Publicado em 23 de agosto de 2018 às 00:06
O representante da ex-administradora judicial da Viação Itapemirim, João Manuel de Sousa Saraiva, entrou com ações de tutela cautelar incidental antecipada contra os atuais sócios da empresa, Camila Valdívia e Sidnei Piva, e contra os ex-donos, Camilo Cola e Camilo Cola Filho, pedindo que a Justiça mantenha todos eles longe da direção da companhia. Saraiva argumenta que tanto os atuais sócios quanto os anteriores apresentaram indícios de fraude e de má gestão.>
A Viação Itapemirim entrou em recuperação judicial, deferida em março de 2016, junto com outras empresas que pertenciam à família Cola. A empresa alegou ter R$ 336,49 milhões em dívidas trabalhistas e com fornecedores, além de um passivo tributário de cerca de R$ 1 bilhão. A companhia foi vendida em novembro a Camila e Sidnei.>
Em 14 de maio deste ano, o juiz Leonardo Mannarino remeteu o processo às varas de falência e recuperação judicial de São Paulo após alegar incompetência do juízo de Vitória.>
Em julho, o juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, do Tribunal paulista, decidiu reconduzir os sócios, que haviam sido afastados em dezembro, à gestão das empresas. Na mesma decisão, o juiz afirmou que como João Saraiva não é cadastrado na comarca paulista, a empresa EXM Partners deveria cuidar da administração judicial, que é a fiscalização do poder judiciário sobre as empresas que estão em recuperação.>
>
ATUAIS SÓCIOS>
Entre os problemas encontrados na gestão dos atuais donos Camila e Sidnei, afirma Saraiva, estão: um empréstimo de US$ 1,5 milhão com a Bombardier, para compra de 15 aviões, enquanto havia atrasos de salários e dificuldades financeiras para compra de combustível e peças; pagamento de altos valores à empresa de tecnologia Delta X, de propriedade de Sidnei e Camila, sem comprovação; utilização da receita da Itapemirim para comprar três carros da marca Mercedes-Benz, no valor de R$ 1,5 milhão.>
Saraiva observa que, enquanto esteve à frente da gestão da empresa, encontrou atrasos em pagamentos de salários, vale-alimentação, férias, plano de saúde, alugueis e fornecedores.>
Ele também afirma que foi repassado R$ 5,83 milhões à Passaredo, empresa de transporte aéreo também em recuperação judicial. Em julho do ano passado, a Itapemirim chegou a anunciar para o mercado a compra da aérea, porém, dois meses depois, o negócio foi desfeito. Mesmo assim, esse valor, segundo Saraiva, foi pago.>
Por fim, o ex-administrador destaca que foi pago R$ 750 mil a duas empresas importadoras de São Paulo e que na contabilidade foi encontrado um repasse de R$ 666.666,66 ao filho de Milton Rodrigues Junior, que já foi sócio de Camila e Sidnei e atuou como diretor de operações da Itapemirim em 2017. O administrador judicial ainda argumenta que há veículos da frota desaparecidos sem que haja registro de venda. Além disso, diz ele, foram repassadas outras quantias a empresas de propriedade dos atuais sócios da Itapemirim, pendências que somam cerca de R$ 31 milhões.>
Nos autos, Saraiva mostra relatórios de contabilidade, notas fiscais e documentos que, segundo ele, provam suas acusações.>
FAMÍLIA COLA>
Já contra o fundador da Itapemirim, Camilo Cola, e o ex-presidente da empresa, Camilo Cola Filho, João Saraiva alerta que houve um sangramento sistemático e proposital da empresa mesmo após o deferimento da recuperação judicial.>
Segundo ele, a transferência das linhas da Viação Itapemirim para a Viação Caiçara constituiu indisfarçável fraude contra os credores e contra a lei de recuperação judicial e de falências. Ele ainda afirma que foram usados laranjas na constituição societária da Caiçara, através de empregados da Itapemirim. Esse fato foi narrado em uma decisão judicial de dezembro de 2016, quando a Caiçara foi incluída na recuperação judicial da Itapemirim.>
Além disso, Saraiva lembrou que encontrou, em março de 2017, uma sala trancada na sede da empresa, em Cachoeiro de Itapemirim, onde havia máquina para emissão de bilhetagem que remetiam a possível pagamento em caixa 2, segundo ele. Na sala, conta ele, ainda foram encontrados remessas de dinheiro ao exterior e recibos, inclusive a figuras políticas do Estado.>
O Gaeco, do Ministério Público do Estado, se manifestou no processo informando que havia robustos indícios de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, já que foram encontrados 22 contratos de câmbio, entre março e dezembro de 2016, de Camilo Cola Filho com o Banco Luso Brasileiro, no valor total de US$ 686,2 mil.>
Por fim, Saraiva sustenta que em relatório contábil foi localizado valor mutuado (uma espécie de empréstimo) de R$ 305,3 milhões entre as pessoas físicas dos ex-sócios e as empresas em recuperação.>
Para demonstrar má gestão, Saraiva ainda afirma que funcionários já faziam, em 2015, greve por falta de pagamento de salários e que a Itapemirim pagava R$ 1,5 milhão por mês a um escritório de assessoria contábil que só deixou às empresas em recuperação vultosas multas.>
OUTRO LADO: SÓCIOS REFUTAM ACUSAÇÕES>
Em contraminuta no processo, o advogado de Camila e Sidnei, Elias Mubarak Junior, afirma que a gestão de Saraiva não foi proba e diligente e refuta ponto a ponto as acusações. Segundo ele, os serviços da empresa Delta X foram prestados e têm notas fiscais, e as dificuldades financeiras da empresa decorrem de anos de má gestão dos sócios anteriores.>
Ainda explica, com documentos, que os Mercedes foram comprados, em sua maior parte, com recursos da Viação I.S.A e Prodelta Propaganda, e não da Itapemirim. O advogado ainda detalha que a negociação com importadoras ocorreu para que a Itapemirim comprasse ônibus da Volvo. Entendemos que a cautelar deve ser extinta uma vez que o juízo de São Paulo já determinou a recondução dos controladores e a substituição do Administrador Judicial, disse.>
OUTRO LADO: FAMÍLIA AGUARDA NOVO ADMINISTRADOR>
O advogado da família Cola, Arthur Migliari Júnior, destacou que a família vai aguardar o que Eduardo Scarpellini, novo administrador judicial, tem a dizer. A família Cola espera pacientemente voltar para a empresa, auditar tudo o que foi feito - mesmo porque temos informações seguras que vamos ter muitas coisas para se apurar -, então, não temos pressa. O advogado destacou que vai buscar, na Justiça, todas as responsabilidades de todos que agiram contra a família Cola.>
Ele ainda lembrou que Saraiva não é mais administrador da empresa até porque não tem qualificação para isso. Quem tem qualificação, e que entende do assunto, é o juízo de São Paulo, que nomeou o administrador judicial para fazer um levantamento de tudo o que é feito, uma empresa altamente especializada, que é a EXM.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta