Publicado em 8 de outubro de 2018 às 23:49
No campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) está o retrato do abandono do que restou da Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA). Veículos sendo destruídos pela exposição ao sol, chuva e maresia. Um patrimônio que aguarda o desenrolar na Justiça de um processo de liquidação, ou seja, que põe fim à instituição.>
Pelo menos seis veículos, alguns que não tem nem dez anos de uso, estão abandonados no campus da universidade em Goiabeiras, em Vitória. Um exemplo é um Corsa Classic, de quatro portas, de 2008. Por conta da exposição ao sol e a chuva já está com lataria comprometida pela ferrugem. O mesmo destino teve um Gol, também de quatro portas, do ano de 2010, que está abandonado com pneu furado.>
Alguns carros foram deixados por tanto tempo no local que a vegetação cresceu ao redor, se adaptando a eles. É o caso de uma van, onde uma árvore cresceu e a raiz já envolve o pneu. Em outras partes do carro, o acúmulo de material na lataria, que está sendo destruída pela maresia, favoreceu até o crescimento de pequenas plantas no próprio veículo.>
Também há veículos de 1998 e outro de 2003. Todos os carros são de propriedade particular da Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA) e estão à disposição da Justiça. Aguardam a conclusão do processo para que tenham uma destinação, a mais comum é o leilão.>
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Outro exemplo de abandono vem do prédio que sediava a instituição, no mesmo campus. O portão de ferro e o cadeado que o trancam estão tomados pela ferrugem. Do lado de dentro ficaram os livros, muitos documentos, aparelhos de telefone, dentre outros equipamentos. O mato que reina em volta tomou conta até das calhas.>
Criada em 1977, a fundação era destinada a ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico e tinha como objetivo apoiar e incentivar atividades na Ufes, mas, ao longo de décadas, esteve ligada à várias denúncias de corrupção e desvio de recursos públicos.>
Em 2014, A GAZETA mostrou que uma dívida milionária poderia fechar a fundação. O rombo, na época, era estimado R$ 30 milhões. Foi nesta ocasião que foi pedida a sua extinção e liquidação.>
Por nota, a Procuradoria Geral da Ufes explicou que a fundação está em processo de liquidação judicial e que o prédio que a sedia pertence à universidade, mas estava alugado pela fundação. Já foi solicitada a retomada do imóvel, mas é aguardada uma posição do Judiciário.>
PROCESSO PARADO HÁ QUATRO ANOS>
Há quatro anos está parado o processo de extinção e liquidação judicial ou seja, que põe fim à instituição da Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA), que era ligada à Ufes. O impasse maior é encontrar um administrador que cuide do seu patrimônio. Em paralelo, há ainda um jogo de empurra-empurra, uma vez que também não se chegou a conclusão de onde o processo deverá ser julgado, se na Justiça estadual ou na federal.>
A liquidação foi pedida em 2014, por intermédio de uma ação ordinária, proposta pela promotora Arlinda Maria Barros Monjardim, da 28ª Promotoria de Justiça, que faz a curadoria das fundações.>
Além das dificuldades financeiras, é relatado na ação que, em maio de 2014, todos os membros do conselho administrativo e o curador da Fundação Ceciliano Abel de Almeida renunciaram a seus cargos, deixando a instituição sem um responsável por sua administração.>
Na ocasião, a dívida estimada era de quase R$ 30 milhões. Mas, atualmente, já há informações de que só com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) há dívidas que chegam a R$ 80 milhões, mas que ainda precisam ser comprovadas.>
Havia ainda pendências trabalhistas, como o salário dos funcionários que não era pago. Também há débitos referentes a encargos trabalhistas, como INSS e FGTS. Por outro lado, ela teria recursos a receber por serviços prestados a prefeituras e que ainda não foram quitados.>
Levantar todas estas pendências seria papel do administrador judicial, a quem caberia apurar as obrigações, ou seja, os débitos que a fundação possui, assim como os seus direitos. Só a partir desta avaliação o processo teria condições de caminhar para uma finalização.>
O problema é que desde 2014 a Justiça estadual tenta nomear um administrador judicial, sem sucesso. Quase todos recusaram o trabalho. Houve até uma tentativa de nomear servidores da universidade, também sem sucesso.>
A última tentativa da Justiça foi a indicação do advogado Diogo de Souza Salgado Rocha. Ele chegou a apresentar os seus honorários, mas como a fundação não possui verba disponível para pagá-lo, o Juizado consultou os credores, que não se propuseram a assumir os custos. Em decorrência disso não fui nomeado, oficialmente, explicou o advogado.>
IMPASSE>
Outro impasse diz respeito a quem deve julgar o processo. Ele chegou a ser encaminhado para a Justiça Federal, em decorrência das ligações com a Ufes. Mas foi devolvido para a Justiça estadual.>
Em julho deste ano, a União manifestou interesse na ação e o processo novamente foi encaminhado para a Justiça Federal, mas foi devolvido no mês passado e agora aguarda uma nova decisão judicial.>
Criada em outubro de 1977, a fundação é uma instituição de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento tecnológico. Seu principal objetivo, segundo informações de seu antigo site, é apoiar e incentivar as atividades da universidade.>
Ao longo das últimas décadas, porém, a Fundação Ceciliano Abel de Almeida esteve envolvida em diversas denúncias e foi alvo de ações de improbidade administrativa que ainda tramitam na Justiça.>
Foi denunciada por desvio de recursos públicos e fraudes em concursos. Um deles realizado para o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). Um processo seletivo que acabou sendo alvo de investigação na Operação Naufrágio, que apurava venda de sentenças no judiciário capixaba.>
Vários de seus gestores também foram denunciados por má gestão. Um relato sobre esta situação também foi encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF).>
ENTENDA O CASO>
Problemas>
Má gestão>
Ao longo das últimas décadas, a Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA) esteve envolvida em diversas denúncias e foi alvo de ações de improbidade administrativa que tramitam na Justiça. Um relato sobre esta situação também foi encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF).>
Desvios>
Foi denunciada por desvio de recursos públicos e fraudes em concursos. Um deles realizado para o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES). Um processo seletivo que acabou sendo alvo de investigação na Operação Naufrágio, que apurava venda de sentenças no Judiciário capixaba.>
Dívidas>
Rombo>
A estimativa inicial é de que o rombo chegue a R$ 30 milhões. Mais recente foi informado à Justiça estadual que há uma dívida com a Ufes de R$ 80 milhões, mas que precisa ainda ser com provada.>
Trabalhistas>
Há dívidas com os salários dos funcionários que não foi pago e com encargos trabalhistas, como INSS e FGTS, que ainda precisam ser quitados.>
Denúncias>
Justiça>
Desde 2014 tramita na Justiça estadual um a ação do Ministério Público Estadual pedindo a extinção a liquidação da Fundação.>
Administrador>
Um dos problemas tem sido conseguir um administrador judical para a fundação. As várias tentativas feitas pela Justiça não resultaram em sucesso. O último a ser indicado foi o advogado Diogo de Souza Salgado Rocha.>
Sem recursos>
Como a fundação não possui dinheiro, os honorários do administrador teriam que ser custeados pelos credores, que não se propuseram a assumir os custos. Em decorrência disso, o processo não anda.>
Quem julga>
Há ainda uma polêmica envolvendo quem deverá fazer o julgamento do processo. ele chegou a ser encaminhado duas vezes para a Justiça Federal, que o recusou. Agora, após a segunda devolução, a Justiça estadual deverá se manifestar>
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