Publicado em 17 de maio de 2018 às 15:23
O juiz Leonardo Mannarino Teixeira Lopes, que julga o caso da recuperação judicial da Viação Itapemirim, decidiu remeter o processo às varas de falência e recuperação judicial de São Paulo. Em decisão da última segunda-feira (14), o magistrado entendeu que a atividade econômica da empresa, assim como seus principais credores, se concentra em São Paulo e, assim, determinou que o caso seja analisado pela Justiça paulista. Por conta dessa decisão, pode haver mudança de interventor da empresa ou até com o processo voltando à estaca zero.>
A Viação Itapemirim, junto com outras empresas do grupo, está em recuperação judicial desde março de 2016. Fundada pelo empresário capixaba Camilo Cola, a empresa foi vendida para os atuais controladores, Sidnei Piva de Jesus e Camila Valdívia, em fevereiro de 2017. Em dezembro passado, o juiz Leonardo havia afastado os dois sócios, a pedido de Cola, mas, segundo o próprio magistrado, ambos continuam ocupando o controle da companhia e são os responsáveis por elaborar o plano de recuperação judicial da empresa.>
Na decisão de segunda-feira, Leonardo Mannarino alegou incompetência absoluta para julgar o caso. O processo só foi apreciado pelo juizado de Vitória porque dois meses antes do pedido de recuperação judicial, os antigos controladores da empresa transferiram a sede estatutária da companhia de São Paulo para a Capital capixaba.>
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Desde que assumi, fora-me repassado por todos os envolvidos/interessados que as atividades econômicas do Grupo Itapemirim se concentram em São Paulo, na capital e em Guarulhos, onde se situam a maior quantidade de linhas de ônibus (e também as mais rentáveis), o maior número de credores e suas principais garagens (...). Ante o exposto, reconheço a incompetência deste juízo e ordeno a remessa dos autos para as varas de falência e recuperação judicial da Comarca de São Paulo, escreve o juiz, em sua decisão.>
Na decisão, ele também argumenta que a locadora de veículos JSL, uma das empresas a quem a Itapemirim deve, informou que a maioria das linhas tem como destino São Paulo, sendo poucas que operam para a cidade de Vitória.>
O juiz ainda alega que o próprio administrador judicial da empresa, João Manuel de Sousa Saraiva, constatou que toda a administração da companhia está em São Paulo, o que que estaria dificultando a fiscalização ordinária das empresas em recuperação pelo auxiliar do juízo.>
A mudança de juízo, que foi um pleito dos credores, ainda cabe recurso das partes envolvidas no processo e depende do reconhecimento da competência do juizado de São Paulo. De acordo com o advogado Bruno Pereira Portugal, que atua na área de recuperação de empresas e falência, a tendência é que a única mudança, em um primeiro momento, seja a troca do administrador judicial da empresa.>
O administrador judicial é alguém de confiança do juiz, portanto, caso o juizado de São Paulo reconheça a competência, essa deverá ser a primeira mudança. Na hipótese de São Paulo não reconhecer a competência do processo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) é quem irá definir quem será o responsável pelo julgamento. Pela decisão do juiz daqui, tudo o que foi decidido anteriormente será mantido, mas pode ser revisto pelos novos responsáveis do caso, analisa.>
JUIZ DIZ QUE MUDANÇA DE SEDE FOI MANOBRA PROCESSUAL>
O juiz Leonardo Mannarino também destacou que o próprio Camilo Cola, um dos sócios da empresa em janeiro de 2016, afirmou que a transferência das sedes, dois meses antes de dar entrada no pedido de recuperação judicial, se deu para escolher o juízo responsável pelo procedimento.>
Até janeiro de 2016, a sede da empresa, dada a magnitude das operações, era no Terminal Rodoviário do Tietê, o maior da América Latina. Todavia, pouco antes do processamento da recuperação judicial, as empresas do grupo transferiram suas sedes para uma sala comercial em Jardim Camburi, em Vitória.>
As salas alugadas onde funcionaria a matriz das empresas recuperandas se trata de mera fachada, com o nítido intuito de criar um fato que justifique a competência deste juízo, argumenta o juiz.>
ASSEMBLEIA DE CREDORES SEGUE SEM DATA>
A assembleia de credores, um momento em que aqueles que têm a receber da empresa aprovam um plano para saneamento das dívidas, ainda não foi marcada. O evento chegou a ser agendado por duas vezes, mas foi desmarcado porque o plano inicial não previa a inclusão da Viação Kaissara, que havia sido, inicialmente, desmembrado do grupo antes da venda, algo que foi vetado pela Justiça.>
Segundo o juiz, mesmo com o afastamento dos sócios Sidnei Piva e Camila Valdívia, são eles os responsáveis por elaborar o plano.>
Quando há alguma objeção ao plano de recuperação judicial, é designado uma assembleia dos credores para aprovar o plano. Se não aprovarem, o caminho é a falência, explica o advogado Bruno Pereira Portugal.>
SÓCIOS>
Atual controlador do grupo, Sidnei Piva de Jesus considerou correta a decisão de remeter o processo à Justiça de São Paulo. Para ele, a família Cola agiu de forma "premeditada e fraudulenta" na mudança da sede da empresa para Vitória dois meses antes de dar entrada no pedido de recuperação judicial para que o processo ficasse no Estado, apesar do grupo ser controlado em São Paulo. Agora ele acredita que o processo seguirá com mais imparcialidade.>
"Com o processo vindo para São Paulo teremos um juiz imparcial, que permitirá que avancemos com a recuperação. Até agora não tivemos a oportunidade de controlar a empresa em função dessas interferências externas", avalia Sidnei, que ressaltou a desconfiança do atual administrador judicial da empresa. "Um juízo sério certamente vai destituir esse administrador, que ao nosso ver está contaminado", afirma.>
A expectativa de Sidnei é que o processo chegue à Justiça Paulista em torno de 15 dias. Segundo ele, assim que isso acontecer a empresa pedirá para que seja marcada a assembleia de credores. "O processo vai voltar à estaca zero, por isso faremos esse pedido e acreditamos que não tendo interferências em cima disso a recuperação voltará a ser normal".>
Já o advogado da família Cola, Arthur Migliari Jr, afirmou que os antigos donos receberam a decisão com tranquilidade. Ele disse que a família confia na Justiça e que está estudando providências de responsabilização por tirar Camilo Cola do comando da empresa.
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O administrador judicial do grupo informou que não comenta a decisão e que se manifesta diante da Justiça.>
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