Publicado em 29 de outubro de 2024 às 18:43
SÃO PAULO - O dólar fechou em forte alta de 0,95% nesta terça-feira (29), cotado a R$ 5,762, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que não há previsão para fechar conjunto de medidas de contenção de gastos, que havia sido prometido para depois do segundo turno das eleições.>
Essa é a maior cotação para a moeda americana desde 29 de março de 2021, quando fechou em R$ 5,767. Na máxima da sessão desta terça (29), chegou a R$ 5,766. Já a Bolsa fechou em queda de 0,31%, aos 130.793 pontos, segundo dados preliminares.>
Em entrevista a jornalistas, Haddad disse que as propostas estão sob análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que cabe ao presidente definir quando o conjunto será fechado.>
As declarações ocorrem um dia depois de o ministro se reunir com Lula para tratar sobre o assunto. "Ele está pedindo informações e estamos fornecendo as informações que ele está pedindo", disse a jornalistas.>
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"Estamos avançando na conversa. Estamos falando muito com o Planejamento também. [...] Estamos fazendo as contas para fazer algo ajustadinho.">
Segundo Haddad, há expectativa de novas reuniões com o presidente ainda nesta semana, incluindo um encontro nesta quarta-feira (30). O ministro afirmou que, por enquanto, não há vetos de Lula às medidas apresentadas.>
A pretensão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro.>
Na ocasião, Tebet afirmou que potenciais medidas já aprovadas pelo crivo da equipe econômica seriam apresentadas a Lula logo após o segundo turno das eleições municipais, realizado neste domingo (27).>
O mercado, em resposta, passou a alimentar uma expectativa crescente por medidas concretas que diminuíssem o desequilíbrio das contas públicas. Mas a falta de previsão reforça "demora do governo em adotar medidas fiscais mais responsáveis", afirma Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.>
"O perfil fiscal expansionista do governo não agrada ao mercado, especialmente no que se refere ao cumprimento das metas de inflação.">
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, o fato de o pacote fiscal ainda precisar da aprovação de Lula pode "dificultar o processo e afastar a concretização das medidas".>
"O surgimento desses rumores foi o que movimentou os preços no início da tarde, levando o dólar a ultrapassar os R$ 5,76. Esse cenário gerou um descolamento ainda maior do real em relação a outras moedas de países emergentes", afirma.>
A moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou nesta sessão, em comparação às principais divisas do mundo.>
A trajetória das contas públicas ainda é um dos focos de pressão inflacionária. O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, tem reforçado que é necessário um choque fiscal positivo para que a taxa de juros básica do país, a Selic, possa cair.>
O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC irá se reunir na semana que vem, entre os dias 5 e 6 de novembro, para decidir sobre o patamar da taxa. A expectativa do mercado é de um movimento mais agressivo por parte do comitê: uma alta de 0,50 ponto percentual na Selic.>
O colegiado reiniciou o ciclo de altas na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e levou os juros ao patamar de 10,75% ao ano. Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.>
Considerado uma "prévia" da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções de 0,51%, e levou o acumulado de 12 meses a acelerar para 4,47%. A taxa era de 4,12% no mês anterior.>
A meta do Copom é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Ou seja, na leitura atual, o IPCA-15 está bem próximo ao teto da meta, de 4,50%.>
No Boletim Focus desta segunda, analistas consultados pelo BC ainda subiram pela quarta semana consecutiva as projeções para o IPCA neste ano, com a expectativa agora ultrapassando a banda máxima da meta, a 4,55%.>
O dólar ainda se fortaleceu por conta do cenário dos Estados Unidos. Lá, o relatório de emprego Jolts mostrou que as vagas em aberto caíram em 418 mil, para 7,443 milhões no último dia de setembro – o nível mais baixo desde janeiro de 2021.>
O resultado sinaliza uma retração na demanda por mão de obra, reforçando a visão de que o mercado de trabalho está perdendo força. Na política monetária, a leitura é que a a desaceleração "pode justificar a continuidade dos cortes de juros pelo Fed [Federal Reserve, o banco central americano] para apoiar o crescimento", diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.>
O Fed decide sobre a taxa americana também na semana que vem, nos mesmos dias que o Copom. Na ferramenta CME Fed Watch, um corte de 0,25 ponto nos juros marca 99% de probabilidade, um raro consenso entre os operadores.>
A expectativa em torno das eleições presidenciais americanas também tem pautado os mercados globais. Na disputa entre o ex-presidente Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, o mercado aponta uma maior probabilidade de vitória para Trump, com chances de 66% de retorno à Casa Branca, segundo a plataforma Polymarket.>
As promessas econômicas de Trump incluem aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos – medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed a manter juros elevados por mais tempo.>
"O mercado espera uma vitória de Trump, que, por diversos fatores, tende a fortalecer o dólar durante seu mandato e a manter a inflação e os juros elevados por mais tempo. Kamala, por outro lado, sem o apoio do Senado, provavelmente enfrentaria limitações para implementar mudanças significativas, o que manteria o dólar em um patamar um pouco mais baixo em relação a outras economias", afirma Keone Kojin, economista da Valor Investimentos.>
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