Publicado em 28 de julho de 2019 às 00:06
Às vezes, uma carta ou ligação que parecem trazer boas notícias são apenas a porta de entrada para que aposentados caiam em golpes, percam dinheiro e disponibilizem seus dados pessoais. Essas armadilhas para fisgar beneficiários da Previdência Social estão ficando cada vez mais comuns e sempre fazendo mais vítimas.>
Golpes simples, que exigem o pagamento antecipado para o recebimento de um precatório ou para a revisão do valor benefício são os mais praticados pelos bandidos.>
Esses golpes exigem o pagamento de um valor relativamente baixo, mas como são muitas pessoas que caem, eles acabam sendo muito lucrativos para quem os aplica, diz a titular da Delegacia Especializada em Crimes de Defraudações e Falsificações (Defa), Rhaiana Bremenkamp.>
Há cerca de dois meses, uma aposentada de 68 anos, moradora de Alegre, recebeu uma carta dizendo que ela tinha direito a receber mais de R$ 65 mil por conta do período em que trabalhou em determinada empresa. Porém, para receber o valor, ela deveria depositar antecipadamente R$ 1.100.>
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Ao ligar para o filho, que trabalha em um banco, ela foi informada de que se tratava de uma fraude. A carta citava empresas nas quais ela nunca trabalhou, destaca o filho da vítima que conseguiu se esquivar do golpe.>
Este é apenas um exemplo dos vários casos que são registrados na Defa e em outras delegacias. Bremenkamp destaca que os golpes contra aposentados são cíclicos, mas que sempre fazem vítimas.>
É difícil fazer uma estimativa da quantidade porque esses golpes podem ser registrados em qualquer delegacia, mas a gente nota um crescimento porque facilitou muito a disseminação desses crimes. Às vezes a pessoa está fora do Estado e manda cartas para cá, ou faz ligações e consegue enganar 10, 20 pessoas, comenta.>
EMPRÉSTIMOS >
Outras reclamações dizem respeito a empréstimos consignados não autorizados e a descontos de autorizações sem a permissão do beneficiário. De acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de janeiro a junho deste ano foram feitas 24.983 reclamações sobre empréstimos consignados.>
O órgão registrou ainda 2.662 protestos contra débitos no benefício que não foram autorizados pelo segurado. Este é o caso de um fotógrafo aposentado de Vitória. Em março deste ano ele percebeu que havia sido descontado um valor de aproximadamente R$ 70 de seu benefício.>
A instituição que fez o desconto é de Brasília. Não conheço ninguém em Brasília, nunca autorizei nada e ainda assim eles tiraram um dinheiro que é meu. Quem passou meus dados para eles? Quanta gente deve estar pagando sem saber?, questionou.>
A cobrança foi feita por dois meses. Depois, o ex-fotógrafo conseguiu receber o valor de volta.>
De acordo com o advogado Rafael Vasconcelos, especialista em Direito Previdenciário, a simples devolução do valor cobrado indevidamente não desfaz o erro.>
Nos casos de cobrança indevida a empresa deve devolver o valor em dobro. Além disso, ainda cabe processo por danos morais por conta do vazamento das informações, acrescenta.>
Por situações como essa que o advogado orienta que o aposentado sempre confira o demonstrativo de pagamento, para observar se estão sendo feitas cobranças irregulares.>
PRINCIPAIS GOLPES E COMO SE DEFENDER>
Falso empréstimo>
Como funciona>
Aposentados são alvos de quadrilhas, que pegam os dados das vítimas, fazem o empréstimo e somem, deixando a conta para seus alvos pagarem.>
Como se defender>
O aposentado não deve passar seus dados pessoais para terceiros. Além disso, ao contratar um consignado, deve fazer com uma instituição de confiança.>
Cobrança indevida>
Como funciona Instituições de todo Brasil conseguem os dados do aposentado e começam a descontar valores mensais no benefício da vítima.>
Como se defender>
Não passar os dados para terceiros e sempre verificar no demonstrativo de pagamento se há débitos não autorizados.>
Revisão do benefício>
Como funciona>
Com o pretexto de que o aposentado recebe um valor abaixo do correto, os bandidos enviam uma carta solicitando uma quantia para que seja feita a revisão do benefício.>
Como se defender Sempre que receber cartas assim, procure o INSS para averiguar a veracidade.>
Falsos precatórios>
Como funciona>
Os falsários enviam uma carta ou fazem contato telefônico por ligação ou SMS, dizendo que a vítima tem direito a valores referentes a uma ação judicial antiga contra o INSS. Para ter acesso à quantia, porém, ela deve depositar determinado valor.>
Como se defender>
Para o recebimento de precatórios, não há necessidade de pagamentos antecipados. Deve-se, sempre, procurar o advogado que moveu a ação para saber o andamento do processo.>
Idosos são alvos preferenciais dos bandidos>
Foi com um ar decepção com a sociedade que a delegada Rhaiana Bremenkamp, titular da Delegacia Especializada em Crimes de Defraudações e Falsificações (DEFA), disse que os idosos são os alvos da maioria dos bandidos para os mais diversos crimes praticados.>
Quando você fala de golpe contra idoso, contra aposentado, você mexe num ponto que, para eles, já é muito difícil: normalmente, eles percebem que já não têm muita habilidade, que já não são como eram como jovens. Então, muitas vezes, eles não contam para os filhos, não procuram a polícia, porque eles mesmos se sentem... caí no golpe porque estou velho , refletiu Rhaiana.>
Ela destaca que além dos golpes que têm relação direta com a aposentadoria, muitos outros são cometidos contra os idosos porque, normalmente, são pessoas que possuem uma renda fixa.>
Golpes como o do falso bilhete premiado, do falso sequestro e do motoboy que vai até a casa da vítima pegar o cartão em nome do banco podem atingir qualquer pessoa, mas os mais idosos são o alvo principal por conta das dificuldades que eles têm e pelo fato de, se forem aposentados, todo mês ter um salário garantido na conta, acrescentou a delegada.>
O golpe do falso bilhete premiado, por exemplo, por mais antigo que seja, ainda faz vítimas hoje em dia. Já vimos idosos perdendo R$ 40 mil, R$ 80 mil, joias da família, entre outros itens, completou.>
O titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Brenno Andrade, cita que alguns dos golpes eletrônicos também visam atingir as pessoas de mais idade. O foco aqui na delegacia não são tanto os idosos, porque eles usam menos a internet que as demais faixas etárias. Porém, o golpe do estelionato amoroso, por exemplo, já foi registrado contra idosos.>
Nesse golpe, o criminoso entra em contato com a vítima geralmente alguém viúvo, carente e faz com que o idoso se apaixone por ela, para depois começar a pedir dinheiro. Em um dos casos, um idoso iria enviar cerca de R$ 200 mil para o exterior. O golpe só não foi concluído porque o gerente do banco não autorizou a transação, conta.>
De acordo com os delegados, para se defender de tais crimes, basta ter atenção e desconfiar de histórias e ofertas que pareçam tentadoras. Segundo eles, também é importante conversar com pessoas de confiança e perguntar se já viu tal fato acontecer.>
Como os golpes são cíclicos eles somem por um tempo e depois voltam. Às vezes, só muda a história que é contada, mas o modo de operação e o objetivo é o mesmo. Assim, fica mais fácil para que pessoas do convívio do idoso possam identificar quando se trata de um golpe, explicou Rhaiana.>
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