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Último show dos Beatles, num telhado em Londres, completa 50 anos

Último show dos Beatles, num telhado em Londres, completa 50 anos

Hoje célebre Apple Rooftop Concert foi o último show ao vivo da banda para uma plateia, interrompido porque os vizinhos se incomodaram com o barulho; registros sobrevivem

Publicado em 23 de janeiro de 2019 às 18:09

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Os Beatles já estavam cansados de ser os Beatles quando subiram a um "palco" pela última vez: no dia 30 de janeiro de 1969, os Fab Four pegaram seus instrumentos no topo do edifício do número 3 da Savile Row, no bairro de Mayfair, em Londres, e tocaram para nunca mais tocarem juntos em frente a uma audiência - o último show dos Beatles. A apresentação ficou conhecida como Apple Rooftop Concert.

A história ainda não definiu com certeza de quem foi a ideia: há quem diga que foi do conciliador Ringo Starr, e na lembrança do tecladista Billy Preston, que acompanhou o quarteto na apresentação, a ideia foi de John Lennon. O engenheiro de som Glyn Johnson, célebre por gravar os maiores atos do rock inglês naquele ano (além dos Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin), porém, diz que foi dele.

Fato é que a banda e toda sua laia estavam instalados no prédio da Apple Records, o centro de operações da gravadora, produtora de filmes e estúdio. O plano era - depois de ter gravado e lançado o "White Album" em 1968, e de um período em que Ringo ficou afastado da banda - fazer um filme sobre o processo criativo dos Beatles no estúdio, nas gravações do que seria o disco "Let It Be". O final seria uma apresentação ao vivo: a primeira desde o último show da banda, em San Francisco, Califórnia (EUA), em 1966.

23/01/2019 - Imagens do último shows dos Beatles, no telhado da Apple Records, em 30 de janeiro de 1969. (Apple Records)

As filmagens na verdade começaram no Twickenham Film Studios, e eram realizadas de segunda a sexta começando as 9h da manhã, por regulamentações sindicais. Mas a banda já não estava em seu melhor momento no quesito convivência, e o fato de tentar fazer rock and roll no inverno britânico muito cedo não ajudava.

Um trecho do filme "Let It Be", dirigido por Michael Lindsay-Hogg (que décadas depois revelaria ser filho de Orson Welles) e vencedor de um Oscar de trilha sonora em 1971, mostra um momento em que George Harrison discute com Paul McCartney num tom altamente irônico. "Eu vou tocar o que você quiser que eu toque ou não vou fazer nada", diz Harrison. "O que quer que te agrade, eu vou fazer."

Envolvido nas gravações de uma parte das "The Basement Tapes", com Bob Dylan e a The Band em Nova York, Harrison concordou em retornar a Londres sob uma condição: abandonar as sessões no Twickenham e mover a operação para o prédio da Apple Records.

A turma concordou, equipamentos foram levados do estúdio em Abbey Road, e alguns dias depois dos trabalhos o quarteto decidiu estar pronto para o show ao vivo.

Em um momento revelador do filme "Let It Be", McCartney tenta de todo jeito convencer John Lennon e fazer a banda voltar ao palco, usando como argumento a série de shows realizados em Liverpool em 1961, depois da temporada na Alemanha. "Quando voltamos, os shows foram terríveis, estávamos nervosos. Mas continuamos a tocar e então a gente tinha eles nas mãos. Se alguém tivesse filmado aquelas apresentações... elas foram fantásticas", diz Paul.

Imagens do último shows dos Beatles, no telhado da Apple Records, em 30 de janeiro de 1969. (Apple Records)

A sugestão de um show surpresa, inesperado, insólito, é tentadora demais mesmo para Lennon. A história segue e conta que depois de algumas especulações megalomaníacas como Los Angeles, o Coliseu e uma ilha na Grécia, a banda concordou em fazer subir os equipamentos e tocar no terraço, na hora do almoço, na região central de Londres.

Instrumentos, a estrutura de palco, o sistema de PAs, microfones e cabos foram levados quatro lances de escada acima, e no dia 30 de janeiro de 1969 uma pequena turma de amigos, além da equipe de filmagem, começava a presenciar aquela que seria a última aparição dos quatro Beatles juntos tocando suas músicas.

A missão de montagem e mixagem do som ficou por conta dos engenheiros Glyn Johns, Keith Slaughter e Dave Harries. Um dos problemas a serem resolvidos pela equipe era o vento nos microfones. Eles então mandaram um operador de fitas novato (ninguém menos que Alan Parsons) ir comprar meias-calças numa loja próxima. "Eu recebi muitos olhares estranhos", lembrou Parsons anos depois.

O som foi mixado numa máquina de gravação de 8 canais, e o grupo performou algumas tomadas de cinco canções: "Get Back", "Dig a Pony", "I'Ve Got a Feeling", "Don't Let Me Down" e "One After 909".

Embora o filme se encontre hoje fora de catálogo, alguns vídeos e trechos ainda podem ser encontradas na web.

O vídeo abaixo é um lançamento oficial da banda, um compilado de dois takes de Don't Let Me Down gravados no topo do prédio da Apple Records.

Abaixo, outros teasers oficias sobre a produção do filme. Paul diz que a ideia era mostrar o processo criativo dos Beatles.

O show durou pouco mais de 40 minutos e foi interrompido, sim, pela polícia, após reclamações de comerciantes e moradores ao redor em relação a barulho e ao aumento do tráfego — transeuntes desavisados são os primeiros a testemunhar a movimentação estranha no teto do prédio, mas é curioso perceber como a notícia se espalha rápido numa era em que telefones celulares eram itens de distopias futuristas.

Em uma entrevista na revista Word décadas depois daquela última performance com a banda, McCartney diz: “Eu amei porque ela mostra o que os Beatles eram por baixo de tudo aquilo. Nós éramos uma bela de uma banda”.

Imagens do último shows dos Beatles, no telhado da Apple Records, em 30 de janeiro de 1969. (Apple Records)

Apple Rooftop Concert

Imagens do último shows dos Beatles, no telhado da Apple Records, em 30 de janeiro de 1969 Foto: Apple Records

Apple Rooftop Concert

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Imagens do último shows dos Beatles, no telhado da Apple Records, em 30 de janeiro de 1969 Foto: Apple Records

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