Publicado em 11 de março de 2022 às 22:10
Os contratos de juros de referência para empréstimos bancários e financiamentos ao consumidor brasileiro voltaram a subir nesta sexta-feira (11), dia em que um mega-aumento dos combustíveis da Petrobras entrou em vigor e, além disso, houve a divulgação da maior inflação mensal para fevereiro desde 2015.>
Com dois avanços diários consecutivos, a taxa DI (Depósitos Interbancários) de curto prazo, para janeiro de 2023, encerrou o dia em 13,2% ao ano. Uma alta de 0,29 ponto percentual em relação aos 12,9% do fechamento da última quarta-feira (9), antes do anúncio da alta dos preços de gasolina, diesel e gás.>
Contratos DI são negociados exclusivamente entre bancos, mas servem de referência para financiamentos e empréstimos em geral. A alta dos DIs revela que o mercado está esperando um aumento mais agressivo da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central. Tornar o crédito mais caro é uma das ferramentas que a autoridade monetária possui para tentar frear a inflação.>
A taxa básica de juros do Brasil está em 10,75% ao ano, uma das mais elevadas do mundo em relação à expectativa de inflação anual do país, que é de 5,65%. Analistas avaliam que a Selic subirá mais e encerrará 2022 acima de 12%.>
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"O IPCA [inflação oficial] veio pior do que o esperado", comentou Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos. "Com esses dados, a expectativa de aumento de juros pelo Copom agora é maior", disse. Ele também reforçou que o impacto do aumento da gasolina só será refletido na inflação oficial a partir do próximo mês.>
Enquanto investidores interpretavam os sinais internos da economia e a evolução dos efeitos da guerra da Ucrânia nas finanças globais nas primeiras horas desta sexta, Bolsa e câmbio do Brasil chegaram a oscilar entre altas e baixas.>
À tarde, o viés pessimista se consolidou. O Ibovespa, índice de referência do mercado de ações do país, mergulhou 1,72%, a 111.713 pontos. O indicador caiu 2,41%. Essa é a maior queda semanal desde o recuo de 3,1% da semana encerrada em 19 de novembro do ano passado. No acumulado de 2022, a Bolsa sustenta uma alta de 6,57%.>
Setores como construção civil e de varejo, tradicionalmente prejudicados pela alta dos juros, ajudaram a puxar a Bolsa para baixo. O destaque negativo foi a construtora MRV, que afundou 11,89%.>
O dólar subiu 0,71%, cotado a R$ 5,0530. Na semana, a moeda recuou 0,49%. Juros altos tendem a atrair investidores estrangeiros para o país e isso, em tese, deveria gerar uma tendência de baixa da moeda americana devido à entrada de dólares no país. Mas o resultado nesta sexta foi diferente.>
A crise geopolítica na Europa e a inflação nos Estados Unidos direcionaram a alta do câmbio nesta sessão, segundo Fernanda Mansano, economista-chefe da plataforma de investidores TC. "O dólar hoje foi influenciado por questões internacionais", afirmou.>
No 16º dia da guerra da Ucrânia, tropas russas expandem ataques no entorno da capital ucraniana Kiev. O agravamento do conflito faz crescer preocupações sobre as consequências para a economia mundial.>
É nos ativos ligados ao dólar que investidores procuram proteção em períodos de incerteza. Nesta sexta, a divisa americana se valorizou em relação a 19 entre 24 moedas de países emergentes presentes em uma lista acompanhada pela agência Bloomberg. O real foi a segunda divisa com pior retorno à vista frente à moeda americana.>
Sem perspectivas de solução para o conflito, a expectativa de severa redução da oferta de petróleo russo seguiu pressionando a alta da commodity no mercado internacional. O barril do Brent subia 2,76%, a US$ 112,35 (R$ 564,54) no início da noite.>
As ações da Petrobras não acompanhavam a valorização da commodity. Pelo contrário. A petroleira controlada pelo governo perdeu 3,59%, devolvendo com troco todo o ganho de 3,5% da véspera que havia sido obtido com o anúncio da alta dos combustíveis.>
Petróleo e derivados estão no centro da pressão inflacionária global. Nos Estados Unidos, a alta nos preços ao consumidor acumulada em 12 meses alcançou 7,9% em fevereiro, o pior resultado para o mês em 40 anos.>
Analistas da Genial Investimentos avaliam que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) iniciará o ciclo de aumentos da taxa básica de juros nos Estados Unidos na próxima semana, com uma elevação de 0,25 ponto percentual para encerrar 2022 com juros de 2,5% ao ano. Hoje a taxa americana está praticamente zerada.>
Elevações nos juros podem atrair investidores para os títulos do Tesouro americano. Isso costuma reduzir a disponibilidade de capital para aplicações em ações de empresas em todo o mundo. Além disso, o crédito mais caro aumenta o custo operacional de empresas endividadas.>
No mercado americano de ações, o índice de referência S&P 500 recuou 1,30%. O indicador Dow Jones, que concentra empresas de menor valor e menos dependentes de crédito, cedeu 0,69%. Já a Nasdaq, bolsa que reúne companhias que precisam de crédito barato para crescer, mergulhou 2,18%.>
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