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O fim melancólico das videolocadoras na Grande Vitória

O fim melancólico das videolocadoras na Grande Vitória

Heróis da resistência: proprietários bem que tentaram sobreviver, mas tiveram que encerrar as atividades com a crise do mercado

Publicado em 17 de agosto de 2018 às 21:47

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Primeiro vieram a pirataria e os downloads ilegais. Agora, com a evolução da internet, dos serviços de streaming e com a oferta de canais a cabo com filmes 24 horas por dia, os proprietários de locadoras tradicionais da Grande Vitória que tentaram com todas as forças sobreviver nos últimos anos decidiram por um ponto final nesse capítulo.

Paulo Sedano, 42 anos, proprietário da Planet DVD, na Praia do Canto, em Vitória, durante 25 anos tentou de tudo: colocou um correspondente bancário dentro da loja e passou a vender outros artigos, mas há dois meses desistiu de vez de nadar contra a maré. A gota d’água para Paulo aconteceu quando um pai entrou com o filho na loja e perguntou o que era uma videolocadora. “Foi a minha frustração. Aí eu pensei que era a hora de parar e cancelei qualquer tipo de compra (de filmes)”, conta.

Desde dezembro de 2017 ele se prepara para este momento. Foi quando ele começou a vender seu estoque de DVDs e Blu-Ray com preços entre R$ 5 a R$ 10. Seu maior público nos últimos tempos eram pessoas na faixa dos 50 anos.

“No início, em um final de semana chuvoso, o estoque esvaziava. Era um lucro excessivo, um mercado que deslumbrava. Eu chegava a locar 600 títulos em um final de semana e olha que tinha bastante concorrência, umas seis locadoras no bairro”, relembra.

Paulo começou a trabalhar com o DVD no início dos anos 2000 e em 2006 o negócio atingiu seu ápice. Mas com o DVD veio a pirataria e o desenvolvimento da internet e nem o Blu-Ray conseguiu salvar a depreciação. “Acho que o maior problema não foi a pirataria, mas a melhoria da internet e a TV a cabo. Hoje em dia é muito fácil ver um filme”, diz.

Com o fim da locadora, Paulo se prepara para uma nova fase depois tantos anos no ramo. Vai viajar pela Europa. “Se eu gostar, posso ficar por lá”, diz.

Mesmo fim

Ailton Pereira Paiva, 57 anos, também segue o mesmo rumo. À frente da Marabá Videolocadora, em Barcelona, na Serra, também há 25 anos,  ele encerra as atividades. “Me aposento e vou fechar a locadora. Pensei em mudar de ramo, mas vou fechar e colocar o imóvel pra alugar. Vou me mudar para Santa Teresa, meu sonho sempre foi morar lá”, explica.

Nos tempos dourados, por volta de 2005, Ailton era proprietário de videolocadoras em vários bairros e chegou a alugar 1278 filmes em um dia. Em 2008, porém, a crise e a tecnologia fizeram o negócio despencaram.

Construída no prédio em que Ailton mora, a loja persistiu mais por comodismo, diz o proprietário, que sempre gostou do ramo e o encarava como uma diversão que dava (bastante) dinheiro. Com o lucro das locadoras ele construiu um prédio com três apartamentos e uma loja.

“Desde criança eu gosto de filmes. Fui comprando por diversão. Quando meu filho era pequeno comprei ‘O Rei Leão’ e ‘Pinóquio’ e sempre emprestava. Aí pensei e decidi abrir uma locadora”, lembra.

queima de estoque

No início do ano, Ailton tinha 9 mil filmes e jogos de videogame no estoque. Hoje está vendendo tudo; restam 2500 unidades. Apaixonado pelo que faz, separou cerca de 50 filmes para o seu acervo pessoal.

Na Grande Vitória, outras famosas locadoras fecharam as portas. Mesmo quem tentou continuar, acabou cedendo, como a Look Vídeo, em Jardim Camburi, que ainda vende os restante do estoque de filmes, mas se transformou em uma loja de material de limpeza.

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“A pirataria atrapalhou, mas tinha mercado. A tecnologia também facilitou a vida pra todo mundo. Ainda mais que hoje ninguém quer sair de casa com medo da violência. Mas só tenho a agradecer, foi um tempo muito bom”, diz Ailton.

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