Independência em partidos deveria ser possível, mas com moderação

Parlamentares que votaram a favor da reforma optaram por não trafegar na contramão da história, permanecendo fiéis a seus princípios e ao contexto nacional

Publicado em 22/07/2019 às 20h32
Os deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) fazem parte do movimento Acredito. Crédito: Jailson Sam/Câmara dos Deputados
Os deputados Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) fazem parte do movimento Acredito. Crédito: Jailson Sam/Câmara dos Deputados

Desde 2016, quando o ex-presidente Michel Temer apresentou uma PEC para mudar as regras da Previdência, o Brasil amadureceu bastante o debate em torno da necessidade da reforma. O recado foi entendido pela população. Se em maio de 2017 sete em cada dez brasileiros rejeitavam a proposta, neste mês o número de apoiadores ultrapassou o de opositores, segundo o Datafolha.

Apesar de impopulares, alterações na aposentadoria se impuseram na agenda pública, promovendo uma inédita convergência entre especialistas e sociedade sobre o fato de que mudanças são imprescindíveis para estancar a sangria fiscal.

Foi essa convicção que moveu 19 deputados a ir contra seus partidos e votar a favor da reforma, com Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PDT-SP) como símbolos desse contrafluxo. O voto gerou celeuma, a ponto de os parlamentares correrem risco de expulsão das legendas, mas está longe de ser uma surpresa para o eleitorado e mesmo para as cúpulas dos partidos, que agora cobram fidelidade. Desde a campanha, Rigoni e Tabata deixaram claro seu alinhamento favorável à revisão das regras da Previdência e tiveram destacada atuação na elaboração de emendas que aprimoraram a PEC. “Eu estudei o texto. Ele tem muitos defeitos, mas, no geral, é muito melhor do que pior”, afirmou o capixaba.

Parlamentares que votaram a favor da reforma optaram por não trafegar na contramão da história, permanecendo fiéis a seus princípios e ao contexto nacional. A situação traz à memória ocasiões em que partidos votaram contra medidas cruciais para o país, como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Políticas de Estado incontestáveis, hoje ninguém seria capaz de justificar uma oposição a elas. Nem mesmo os partidos que à época fecharam questão.

O sistema político brasileiro está em constante evolução. Ajustes são necessários para corrigir visões distorcidas sobre alguns partidos, mais oportunistas do que oportunas. Para o aprimoramento da democracia, talvez o ideal seja justamente instaurar certa independência de pensamento no interior das legendas, especialmente em pautas que são verdadeiras bolas divididas. Mas, é claro, com ponderação. Dar alguma autonomia não é o mesmo que permitir que os parlamentares votem contra os partidos na maioria dos temas, sob o risco de se perder a necessária coerência ideológica, o que também não é saudável para a representatividade.

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