Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 14:53
- Atualizado há 5 anos
Com demanda abaixo do esperado, o BC (Banco Central) colocou em circulação 12,7% do total de cédulas de R$ 200 programadas para 2020. A autarquia adquiriu 57,3 milhões de unidades até segunda-feira (11). >
O montante equivale a R$ 11,4 bilhões. No lançamento da cédula, em agosto, o BC havia anunciado a fabricação de 450 milhões de notas estampadas com o lobo-guará (R$ 90 bilhões) no ano passado.>
Na ocasião, a autarquia dissera que gastaria R$ 113,8 milhões a mais do que o previsto no orçamento anual para a produção de novas cédulas. Seriam ainda impressas 170 milhões de cédulas de R$ 100.>
"Talvez a medida tenha sido acertada, mas houve erro no cálculo. Na pandemia, embora tenha crescido a demanda por papel-moeda, aumentou muito o uso de aplicativos e de transações digitais", diz Mauro Rochlin, economista da FGV.>
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No período, a autoridade monetária priorizou a emissão de cédulas de R$ 100. Desde agosto, mais de 150 milhões de unidades entraram em circulação.>
Além do orçamento extra, o BC também contava com recursos da programação normal para aquisição e distribuição de dinheiro. Em julho –mês anterior ao lançamento da nota–, a dotação para aquisição de numerário era de R$ 788 milhões, em janeiro era de R$ 635 milhões e em novembro R$ 816 milhões.>
A nova cédula, que tem o maior valor de face já produzido no Plano Real, foi criada, segundo a autoridade monetária, sob a justificativa de atender a maior demanda por papel-moeda com o pagamento do auxílio emergencial.>
Além disso, aumentou o entesouramento (quando o papel-moeda não circula na economia) no início pandemia do novo coronavírus. Historicamente, em momentos de crise, as pessoas preferem guardar dinheiro.>
Para Mariana Chaimovich, do ITCN (Instituto de Estudos Estratégicos de Tecnologia e Ciclo de Numerário), a autoridade monetária fez a projeção da demanda de acordo com a demanda observada no meio do ano.>
"Tínhamos uma demanda altíssima por dinheiro em espécie com o auxílio e entesouramento. Então, a estimativa foi calculada em cima desse cenário", diz a especialista.>
Chaimovich explica que a adequação de numerário de acordo com as necessidades da população é comum.>
"O BC sempre faz uma projeção para o ano de acordo com a demanda atual e ajusta a demanda ao longo do ano. Acredito que, como vivemos uma situação atípica, é melhor contratar a mais que ser pego de surpresa", afirma.>
O BC contrata a Casa da Moeda para a fabricação das cédulas, mas elas só são feitas se houver demanda.>
Diante da corrida aos caixas eletrônicos, a quantidade de papel-moeda em circulação cresceu mês a mês no ano passado e atingiu o maior valor da série histórica do BC (iniciada em 1991) em novembro, com R$ 359 bilhões, alta de 41% em 12 meses.>
A base monetária, que é a quantidade de dinheiro na economia, atingiu o maior patamar da série em julho, com R$ 423,6 bilhões.>
A base é formada pelo papel-moeda em circulação ou depositado nas instituições financeiras, além das reservas bancárias. Ela tem flutuação diária.>
Nos meses seguintes, o valor caiu, puxado pelas reservas bancárias, e chegou a R$ 402,3 bilhões em novembro.>
Embora o montante seja menor do que o observado no meio do ano, ainda está acima dos patamares observados antes da crise. No acumulado dos últimos 12 meses, o volume cresceu 35,6%.>
As reservas bancárias são recursos das instituições financeiras depositados na autoridade monetária.>
Com o fim do auxílio emergencial, no entanto, a expectativa é que a demanda por papel-moeda caia e o BC retire dinheiro do mercado. A última parcela do benefício foi paga em dezembro.>
"Se pegarmos o valor da nota de R$ 50 em 1994, quando foi lançada, e descontarmos a inflação, tem menos poder de compra que R$ 200 hoje. Isso pode ter motivado a escolha do valor de face da nova cédula. É importante salientar, no entanto, que o cenário de pagamentos mudou muito", diz Rochlin.>
O lançamento da nota do lobo-guará gerou polêmica por dificultar o troco na hora da compra e levantou discussão sobre facilidade de transporte de recursos em espécie, o que poderia favorecer crimes de lavagem de dinheiro.>
"As pessoas esquecem que nova cédula também facilita o transporte de valores entre instituições, facilita a logística", diz a especialista do ITCN.>
A nota de R$ 200 foi criada três meses antes da implementação do sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, o Pix. A ferramenta começou a funcionar em novembro e visa diminuir o us o de papel-moeda.>
"O Pix com certeza contribuiu para a diminuição da demanda por cédulas por facilitar pagamentos e transferências no meio digital", afirma Rochlin.>
"É preciso pensar políticas públicas para todas as parcelas da população e grande parte ainda é muito dependente do dinheiro em espécie, então não é controversa a criação da nota de R$ 200 mesmo com a chegada do Pix", diz Chaimovich.>
Em nota, o BC argumentou que o ritmo de uso da cédula de R$ 200 "vem evoluindo em linha com o esperado, e deverá seguir em emissões ao longo dos próximos exercícios".>
A autarquia disse também que não estabelece metas para emissão ou retirada de papel-moeda de circulação. O BC afirmou ainda atuar "de forma a prover a demanda do mercado por numerário".>
Não há definição da quantidade de cédulas de R$ 200 que serão emitidas neste ano. Segundo o BC, o contrato de fornecimento das notas está em fase de análise.>
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