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Vitória: por que não existem grandes shows e eventos por aqui?

Vitória: por que não existem grandes shows e eventos por aqui?

Produtores explicam a ausência desse tipo de evento em Vitória e contam quais as maiores dificuldades para produzir no Espírito Santo

Publicado em 25 de maio de 2018 às 22:47

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Vitória sempre esteve fora da rota de grandes shows e festivais que acontecem em todo o Brasil. E é comum escutar questionamentos e reclamações do público capixaba sobre a ausência desses eventos. Festas como as antigas micaretas na praia de Camburi e os shows de pop rock na Praça do Papa saíram de cena. Mas, afinal, por que eles não acontecem por aqui? O C2 foi em busca de uma resposta de produtores experientes para tentar desvendar os motivos.

Uma das idealizadoras do Espírito Elétrico, Lilian Moussallem acredita que atualmente um dos maiores problemas é o risco de produzir um evento enorme sem ter o retorno financeiro. “Hoje está tudo difícil e a crise também atingiu o mercado de eventos. Aluguel de um local como o Pavilhão de Carapina é puxado e é preciso muitas atrações para encher. Hoje em dia não dá pra arriscar mais”, diz.

Lilian também observa uma movimento de público que não quer mais eventos de multidão, motivo para investir em shows menores, mas mais elaborados.

Quem também investe neste movimento é Patrick Ribeiro. Para ele, outra grande dificuldade enfrentada pelos produtores é o custo final do ingresso. “O primeiro é a crítica ao preço do ingresso. Quem está em Vitória vai até São Paulo, Rio de Janeiro para um show internacional. Mas se o show acontecer aqui com o mesmo valor ele não vai.”

Os grandes festivais sertanejos quando acontecem por aqui, muitas vezes são realizados pelos próprios artistas, como o evento Villa Mix, realizado pelo escritório da dupla Jorge & Mateus. “Os artistas são sócios do evento ou criam um leilão. Ou grandes empresas multinacionais são responsáveis por realizar a turnê com grandes nomes e aí preferem focar em grandes centros, como Rio, São Paulo e Porto Alegre. Aí é tudo uma questão de estudo e histórico que mostram que eventos lá funcionam melhor que aqui”, continua Patrick.

Patrocínio

O investimento de grandes empresas é o que torna viável eventos megalomaníacos como Rock in Rio e Lollapalooza. Por aqui, as empresas não demonstram interesse. “Esses grandes não são possíveis porque a conta não fecha. Essas empresas que patrocinam os grandes projetos preferem existir nas principais capitais brasileiras. Pensando na geografia, temos o mesmo tamanho do Rio, mas nosso estado não é tão populoso. Quando não tem patrocínio você já entra no evento com prejuízo. E Vitória é uma capital cara de se produzir eventos. Muitas empresas com sede aqui não investem no estado e investem em outros”, destaca Wesley Telles, produtor cultural responsável por trazer espetáculos ao lado da produtora e sócia Bruna Dornellas.

Além disso, Wesley pontua que em sua área de espetáculos teatrais, não existe um espaço adequado. “Meu sonho era trazer grandes musicais, mas precisa ter um espaço, que seria o Cais das Artes, mas que sabemos da situação. Também precisamos construir um público, mas isso já está acontecendo. Antigamente era um evento por final por semana porque todo produtor tinha medo. Hoje temos diferentes eventos em um mesmo dia”, diz Wesley.

Estrutura

Vitória sempre recebeu grandes micaretas. Mas há algum tempo elas deixaram de existir na Capital. Há três anos, o produtor Cícero Ribeiro, responsável por produzir os shows de Ivete Sangalo no Espírito Santo, entre outros, enfrentou a maior dificuldade de toda a carreira. “Foi a proibição de trio elétrico. Fazer esse tipo de show em Vitória agora só é possível no Sambão do Povo. Lá pode, mas não é o perfil do evento. Então agora prefiro levar esses shows para Guarapari. Também existem mais exigências do que antigamente. Mais taxas, o Ecad. Tudo isso tem um custo”, explica.

Leonardo Caetano Krohling, Diretor Presidente da Companhia de Desenvolvimento de Vitória, confirma que o local disponível para eventos como esse é o Sambão do Povo. Segundo Leonardo, o estacionamento da Praça do Papa, em Vitória, está liberado desde dezembro de 2017 para realização de eventos maiores, com público de 5 a 6 mil pessoas. “Nós temos a comissão de eventos que avalia caso a caso. O Vital por exemplo não pode ser feito. Tivemos que avaliar e escutamos a sociedade em torno do evento”, argumenta Krohling.

Ano passado foram liberados 777 eventos no município de Vitória. Neste ano, até agora, foram 272. “Nunca falamos ‘não’. Sempre tentamos remanejar para outro espaço. Não cabe o Vital em Camburi, mas tem o Sambão. No caso de shows como o da Alanis Morissette na Pedra da Cebola, eles chegaram com a proposta e sentamos com a comunidade e entendemos que não é possível acontecer lá”, diz.

Leonardo relembra o emblemático show de Paul McCartney no Espírito Santo. “Grandes shows como esse que extrapolam o número de pessoas é feito um esquema com a Prefeitura e o Governo do Estado para pensar na operação de táxis e ônibus, guarda municipal... Nos preparamos com seis ou sete meses de antecedência. fazemos estudos prévios”, justifica.

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Ou seja, as dificuldades são muitas e distintas, mas os produtores continuam insistindo. “O papel do produtor vai além de fazer essa transformação cultural na cidade em que ele atua. A gente faz também um a papel turístico, de ‘vender’ nosso estado para realizar eventos de artistas consagrados”, finaliza Wesley Telles.

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