Publicado em 6 de abril de 2021 às 15:03
- Atualizado há 5 anos
Um participante do Big Brother Brasil mobilizou uma torcida inusitada neste ano: os economistas. Doutorando em economia na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Gilberto Nogueira -apelidado de "Gil do Vigor"- ganhou apoio, por exemplo, de Felipe Salto, diretor-executivo da IFI (Instituição Fiscal Independente). Pedro Menezes, fundador do Mercado Popular, fez uma thread defendendo que o brother está aplicando Teoria dos Jogos como estratégia.>
Gil está no paredão desta semana, junto com Rodolffo e Caio. O eliminado será anunciado no programa desta terça (5).>
Quando não está debatendo votos e estratégias com os outros competidores, Gil fala de economia. No fim de fevereiro, por exemplo, ele explicou a relação entre inflação e desemprego em uma roda de conversa. >
Além de falar sobre inflação, Gil já explicou no programa sobre a dinâmica das fake news na política e comentou sobre como usa a Teoria dos Jogos em sua pesquisa.>
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"A matemática me pulsa nas veias. Minha área de pesquisa é a parte teórica, eu crio modelos matemáticos. É um sistema de equações com significados, por exemplo, a efetividade da ação da polícia, a violência que o traficante utiliza para tentar impedir que a polícia tenha sucesso na repressão", disse aos brothers.>
"Pego as variáveis e começo a dizer qual é o preço, por exemplo, que um traficante vai cobrar pela droga. Faço as contas, chego em um preço e vejo o nível de violência escolhido para continuar nesse mercado", afirma. "Como o traficante responde quando o estado decide aumentar o investimento em repressão? É Teoria dos jogos que se chama isso".>
A explicação foi elogiada pela economista Laura Carvalho, professora da USP (Universidade de São Paulo). "Esse vídeo mostra o desafio e a delícia que é comunicar teoria econômica pra não economistas. Pra mim foi um caminho sem volta. Arrasou, Gil!", escreveu.>
Se depender da expectativa do professor Rafael Costa Lima, que o orienta na UFPE desde o mestrado, ele seguirá a carreira acadêmica internacional em vez de se tornar celebridade.>
"Quando ele entrou no programa, fiquei com receio de ele abandonar a vida acadêmica. Na academia, a gente tem poucas pessoas com uma trajetória como a dele, de origem realmente humilde, negra, com as oportunidades que ele tem. Isso tem importância para quem está ingressando na profissão e para a própria profissão é importante ter gente de backgrounds diferentes", afirma.>
Costa Lima define Gil como um economista entusiasmado e ambicioso com a pesquisa acadêmica. Ele diz que antes de ingressar no programa, Gil havia prestado concurso para diversas universidades internacionais e deixou uma lista com suas preferências.>
"Ele tinha esse sonho de fazer um PhD. Antes de entrar no programa, ele deixou uma lista de prioridades desse processo e a UC Davis era a que ele mais queria. No exterior, se ele quiser, poderá mudar o projeto", disse.>
Gil foi aprovado em duas universidades nos Estados Unidos --um na UC Davis, no estado americano da Califórnia, e outro na Southern Methodist University, em Dallas. A escolha sobre onde vai estudar deve ser feita quando ele deixar a casa.>
Costa Lima conheceu Gil quando foi trocar seu plano de saúde na reitoria. Ele era estudante da graduação e trabalhava no setor administrativo.>
Embora acredite que as definições de pensamento ortodoxo e desenvolvimentista estejam cada vez mais em desuso nas discussões da academia fora do Brasil, Costa Lima define a pesquisa de Gil como ortodoxa.>
"O trabalho de Gil sobre o mercado de drogas na academia é ortodoxo em relação ao método de pesquisa. Trabalhamos esse tema no mestrado e, agora, no doutorado, há uma tentativa de publicar e dialogar com o mainstream da academia", afirma.>
O orientador explica que na pesquisa o mercado de drogas é tratado como uma empresa. "No Brasil, uma parcela significativa do processo de violência está ligado às drogas. A gente precisa entender melhor como essa empresa ilegal funciona para lidar melhor com ela. O objetivo é propor soluções", afirma o orientador. "É um trabalho em andamento. Os modelos tradicionais da academia não são amplos o suficiente para lidar com especificidades desse mercado, que é ilegal. Também abordamos o uso da violência como parte do negócio, o que não existe em outras empresas".>
Natural de Jaboatão dos Guararapes e criado em Paulista, municípios de Pernambuco, Gil pesquisou durante a graduação, também na UFPE, o perfil de renda nos municípios de Pernambuco entre 1999 e 2012.>
No mestrado, ele modelou a relação entre a violência da repressão policial às consequências negativas para a sociedade geradas pelos mercados de drogas.>
Na literatura econômica, modelagem é o desenvolvimento de uma representação abstrata em uma situação real. O trabalho aponta as diferenças da efetividade na repressão da polícia tanto em relação ao mercado varejista, quando há repressão ao traficante, quanto ao atacadista, quando há combate ao crime organizado.>
No vídeo de apresentação do programa de TV, Gil conta ao portal Gshow que "vem de uma família humilde" e sempre estudou em escolas públicas.>
"É engraçado que sou acadêmico, faço doutorado e tudo, mas eu sou do povão", disse.>
Por causa da pesquisa sobre drogas, Gil foi aprovado, em 2019, para participar do Fórum Ridge (Research Institute for Development, Growth and Economics), Instituto de Pesquisa para Desenvolvimento, Crescimento e Economia, em tradução livre, na cidade de Medellín, na Colômbia.>
No currículo do participante na plataforma Lattes constam ainda menções honrosas em Olimpíadas de Matemática, realizadas em 2005 e 2007, cursos na área estatística, além de monitorias em microeconomia.>
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