Publicado em 14 de agosto de 2021 às 10:52
Entre janeiro de 2020 e julho de 2021, mais de 10 mil pessoas registraram queixas no portal Reclame Aqui por uma mesma razão: elas deram entrada no processo para se tornarem MEI (microempreendedor individual) e, só depois, viram que os sites acessados pertenciam a empresas, que fizeram cobrança de até R$ 300. >
O serviço, na verdade, é prestado gratuitamente pelo governo. Tudo é feito de forma digital, sem necessidade de envio de documentos. >
Na ferramenta Sebrae Respostas (fórum de discussão on-line), também é possível verificar relatos de empreendedores que usaram sites para abrir o MEI e buscam saber se foram vítimas de um golpe. Parte deles afirma que pagou a taxa, mas não teve nem o serviço prestado, ou seja, o CNPJ jamais foi criado - o que configura o estelionato. >
A semelhança entre os sites particulares e o antigo endereço oficial, que se chamava Portal do Empreendedor, contribuiu para a confusão. Bastava digitar o nome no Google para que dezenas de domínios bem parecidos com o original fossem listados. Alguns tinham status de anunciantes e apareciam antes mesmo do endereço correto. >
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Em dezembro de 2020, o governo federal retirou a expressão "Portal do Empreendedor" de seu URL. Desde então, o endereço oficial é www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor . Mas foi só em julho deste ano que ele passou a aparecer em primeiro lugar na busca do Google. >
A mudança no domínio ajudou, mas não resolveu o problema. Segundo o Instituto Reclame Aqui, o número de queixas em 2021 caiu 26,9%, mas 2.881 foram registradas entre janeiro e julho, mesmo após a mudança do URL. >
A pedido da reportagem, o advogado Luiz Augusto D'Urso, coordenador-geral do Conselho de Segurança Cibernética e de Dados Pessoais da Associação Comercial de São Paulo, pesquisou a origem de sete sites que oferecem serviço de abertura de MEI. Segundo ele, todos foram registrados por domínio por proxy, recurso que dificulta a identificação de suas empresas titulares. >
Na opinião do advogado, isso já desperta a suspeita de que não sejam idôneas. "Dois sites pertencem a uma mesma empresa e foram registrados em Toronto, no Canadá. Em caso de uma ação judicial, haveria uma dificuldade imensa para encontrar o dono.">
O governo federal admite ter conhecimento do problema e afirma que intensificou as campanhas de esclarecimento. "Temos feito a divulgação pelo próprio site, avisamos que o serviço é gratuito e que foi criado para simplificar a vida do cidadão", diz Fábio Silva, coordenador-geral de Empreendedorismo e artesanato da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, vinculada ao Ministério da Economia. >
Alguns sites particulares avisam em suas homepages, de forma visível, que o endereço não tem vínculo com o governo e que o registro de MEI pode ser feito gratuitamente. >
De acordo com o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), essa informação deve ser "clara, transparente e adequada, demonstrando-se se haverá custos e quais são eles." Se o site mostrar esse alerta e o serviço for prestado "ou seja, se de fato o CNPJ for criado", não é possível tentar conseguir o dinheiro de volta, afirma D'Urso. Mas, se não houver um aviso claro, o consumidor pode exigir indenização. >
"Se a empresa se aproveitar do desconhecimento das pessoas para vender um serviço que é público, pode estar violando a boa-fé e induzindo os consumidores a erro, o que representa uma violação grave ao Código de Defesa do Consumidor", afirma Christian Printes, coordenador da área jurídica do Idec. >
Quem se sentir lesado deve procurar os órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, para evitar a cobrança indevida. Caso o pagamento já tenha sido efetuado, a solução é recorrer à Justiça, por meio de um Juizado Especial Cível. >
Nos casos em que o empreendedor pagou pelo serviço e não teve sua empresa aberta, o primeiro passo é registrar um boletim de ocorrência, que pode ser feito presencialmente ou on-line. >
"O aumento de BOs desse tipo gera pressão para que medidas efetivas sejam tomadas. É possível bloquear esses domínios e descobrir quem são os titulares', diz D'Urso. >
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