Publicado em 5 de novembro de 2019 às 06:00
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no último domingo (03), despertou o debate acerca de um tema pouco valorizado no país: o acesso à cultura, mais especificamente ao cinema. Apesar da democratização do cinema ir muito além de espalhar salas para exibição de filmes, o fato de apenas 11 dos 78 municípios capixabas possuírem cinemas convencionais mostra como o acesso a esta arte está distribuído de forma desigual. Os dados fazem parte do Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) 2018, do IBGE. Confira quais são as cidades que possuem cinema no ES.>
Enquanto na região metropolitana, que concentra grande parte dos cinemas do Espírito Santo, a população conta com diversas opções na Capital e arredores, no extremo norte do Estado, moradores de Ecoporanga precisam se deslocar mais de 150 km até a sala de exibição mais próxima, que fica em São Mateus. >
Para o professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Alexandre Curtiss, a falta de espaços deste tipo demonstra que é dada pouca importância à cultura em muitos lugares do país. A situação é mais crítica fora dos grandes centros, onde, por questões comerciais, grandes empresas não têm interesse e nem mesmo incentivo de se instalarem.>
Alexandre Curtiss
Professor de Comunicação Social da UfesMas possuir cinema perto de casa não é sinônimo de democratização. Mesmo nos 11 municípios que possuem salas convencionais, o acesso só é possível para parte da população. O alto preço de ingressos, que pode chegar a mais de R$ 30 (inteira), impossibilita muitas pessoas de usufruírem desta opção cultural.>
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Alexandre Curtiss
Professor de Comunicação Social da UfesEm um cinema de Vitória, por exemplo, uma família de quatro pessoas, sendo duas crianças, gastaria quase R$ 100 reais só para ver um filme. O cálculo não considera o valor do transporte e alimentação. >
Com o cinema tradicional longe de cumprir o papel de democratizar, projetos alternativos buscam reduzir as distâncias levando esta arte a locais onde ela não chega. Atualmente, iniciativas capixabas investem na descentralização da exibição de filmes, levando cinemas para praças, parques e praias do Espírito Santo e de todo o Brasil.>
"A gente encontra ao longo do trabalho pessoas que nunca foram ao cinema ou nem sabem que existe. O cinema itinerante traz uma linguagem muito popular, que dialoga com todos os públicos de forma gratuita", comenta a diretora do Festival de Cinema de Vitória e coordenadora do cinema itinerante, Lúcia Caus. Há mais de 19 anos, a iniciativa percorre municípios do litoral capixaba durante o verão.>
A diretora do Instituto Marlin Azul, e coordenadora do projeto Revelando os Brasis, Beatriz Lindenberg, ressalta que levar um filme para a tela de cidades onde o acesso é limitado pode mudar realidades. >
Beatriz Lindenberg
Diretora do Instituto Marlin AzulAlém de exibir filmes de produção nacional para pequenas cidades de todo Brasil, o projeto Revelando Brasis também leva oficinas de capacitação para a população destes locais. Com isso, moradores são capacitados para produzir seus próprios filmes e contar suas próprias histórias. >
"Só de levar a tela já é importante, mas permitir que pessoas produzam e mostrar que elas são capazes de produzir é emocionante. Quando a gente apresenta o filme que foram feitos naquelas cidades, a gente vê uma identificação enorme das comunidades de ver o trabalho delas na tela. Isso promove um efeito de autovalorização em cada cidade que a gente passa. É dessa forma que a gente caminha para a democratização do cinema", finaliza.>
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