Publicado em 6 de dezembro de 2020 às 18:09
No encontro entre o compositor e cantor Caetano Veloso e o escritor espanhol Paul B. Preciado, que está em Paris, mediado pelo mexicano Ángel Gurria-Quintava, o avanço da extrema direita no mundo foi um dos temas discutidos, mas não o principal no sábado, 5. A mesa de número oito (Transições) da edição virtual da Festa Literária Internacional de Paraty, foi pré-gravada, mas não perdeu o impacto. Preciado, autor de Um Apartamento em Urano e um dos primeiros pacientes do covid-19, perguntou sobre o significado do título Narciso em Férias, que Caetano tirou de um capítulo de um livro de F. Scott Fitzgerald. "Narciso é um deus básico, e, em geral, usam a palavra de Narciso de maneira pejorativa", respondeu, lembrando que o livro do escritor americano lhe veio à mente quando ficou numa solitária, preso pela ditadura militar, tema de sua obra.>
"Parecia que minha vida tinha sido essa o tempo todo e, quando me decidi narrar a experiência da prisão, me pareceu um bom título". Sobre o gênero do livro, que Gurria-Quintaca classificou de autoficção, Veloso admitiu que não pode deixar de haver, no caso, a construção de um personagem.>
Já Preciado escreve em seu livro recém-lançado, que a filosofia é um tipo de ficção que pretende transformar a realidade. Com nacionalidade espanhola, ele pediu a mudança de sexo, discutindo a questão da homossexualidade no encontro. Caetano citou o crítico Luís Carlos Maciel quando o livro Vereda Tropical (origem de Narciso em Férias) foi lançado: "Caetano se revelou: ele não é homossexual, nem bissexual nem heterossexual". O compositor riu e admitiu que já se apaixonou por homens, após ler um poema elegíaco à pansexualidade, estranhando a ausência de "bichas" no colégio dos filhos, no Rio. Na Bahia, segundo Caetano, ele vivia rodeado de colegas homossexuais.>
O compositor, referindo-se à sua formação, citou a intelectualidade francesa (Sartre, Simone Beauvoir, Lévi-Strauss) e destacou o papel de Foucault como uma inteligência que abriu novos caminhos para sua filosofia.>
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Já Preciado, filho de uma tradicional família do Norte da Espanha, franquista, teve dificuldades para aceitar sua mudança de sexo (ele era a escritora Beatriz Preciado). "Toda a memória do fascismo é a memória da cultura dos meus pais, de uma cultura patriarcal, em que a masculinidade é definida como um luxo, o monopólio legítimo da violência que, afinal, é compartilhado tanto pela cultura espanhola como portuguesa". Apesar de tudo, ele se definiu como um "otimista patológico".>
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