Publicado em 20 de outubro de 2022 às 17:51
BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quinta-feira (20) que os ajustes fiscais necessários para garantir os recursos para financiar a despesa com a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 ao mês passam pela introdução da tributação de lucros e dividendos com o Imposto de Renda (IR) e não por mudanças nas regras de reajuste do salário mínimo ou de vinculação dos valores mínimos dos benefícios da Previdência ao salário mínimo. >
No início de 2023, haverá reajuste do salário mínimo pelo menos pela inflação, garantiu o ministro. E o menor valor pago pela Previdência será equivalente a esse valor reajustado. >
"Estamos com o jogo correndo, não vamos mudar as regras", afirmou Guedes, em entrevista após fazer uma apresentação sobre o cenário econômico durante uma reunião de diretoria da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), na sede da entidade no Rio. "Em janeiro e fevereiro, os aposentados e o salário mínimo serão corrigidos pelo menos pela inflação", completou.>
Segundo o ministro, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) está "combinada politicamente" para introduzir a tributação de lucros e dividendos com o Imposto de Renda (IR). Atualmente, esse tipo de rendimento é isento de IR — o Brasil é um dos poucos países do mundo que não tributa a renda auferida pelas pessoas físicas com o lucro empresarial.>
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Essa nova receita será "bastante acima", disse o ministro, dos novos gastos previstos para 2023. Nas contas de Guedes, são R$ 69 bilhões em novas receitas contra R$ 52 bilhões de despesas. O ministro não especificou quais novos gastos estão incluídos no segundo valor, se há alguma outra despesa além da manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 ao mês — o custo fiscal das medidas lançadas nos últimos meses pelo governo federal tem sido estimado em torno de R$ 65 bilhões.>
Guedes sinalizou também com um aumento salarial linear para todo o funcionalismo público federal. Nas contas do ministro, um reajuste de 5,5% para todos elevaria a despesa em já R$ 10 bilhões ao longo de um ano.>
De acordo com Guedes, a PEC já combinada precisa ser apresentada ao Congresso Nacional e votada o mais rápido ao possível, "logo depois" do segundo turno das eleições, marcado para o próximo dia 30. O objetivo é garantir os recursos para financiar as novas despesas já no início de 2023.>
Além disso, a equipe econômica prepara uma série de medidas na área fiscal para evitar um "waiver" (espécie de licença para ampliação de gastos) no teto de gastos (a regra fiscal que limita o crescimento das despesas públicas de um ano ao valor do ano anterior reajustado pela inflação).>
O conjunto de medidas planejadas incluiria mudanças na forma como o valor do salário mínimo é reajustado e na vinculação desse valor ao pagamento mínimo dos benefícios da Previdência.>
Na entrevista no Rio, Guedes esclareceu que essa série de medidas, que vai além do previsto para a PEC que garantirá os recursos para o Auxílio Brasil, ainda está em estudo. O objetivo dessas medidas seria "fazer a adequação do teto de gastos, que é cheio de goteiras", enquanto o "coração" da PEC já combinada é para pagar Auxílio Brasil. "Ninguém vai usar mudança de regra fiscal para prejudicar salário mínimo e aposentados", afirmou Guedes.>
Embora o ministro tenha refutado as informações sobre mudanças no reajuste do salário mínimo e na vinculação dos benefícios da Previdência, ele defendeu o princípio de fazer o "DDD" — mudar a Constituição Federal para desvincular receitas de determinados gastos, desindexar despesas a índices de inflação ou valores específicos, como o salário mínimo, e desobrigar o governo de fazer determinados gastos. >
Guedes lembrou que estudos nesse sentido sempre foram feitos, desde o início do governo, em 2019, e frisou que desindexar não significa, necessariamente, que reajustes ficarão abaixo da inflação. As próximas correções poderiam até ficar acima da inflação.>
Agora, se a série de ajustes nas regras fiscais, para "consertar o teto", será feita na própria PEC combinada para garantir recursos para o Auxílio Brasil ou numa PEC separada é uma decisão que caberá à "política". Segundo Guedes, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), já teria percebido a "importância do DDD".>
O tema também está na boca do líder do governo Bolsonaro na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR).>
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no último domingo, 16, Barros disse que há condições para aprovar uma "desvinculação e desindexação" do Orçamento já para 2023.>
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