Publicado em 15 de maio de 2024 às 19:57
SÃO PAULO - A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,38% nesta quarta-feira (15), a 128.027 pontos, puxada pelo tombo das ações da Petrobras após a troca de comando da estatal. Já o dólar, em sessão volátil, fechou com leve alta de 0,09% e ficou cotado a R$ 5,125 na venda.>
A demissão de Jean Paul Prates do comando da Petrobras na noite de terça (14) ofuscou os aguardados dados da inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que vieram abaixo do esperado e reforçaram apostas de corte de juros em setembro por lá.>
Os papéis da estatal derreteram na sessão desta quarta (15). Os preferenciais (PETR4) desabaram 5,73%, a R$ 38,53 por ação; os ordinários (PETR3), 6,64%, a R$ 40,08.>
A queda representa uma perda de mais de R$ 34,67 bilhões em valor de mercado desde a abertura do pregão.>
>
Para o posto de Prates, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou a engenheira Magda Chambriard, que comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) no governo Dilma Rousseff (PT).>
A troca de comando foi vista com preocupação por economistas, que temem interferência política na estatal.>
"O mercado nunca gosta de ingerência política sobre empresas com negócios em Bolsa. Não será diferente desta vez, até porque o Prates vinha se mostrando um conciliador entre mercado e política. O grande problema da empresa é refino: entra governo, sai governo, é sempre uma dor de cabeça", avalia Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos.>
Com Chambriard, a Petrobras terá o sexto presidente em três anos – um mau sinal para a petroleira. "Gera incerteza, e os investidores estrangeiros ficam ressabiados e vendem as ações.">
Ele pesa, ainda, a cena geopolítica no Oriente Médio, cujos conflitos têm afetado o preço do barril do petróleo. "Para piorar, teve o vai-não-vai dos dividendos. É preciso endereçar essas questões com rapidez, vamos ver como a nova presidente vai agir.">
Prates sofreu forte processo de fritura nos últimos meses, após críticas de Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, à sua abstenção em votação de proposta do governo para reter dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2024, medida que havia sido negociada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.>
Defendida por Silveira e Rui Costa, ministro da Casa Civil, a retenção foi aprovada no início de março e derrubou o valor de mercado da estatal. O governo acabou recuando semanas depois e aprovou a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários em assembleia no fim de abril.>
Na assembleia, o governo não só recuou como determinou estudos para que a Petrobras distribua os 50% restantes até o fim do ano, em movimento que tranquilizou o mercado e recuperou o valor das ações da empresa.>
Prates ganhou sobrevida no cargo, mas a avaliação no Planalto era de que sua manutenção não duraria muito tempo.>
Logo após a demissão, Prates mandou uma mensagem a assessores próximos. "Minha missão foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa. Não creio que haja chance de reconsideração. Vão anunciar daqui a pouco", escreveu.>
Os dividendos são parte chave do imbróglio para o mercado, de acordo com Flávio Conde, head de renda variável na Levante Investimentos.>
"[A demissão de Prates] é um sinal ruim. Significa que a ala política venceu o embate. As ações caíram, porque boa parte dos investidores estão na Petrobras por conta dos dividendos, que estavam projetados em torno de 15% no ano. Com isso, a tese de investimento da Petrobras perde força e o risco de maior intervenção aumenta, não só pela troca de presidente, mas no plano de investimentos.">
Segundo a Genial Investimentos, Prates vai fazer falta. "Apesar de todas as desconfianças iniciais, sua gestão a frente da empresa pode ser considerada muito razoável. Em nossa opinião, o principal risco ao case diz respeito a expansão de investimentos em projetos pouco interessantes e suspensão do pagamento de dividendos", escreveu Ygor Araujo, analista da corretora.>
Para a EQI Investimentos, Magda Chambriard tem experiência comprovada no setor de energia, mas a análise é que a "capacidade de implementar mudanças radicais nos tópicos realmente importantes do caso de investimentos, especialmente no curto prazo, pode ser limitada, como a de qualquer outro CEO".>
Os olhos também se voltaram à inflação ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês).>
O índice de preços subiu 0,3% no mês passado, depois de avançar 0,4% em março e fevereiro, informou o Departamento do Trabalho. Nos 12 meses até abril, o índice teve alta de 3,4%, ante 3,5% em março.>
Economistas consultados pela Bloomberg previam alta de 0,4% na base mensal e 3,4% na anual. O Fed trabalha com a meta de levar a inflação a 2% em 2024.>
O resultado sugere que a inflação norte-americana retomou sua tendência de queda no início do segundo trimestre.>
O dado é um importante indicador para calibrar as expectativas do mercado quanto à proximidade do primeiro corte na taxa de juros norte-americana, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).>
"Todo o mercado vai precificar a possibilidade de corte de juros antes de setembro, que é o consenso neste momento, e talvez até uma chance de mais cortes de juros em 2024", avalia Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.>
Outrora destaque do dia, a inflação dos EUA se tornou mais lateral no mercado doméstico conforme investidores se voltavam para o derretimento das ações da Petrobras.>
"A notícia de uma inflação mais estável nos EUA não foi capaz de reverter o viés negativo da bolsa local com a notícia da troca na Petrobras", avalia Bruno Mori, sócio-fundador da consultoria Sarfin.>
No exterior, a reação aos dados de inflação foi forte: os índices S&P 500 e Nasdaq fecharam com recordes de pontos, com ambos avançando mais de 1%.>
De acordo com dados preliminares, o S&P 500 avançou 1,18%, para 5.308,67 pontos. O Nasdaq teve alta de 1,41%, para 16.744,03 pontos. O Dow Jones subiu 0,90%, para 39.911,81 pontos.>
Por aqui, na cena corporativa, JBS disparou 7,55% e conteve parte da pressão sobre o Ibovespa, após divulgação do balanço do último trimestre.>
A companhia registrou lucro líquido de R$ 1,65 bilhão, ante prejuízo de R$ 1,45 bilhão no mesmo período do ano passado. A maior empresa de proteínas animais do mundo superou as expectativas de analistas, que previam lucro de R$ 675,5 milhões.>
A MRV também figurou na coluna positiva, com avanços de 4,40%.>
Na ponta negativa, CSN perdeu 5,97%, e Vale fechou praticamente estável, com recuo de 0,05%.>
Na terça-feira, o dólar encerrou a sessão em queda de 0,41%, cotado a R$ 5,130 na venda. Já o Ibovespa teve alta de 0,28%, a 128.515,50 pontos, com investidores digerindo a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e o balanço da Petrobras no último trimestre.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta