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Apenas 11 cidades no Espírito Santo possuem cinema

Apenas 11 cidades no Espírito Santo possuem cinema

Grande parte dos cinemas estão localizados na Grande Vitória e litoral do Estado. No extremo norte, moradores precisam se deslocar pelo menos 150 quilômetros até a sala de exibição mais próxima

Publicado em 5 de novembro de 2019 às 06:00

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Abertura do 26º Festival de Cinema de Vitória, realizado no Centro Cultural Sesc Glória, no Centro de Vitória. (Levi Mori/Festival de Cinema de Vitória)
Apenas 11 cidades no Espírito Santo possuem cinema

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no último domingo (03), despertou o debate acerca de um tema pouco valorizado no país: o acesso à cultura, mais especificamente ao cinema. Apesar da democratização do cinema ir muito além de espalhar salas para exibição de filmes, o fato de apenas 11 dos 78 municípios capixabas possuírem cinemas convencionais mostra como o acesso a esta arte está distribuído de forma desigual.  Os dados fazem parte do Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) 2018, do IBGE. Confira quais são as cidades que possuem cinema no ES.

Enquanto na região metropolitana, que concentra grande parte dos cinemas do Espírito Santo,  a população conta com diversas opções na Capital e arredores, no extremo norte do Estado, moradores de Ecoporanga precisam se deslocar mais de 150 km até a sala de exibição mais próxima, que fica em São Mateus.

Para o professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Alexandre Curtiss, a falta de espaços deste tipo demonstra que é dada pouca importância à cultura  em muitos lugares do país. A situação é mais crítica fora dos grandes centros, onde, por questões comerciais, grandes empresas não têm interesse  e nem mesmo incentivo de se instalarem.

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Se a gente não leva o cinema para todos os lugares, a gente restringe o acesso da população. Antes, a gente ainda tinha muita política que incentivava criação de projetos para estas cidades, onde os cinemas tradicionais não conseguiam chegar. Mas o cenário atual não é bom, principalmente com o corte de políticas públicas, do investimento do governo federal na cultura

Alexandre Curtiss
Professor de Comunicação Social da Ufes
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Mas possuir cinema perto de casa não é sinônimo de democratização. Mesmo nos 11 municípios que possuem salas convencionais, o acesso só é possível para parte da população. O alto preço de ingressos, que pode chegar a mais de R$ 30 (inteira), impossibilita muitas pessoas de usufruírem desta opção cultural.

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Se você pensar no gasto que uma família com quatro pessoas tem para assistir um filme no cinema, você percebe que são poucas que vão conseguir pagar por aquilo. E até mesmo as que pagam, não vão conseguir fazer isso com uma frequência suficiente para levantar debates e discussões. É preciso baratear ingressos

Alexandre Curtiss
Professor de Comunicação Social da Ufes
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Em um cinema de Vitória, por exemplo, uma família de quatro pessoas, sendo duas crianças, gastaria quase R$ 100 reais só para ver um filme.  O cálculo não considera o valor do transporte e alimentação. 

Com o cinema tradicional longe de cumprir o papel de democratizar, projetos alternativos buscam reduzir as distâncias levando esta arte a locais onde ela não chega. Atualmente, iniciativas capixabas investem na descentralização da exibição de filmes, levando cinemas para praças, parques e praias do Espírito Santo e de todo o Brasil.

"A gente encontra ao longo do trabalho pessoas que nunca foram ao cinema ou nem sabem que existe. O cinema itinerante traz uma linguagem muito popular, que dialoga com todos os públicos de forma gratuita", comenta a diretora do Festival de Cinema de Vitória e coordenadora do cinema itinerante, Lúcia Caus. Há mais de 19 anos, a iniciativa percorre municípios do litoral capixaba durante o verão.

A diretora do Instituto Marlin Azul, e coordenadora do projeto Revelando os Brasis, Beatriz Lindenberg, ressalta que levar um filme para a tela de cidades onde o acesso é limitado pode mudar realidades. 

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Muitas vezes o filme se desdobra em outras ações naquele lugar, seja na mudança da política local, na discussão de temas que geram preconceito, ou na forma que as pessoas passam a enxergar a cultura

Beatriz Lindenberg
Diretora do Instituto Marlin Azul
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Além de exibir filmes de produção nacional para pequenas cidades de todo Brasil, o projeto Revelando Brasis também leva oficinas de capacitação para a população destes locais. Com isso, moradores são capacitados para produzir seus próprios filmes e contar suas próprias histórias. 

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"Só de levar a tela já é importante, mas permitir que pessoas produzam e mostrar que elas são capazes de produzir é emocionante.  Quando a gente apresenta o filme que foram feitos naquelas cidades, a gente vê uma identificação enorme das comunidades de ver o trabalho delas na tela. Isso promove um efeito de autovalorização em cada cidade que a gente passa. É dessa forma que a gente caminha para a democratização do cinema", finaliza.

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