de abril de 2018, na casa onde a família morava, no Centro de Linhares. O acusado de cometer esse crime é o ex-pastor Georgeval Alves, padrasto e pai de um dos meninos que está preso preventivamente e a esposa dele, a também ex-pastora Juliana Sales Alves, mãe das crianças. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, George Alves como também é conhecido teria estuprado, torturado e queimado as crianças ainda vivas.

Dois anos depois do crime, a avó paterna de Kauã comenta emocionada o que a família viveu nos últimos vinte e quatro meses. Segundo ela, foram meses de muita dor, saudade e principalmente de pedidos de justiça. “Esse tempo todo é muita dor. Uma dor que não tem tamanho e a nossa indignação é que nesses quase dois anos ainda não tem uma posição concreta em relação à Justiça. A justiça ainda não foi feita, ainda não agendaram sequer o julgamento do Georgeval”, lamenta.

Assim como a família, a sociedade ainda espera o capítulo final dessa triste história. O processo que apura a morte dos irmãos aguarda análise de recurso no Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) para só então os réus serem julgados, o que ainda não tem data para acontecer.

Marlúcia Butkvosky

Avó paterna de Kauã

"Não tem como não se revoltar numa situação dessa. Ele tirou a vida de duas crianças, além do meu neto, ele tirou a vida do filho dele, dele [Georgeval] e de Juliana. Fica uma interrogação: por que tamanha monstruosidade? O meu neto nunca mais. Tanto ele [Kauã] quanto o Joaquim eu sei que já são anjos no céu, mas para a gente que fica aqui na Terra é muito difícil. A palavra saudade já é difícil quando a gente tem alguém longe, imagina quando você nunca mais vai ver. Aquela criança foi meu tudo, meu único neto"

A ex-pastora Juliana Sales foi denunciada pelos mesmos crimes que o marido na forma omissiva, mas responde ao processo em liberdade, o que gera revolta por parte dos familiares de Kauã. “O Georgeval, diante da situação, a gente já tem certeza que ele é culpado. Para isso foi feita uma investigação muito precisa onde a Justiça já está ciente disso. Então o julgamento dele vai ser o júri popular. Nós fizemos uma solicitação diante da Justiça que pudesse colocar Juliana também. E aí eu pergunto: 'Cadê a Juliana que não está presa? Por quê? Eu não sei, mas quero saber”, questiona.

“A justiça ainda não foi feita”, lamenta avó de uma das crianças mortas em Linhares. Crédito: TV Gazeta/Reprodução
“A justiça ainda não foi feita”, lamenta avó de uma das crianças mortas em Linhares. Crédito: TV Gazeta/Reprodução

Marlúcia Butkvosky

Avó paterna de Kauã

"Ele tem que ser julgado diante da coisa terrível que ele fez, a monstruosidade que ele fez. Esse crime não foi um crime banal, foi um crime hediondo. E para isso e a gente tem que ter, não só eu, mas a sociedade com um todo, porque um crime como esse, ele não pode sair impune"

Marlúcia conta que jamais imaginariam que uma situação como essa poderia acontecer na família. No entanto, diante do crime terrível que terminou com a morte do neto ela faz o alerta: “Hoje diante da sociedade, do que a gente está vivendo com essa pandemia, as crianças estão dentro de casa, eu quero pedir às pessoas para olharem as nossas crianças, porque infelizmente essa situação acontece num meio muito restrito. Não deixe suas crianças sozinhas na rua. Espero que os nossos governantes possam realmente estar colocando o Conselho Tutelar a polícia para averiguar isso tudo. O que eu mais peço diante de toda essa situação é que a gente tenha mudanças na lei, porque sem a mudança na lei esses casos vão sair com um cumprimento de pena muito pequeno. Georgeval, por exemplo, é novo, se ele leva 30 anos de cadeia e isso se reduz pela metade, ele vai sair novo ainda e ele pode fazer isso com outras crianças, porque é um monstro. Um monstro que fez isso com meu neto e ainda com o próprio filho”.

A família acompanha o andamento do processo de perto e realiza junto com outras famílias movimentos pedindo justiça pela morte dos irmãos Kauã e Joaquim. Após várias audiências já realizadas no processo, eles ainda esperam uma resposta.

“É uma dor imensa você perder o seu ente querido tão lindo, tão maravilhoso que teria tudo pela frente, eu não vou ter mais nada disso, a não ser as recordações que eu tenho dele. São fotos lindas. Era um menino maravilhoso, gostava de cantar, era muito inteligente, como tantas crianças e hoje eu não tenho mais isso. Então olhe pelas suas crianças. Olhem para que realmente não aconteça isso na sua família, porque a gente nunca imaginou que isso pudesse acontecer da forma que aconteceu. É o que eu peço: governantes mudem as leis brasileiras”, alerta a avó de Kauã.

“A justiça ainda não foi feita”, lamenta avó de uma das crianças mortas em Linhares
Na foto, Rainy e Marlúcia registraram o último encontro com o neto Kauã quando foram visitar a criança em Linhares. Crédito: Acervo pessoal

FAMÍLIA ESPERA POR JUSTIÇA

O advogado Síderson Vitorino, que representa a família de Kauã Butkovsky e atua como assistente de acusação no processo, explica que o recurso apresentado no Tribunal de Justiça visa reverter a impronúncia da ex-pastora Juliana para que ela também seja levada a júri popular.

“O juiz entendeu por não classificar a Juliana como cometedora de coautoria do crime de homicídio, por isso ela não vai para o Tribunal do Júri. Produzimos junto do Ministério Público um instrumento de apelação para reverter essa decisão em relação à Juliana, porque entendemos que ela também deve responder junto de Georgeval também no Tribunal do Júri”, explica.

Tanto a defesa dos ex-pastores quanto o Ministério Público e os assistentes de acusação aguardam a análise dos recursos no Tribunal de Justiça, para que o julgamento dos réus possa ser marcado e a sentença na primeira instância finalmente seja proferida.

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