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Satélites são usados para flagrar desmatamento em áreas do ES

Satélites são usados para flagrar desmatamento em áreas do ES

Com a ajuda de imagens aéreas, já é permitido ver, virtualmente, quais áreas estão sendo atingidas e a gravidade do desmate

Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 06:00

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Reserva natural da Mata Atlântica no Espírito Santo. (Reprodução/ TV Gazeta Sul )

Aviões, satélites e georreferenciamento. O avanço das tecnologias permite que o Espírito Santo tenha hoje mais agilidade e precisão no combate ao desmatamento ilegal. No passado, o trabalho no solo, buscando e montando peça a peça as áreas de degradação das matas. Hoje, com a ajuda de imagens aéreas, já é permitido ver, virtualmente, quais áreas estão sendo atingidas e a gravidade do desmate.

No Estado, cabe ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) fazer a fiscalização da Mata Atlântica capixaba e o controle da cadeia produtiva - todos aqueles materiais de origem vegetal e nativos da mata. Para cortar a vegetação nativa, por exemplo, é necessário uma autorização prévia do órgão.

Até 2012, a fiscalização dos fiscais nas áreas desmatadas era feita de maneira muito ostensiva, segundo Pedro Heyerdahl, subgerente de controle florestal do Idaf: “Nós estamos presentes em todos os 78 municípios capixabas. A gente contava muito com a presença dos fiscais no campo. Às vezes, atendendo uma propriedade, encontrávamos um desmatamento no caminho”, conta.

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Tínhamos esse trabalho de 'formiguinha' no campo. Até hoje continuamos com essa atuação presencial, porém já somos pioneiros no uso de tecnologias que detectam os desmatamentos

Pedro Heyerdahl
Subgerente de controle florestal do Idaf
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TECNOLOGIAS PARA FLAGRAR IRREGULARIDADES

As imagens feitas pelos satélites antigos nem sempre apresentam imagens com boa qualidade de resolução, assim, não era possível identificar, pequenos desmatamentos não detectáveis pelas lentes. “Os mais antigos conseguem detectar desmates na ordem dos 3 hectares. Se o desmate for menor, nem sempre é detectado, mas com as novas tecnologias é possível ver desmatamentos de até 0,3 hectares, o equivalente a 3 mil metros”, compara Pedro.

Ainda na década de 70, quando a Nasa lançou as primeiras imagens de monitoramento da Terra, o Espírito Santo já tinha um levantamento aéreo da vegetação do Estado, feito por avião, onde foi possível ver árvore a árvore, e com isso, identificar até mesmo pequenos desmates. A partir de 1985, com o satélite LANSAT 5, passou-se a produzir imagens com mais frequência do planeta, porém, não era possível identificar muito bem a Mata Atlântica, já que sua vegetação no Estado é muito fragmentada, e os desmatamentos, pequenos, segundo Pedro.

Em 2008 e em 2015, dois outros levantamentos aéreos foram feitos no Estado. Nesses estudos, foi pedida também a classificação do uso do solo. Ou seja, os técnicos analisam imagem por imagem e dizem o que há no solo em cada parte do Estado: plantação de café, banana, eucalipto ou Mata Atlântica, por exemplo. “O controle do desmatamento aqui no Estado com o uso desse sensoriamento remoto já vem de muito tempo”, afirma Pedro.

A partir de 2016, as informações do Global Land Analysis & Discovery (GLAD), da universidade americana de Maryland, são somadas a outras metodologias que reúnem todos os alertas de possíveis desmatamentos. Esses alertas são checados e validados pelo MapBiomas que gera laudos sobre o ocorrido, com o auxílio de imagens dos nanosatélites da empresa PlanetLabs. Após a checagem, é identificado o território e o proprietário da região desmatada.

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Isso muda completamente a forma de fazer a fiscalização. São gerados relatórios customizados com imagens antes e depois do desmatamento, o local e o proprietário da área. É dado um laudo pronto que permite ao Idaf ir até a região

 
 
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Exemplo de detecção de desmatamento pelos satélites
Exemplo de detecção de desmatamento pelos satélites. (Idaf)

MUNICÍPIOS E ÁREAS DESMATADAS (HA) NO ES EM 2019 E 2020

EM 2019

  • Linhares: 29,9
  • Colatina: 17,6
  • Barra de São Francisco: 12,1
  • Águia Branca:  10,7
  • Afonso Cláudio: 7,7
  • Aracruz: 2,9
  • Santa Maria de Jetibá: 1,2
  • Governador Lindenberg: 1,1
  • Itarana: 1,1
  • Domingos Martins: 0,6
  • Alfredo Chaves: 0,5
  • TOTAL (ha): 85,3
EM 2020 (até setembro):
  • Nova Venécia:  13,0
  • Pancas: 11,4
  • Fundão: 10,2
  • Mantenópolis:  5,5
  • Guaçuí: 4,9
  • Linhares: 3,3
  • Santa Maria de Jetibá: 3,0
  • Domingos Martins: 2,9
  • São Domingos do Norte: 2,5
  • Alfredo Chaves: 2,2
  • Colatina: 1,9
  • Aracruz: 1,9
  • Muniz Freire:  1,9
  • Brejetuba: 1,5
  • Guarapari: 1,1
  • TOTAL até setembro (ha): 67,0
Fonte: Idaf

O desmatamento irregular  correspondia em 2019 a 0,009% da cobertura de vegetação nativa presente no Estado, estimada em 1 milhão de hectares. Já em 2020 esse número caiu para 0,007%.  O Espírito Santo tem cerca de 4,6 milhões de hectares em território. "Esses dados sobre desmatamentos não foram encontrados por acaso, quando os fiscais estavam passando nos locais. São dados auditados em cima das imagens de satélite, gerados por uma universidade americana e analisados por uma equipe independente", afirma Pedro.

Segundo dados do Atlas da Mata Atlântica, apesar do desmatamento no Brasil ter crescido quase 30%, entre 2018 e 2019, o Espírito Santo e mais outros oito Estados registraram desmatamento zero no mesmo período. Mas isso não existe que a irregularidade não ocorra, explica Pedro. "A nossa cobertura florestal no Espírito Santo está crescendo. Isso não significa que não há desmatamentos. Ainda acontecem, mas também existem áreas se regenerando. Não estamos, sequer, nem perto de um cenário como o da Amazônia". 

Os dados apontam que o desmatamento ilegal ocorre em apenas 1% das propriedades rurais, segundo Pedro. Isso quer dizer que, de todos os produtores rurais com florestas em seu território, apenas 1% deles pratica algum dano à floresta. "A maioria dos nossos produtores rurais respeita a lei, é parceira na preservação. A gente não pode deixar que algumas maçãs podres manchem a reputação de toda a comunidade de produtores", frisa Pedro.

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Errata Correção
23 de dezembro de 2020 às 15:43

O nome do satélite LANSAT 5 estava errado e foi corrigido no texto. 

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